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O governador
Por Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
20/05/2018 | 07:00
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DGABC


De figura política desconhecida do grande público a governador de São Paulo desde 6 de abril. Márcio França, pré-candidato à reeleição, herdou a cadeira do Palácio dos Bandeirantes com a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB), que deixou o posto para entrar na disputa à Presidência da República, em outubro. Ele acumula quase 30 anos de cargos eletivos em sequência. Pesquisas de intenção de voto indicam, no entanto, que boa parte do eleitorado paulista ainda desconhece quem comanda o Estado mais rico do País, com 44,8 milhões de habitantes. O Diário buscou pessoas próximas para traçar um perfil do socialista, de 54 anos.

Cláudio Figo, 74 anos, é um dos quadros de maior confiança de França. Exerce o cargo de chefe de gabinete do socialista em praticamente todos os mandatos do político – ficou fora apenas da primeira legislatura de deputado federal, em Brasília. Classificou o aliado como obstinado. “Ele é um cara diferente, muito determinado. Sempre falou que seria governador, desde a época de faculdade, quando era somente um líder estudantil. Tem a política como meta de vida, está no sangue”, avaliou o amigo, com quem mantém ligação há 35 anos.

Era amante de surf, e jogador de futebol amador do Santos na juventude. França formou-se em Direito na Universidade Católica de Santos. Foi vereador de São Vicente, no Litoral de São Paulo, por dois mandatos já pelo PSB, entre 1989 e 1996. Neste mesmo ano, elegeu-se prefeito da cidade. É tido como habilidoso politicamente. Em 2000, reeleito ao cargo com 93,1% dos votos. No pleito subsequente, em 2004, emplacou o sucessor, seu secretário da Fazenda Tércio Garcia (PSB) – morto em 2016 –, com 84% dos votos. Em 2006 e 2010, o socialista foi eleito e reeleito deputado federal. Na segunda legislatura, em 2011, licenciou-se para ocupar o cargo de secretário estadual de Turismo a convite de Alckmin, recém-eleito.

Alckmin teve, na ocasião, Guilherme Afif Domingos como vice-governador. O número dois, por outro lado, tencionou a relação ao aceitar convite da então presidente Dilma Rousseff (PT) para ser ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. O estremecimento abriu lacuna para um novo vice em 2014. Com 14 legendas na coligação, o tucano escolheu França para compor a chapa de reeleição, que sagrou-se vitoriosa no primeiro turno. E indicou o vice para exercer o posto de titular da Pasta de Desenvolvimento Econômico.

França enfrenta cenário inusitado em seu plano para renovar o mandato: disputa a cadeira máxima de São Paulo pela primeira vez em 24 anos sem ter o PSDB no comando dos Bandeirantes – o tucanato estava na chefia do Estado desde 1995, com Mário Covas, morto em 2001. Diante de situação atípica, ele tem o tucano e ex-prefeito paulistano João Doria como principal adversário. Na sondagem do Datafolha, divulgada na segunda quinzena de abril, o socialista aparece com 8%, atrás de Doria, que registrou 29%, e Paulo Skaf (MDB), com 20%. França diz ter as bênçãos de Alckmin para a concorrência – o político aglutina 15 siglas no arco de alianças.

Braço direito de França desde quando o governador comandava São Vicente, Cláudio Valverde alegou que “Alckmin escolheu seu sucessor lá em 2014”. “O ex-governador sabia que ia ficar três anos no cargo <CF51>(para depois pleitear o Planalto). A definição há quatro anos pelo Márcio não foi por acaso. Ele confiou o Estado em suas mãos”, disse, ao acrescentar que o tucano decidiu pelo nome do companheiro de chapa pela capacidade administrativa e de promover alianças. “O Márcio é um exímio articulador político”, emendou Valverde.

Em 2014, o grupo da ex-presidenciável Marina Silva (Rede, então no PSB) forçou a barra para impedir o acordo como o tucanato. “Eles fizeram muita força, a Marina era contrária. A nossa luta foi árdua”, afirmou Wilson Pedro da Silva, primeiro-secretário do PSB na esfera paulista e morador de Santo André, que é anfitrião de França em suas visitas ao Grande ABC. Marina falou que não subiria no palanque dividido com o tucanato em São Paulo. França não recuou do acerto político com Alckmin e preferiu usar à época uma imagem de Eduardo Campos – morto durante o páreo –, e não de Marina na sua campanha. “O Márcio convenceu o Eduardo que esse era o melhor caminho. Ele tem essa facilidade, de fazer o diálogo, tem cabeça de estrategista, é franco”, pontuou Wilson.

Adjunto de França no período em que o então vice-governador geriu a Pasta de Desenvolvimento Econômico – e amigo há 26 anos –, Valverde sublinhou que o foco do correligionário “é impressionante”, sem perder a simplicidade. “Eu o conheci quando fui vereador em São Vicente, e ele, prefeito. É um workaholic, dorme pouco, aquela pessoa que não tergiversa na conversa, que não tem frescura. Eu pago R$ 80 para cortar o cabelo. Se duvidar, ele ainda gasta R$ 15. Vai no boteco, toma jurubeba e pega o taco para jogar sinuca”, comparou, citando que França é autêntico. “Não faz tipo. Se tentarem dar buchada de bode numa espécie de pegadinha, como fizeram (em 1994, durante a campanha presidencial) com o Fernando Henrique (Cardoso, PSDB), ele come com farinha e pimenta.”

Aliás, a paixão pela culinária foi bastante destacada como ponto alto da trajetória de França. “Ele tem duas paixões: comer e política”, sentenciou Valverde. Pouco tempo atrás, o socialista, de 1,73 metros, tinha 120 quilos. Perdeu cerca de 40 deles no ano passado, após fazer uma cirurgia de redução do estômago. Um dos motivos da intervenção se deu por questões de saúde, porém a futura campanha eleitoral também entrou neste planejamento. “O Márcio comia uma pizza inteira sozinho. Chegou a ter pico de (taxa de) 600 de diabetes. Foi para o sacrifício. Teve o aspecto de saúde envolvido, eram nove sacos de arroz (a mais) que ele carregava. Mas não era só isso. Pesquisas qualitativas apontavam para um estilo bonachão (quando acima do peso). E ele é determinado”, disse Valverde.

O único revés eleitoral de França não foi diretamente com ele na chapa. Aconteceu com o filho, Caio França – hoje deputado estadual –, que se candidatou à prefeitura de São Vicente em 2012. Ficou em segundo lugar, mesmo com 21 partidos na coligação. “Foi um soco no fígado. Ninguém esperava. O pneu furou no meio do caminho. Abalou muito, ficou chateado demais, mas faz parte do jogo”, ponderou Valverde.


VIDA PARTIDÁRIA

No começo dos anos 2000, França substituiu o ex-prefeito de Diadema Gilson Menezes no comando paulista do PSB – atualmente é presidente licenciado do PSB no Estado e secretário nacional. Coordenou duas campanhas presidenciais da sigla, sendo que, na primeira, trabalhou o nome do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho, em 2002. Na última, ao lado de Eduardo Campos, de Pernambuco, a empreitada foi interrompida pela morte do candidato, num acidente aéreo em Santos, cidade natal de França.

“Deixamos de ser linha auxiliar do PT (a partir da mudança na direção). Antes, não havia crescimento. O Márcio é homem de palavra, e que não deixa os companheiros no sereno. Ele tem até uma frase que diz: ‘Não troco amigo antigo por amigo novo’”, lembrou Wilson.




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