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A grande muralha, enfim, é vencida
Ademir Medici
20/08/2017 | 07:11
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 Domar a grande muralha no limite entre o Litoral e o planalto foi um desafio de séculos. E a usina da Light na Serra do Mar, com suas escavações, tecnologia, barragens e obras de arte, sintetiza trabalho que envolveu alguns milhares de personagens que vão dos primitivos indígenas estabelecidos desde antes da descoberta do Brasil até os técnicos modernistas e anônimos que levaram adiante os projetos e sonhos de ilustres como Asa White Kenney Billings e Henry Borden.
A Grande Muralha – título do romance de 1954 de Diná Silveira de Queirós, que virou até novela da Globo – deu-se por vencida, depois de muitas etapas.
Os pioneiros exploradores venceram a Serra do Mar arrastando-se, sustentando-se em raízes e troncos de árvores, até a formação dos primeiros caminhos. A complexidade das obras de arte para gerar energia elétrica em Cubatão, então bairro de Santos, tem início em 1925.
Foi naquele ano em que se iniciou a construção da Usina Henry Borden pela extinta Light. A empresa de capital canadense vinha fornecendo energia elétrica a São Paulo desde 1900. E era cobrada: crescia a Capital, a eletricidade falhava para tocar a locomotiva ávida por empreendimentos industriais.
Uma grande seca se abateu em 1924. Faltou água. Não era mais possível adiar a construção de uma hidrelétrica, tarefa entregue ao engenheiro norte-americano Billings. Uma equipe foi formada. Alguns nomes daqueles técnicos morreram por aqui. Há jazigos no Cemitério da Vila Euclides, em São Bernardo, com os seus corpos e legendas em inglês. Mas o certo é que a grande sacada foi fazer a reversão de rios.
O Rio Grande, que nasce em Paranapiacaba e atravessa todo o Grande ABC – as tais áreas chamadas de mananciais –, teve seu curso invertido. O Pinheiros também. O Tietê igualmente. Toda bacia hídrica dos rios Grande, Pequeno e das Pedras, e seus afluentes formam o grande lago, que começa a ganhar forma em 1927.
E dá-lhe: estações elevatórias, canais, túneis e tubulações adutoras. E tudo ocorre muito rapidamente. A Usina de Cubatão, ou Usina da Light, e, desde 1964, Usina Henry Borden, é inaugurada em 10 de outubro de 1926.
Entre as fotos do complexo da Usina da Light feitas em 1957 pelo repórter-fotográfico Beltran Asêncio, que foi colaborador do Diário, até as imagens deslumbrantes captadas pelo repórter-fotográfico André Henriques, do Diário, 60 anos depois, observa-se que a engenharia de Billings não afetou, de morte, a exuberante vegetação da Serra do Mar. E o projeto quase centenário que mexeu literalmente com a natureza no quintal do Grande ABC, e que foi chamado de um dos maiores do mundo em sua época, hoje aí está, testemunha ocular de um feito que domou a grande muralha.




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