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Atentado da ditadura militar prescreve sem puniçao
Do Diário do Grande ABC
27/08/2000 | 19:48
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Um dos atentados mais ruidosos que marcou a fase de transiçao do regime militar para a democracia, a carta-bomba que matou em 27 de agosto de 1980 a secretária Lyda Monteiro da Silva na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio, prescreveu, neste domingo, sem que ninguém fosse condenado pela explosao. ``Nao vamos aceitar este resultado. A Ordem nao vai desistir de condenar os verdadeiros responsáveis', reagiu o presidente da OAB, Reginaldo de Castro.

A impunidade em torno da explosao na OAB provocou indignaçao até mesmo em um dos principais acusados pelo crime, o agrônomo Ronald James Watters, militante de grupos de extrema direita nos anos 70. ``Essa justiça é uma esculhambaçao. Fui totalmente enxovalhado pela mídia e agora o caso é encerrado sem nenhum resultado', afirmou ele, pelo telefone, de Sao Paulo.

Pelas regras do Código Penal, um crime comum, como ficou caracterizado o atentado, prescreve em 20 anos, ou seja, as investigaçoes encerram-se independentemente do resultado. O presidente da OAB, no entanto, interpreta a explosao no edifício-sede da OAB como um ato de terrorismo. ``Isso nao foi um crime comum e, portanto, deveria ser imprescritível', sustenta.

Mesmo assim, o presidente da OAB admite que nao há brecha legal para mudar a caracterizaçao do crime. Ou seja, ninguém será responsabilizado pela morte de Lyda. ``De qualquer forma, sempre haverá a condenaçao moral. E estaremos prontos a fazê-lo', afirmou ele.

Em setembro do ano passado, o caso da carta-bomba foi reaberto pela Procuradoria da República em Sao Paulo. As investigaçoes ficaram sob a responsabilidade do procurador Maurício Manso. Watters diz que se colocou à disposiçao do procurador. ``Liguei duas vezes para ele colocando-me à disposiçao para depor. Ele jamais me ouviu', afirmou ele, indignado.

A carta-bomba que explodiu na sede da OAB teria sido mais um de uma série de atentados, que incluíam a destruiçao de bancas de jornais e o caso Riocentro, que marcou o governo do general Joao Baptista Figueiredo. Sao apontados como açoes de grupos conservadores de direita que queriam retardar a abertura política em marcha desde o governo de Ernesto Geisel.

Suspeito de ser o autor do atentado, Watters ficou preso por oito meses até ser libertado por falta de provas. ``Eu nao fiz nada disso', diz ele. Acusado sem provas de várias açoes, o agrônomo já admitiu, no ano passado, que participava de grupos de conspiradores de direita que tinham como objetivo ``combater o comunismo', mas afirmou nunca ter participado de atentados.

A explosao que matou a mais antiga secretária da OAB foi alvo de várias investigaçoes. A carta era endereçada ao entao presidente da OAB, Eduardo Seabra Fagundes. Mas o artefato detonou quando Lyda manuseou a carta. A OAB chegou a pagar R$ 80 mil para um grupo de investigadores particulares. Nenhum resultado, contudo, foi alcançado.




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