Economia Titulo
Comércio de armas de fogo ruma para a extinção no ABC
Por Mariana Oliveira
Do Diário do Grande ABC
13/07/2005 | 08:15
Compartilhar notícia


O comércio de armas de fogo no Grande ABC está prestes a sucumbir. Desde a implantação do Estatuto do Desarmamento, no fim de 2003, lojas do segmento que atuam na região amargam queda de até 50% no faturamento. Com a aproximação do plebiscito popular, que em três meses decidirá o futuro do comércio de armas no país, os comerciantes já falam em fechar sua portas definitivamente e até em mudar de ramo. Dos três estabelecimentos do ramo instalados na região – Armamec, Isa e Terra Aquarium –, a única que deve continuar aberta caso a venda seja proibida, a Isa, aposta na diversificação para superar a crise.

De acordo com pesquisa do Instituto Brasmarket, publicada no Diário no último domingo, 81,6% da população do Grande ABC apóia o fim da venda de armamentos. No próximo dia 23 de outubro, os brasileiros participarão de referendo para decidir se a comercialização de armas continua ou não no país.

A venda de armamentos na região hoje é um trigésimo do que a registrada antes da implantação do Estatuto do Desarmamento (lei federal 10.826, de 22/12/2003), de acordo com empresários do setor. Enquanto antes da publicação da lei eram vendidas cerca de 220 armas mensalmente, neste ano foram comercializadas apenas 7 armas por mês. O faturamento caiu 50% em alguns casos, com muitas demissões.

O Estatuto do Desarmamento estabelece que, para conseguir registro de arma de fogo ou obter renovação (a cada três anos), é necessário o pagamento de R$ 300 – antes o valor era R$ 120. A idade mínima para aquisição de arma passou de 21 anos para 25 anos. Além disso, o valor de pagamento para obtenção do porte de arma aumentou de R$ 350 para R$ 1 mil. Além disso, os interessados precisam passar por psicólogo e fazer prova de tiro na Polícia Militar.

A crise no comércio de armas não é uma peculiaridade do Grande ABC. Em todo o país o varejo do setor vive dificuldades. De acordo com a ANPCA (Associação Nacional dos Proprietários e Comerciantes de Armas), havia 1,4 mil estabelecimentos no segmento ao final de 2004. Seis meses depois, a quantidade caiu 50%. O presidente da entidade, Antonio Alves, não tem dúvidas: o Estatuto do Desarmamento dizimou as lojas de armas de fogo.

"O mercado nunca teve um 'boom' de vendas. Isso porque a comercialização de armas sempre foi uma atividade extremamente controlada pelo Estado. Para comprar revólver, pistola ou rifle, além de munição, pode demorar alguns meses, já que é necessária autorização da Polícia Federal. Porém, o Estatuto do Desarmamento prejudicou muito o varejo de armas e a possível aprovação do referendo destruirá o setor", disse o presidente da ANPCA, Antônio Alves.

Pesca como remédio – Proprietário da casa de armas mais antiga em funcionamento do Grande ABC – a Terraquarium, de São Caetano, aberta no início dos anos 80 –, Roque Camargo tenta manter a loja com artigos de pesca, mas acredita que isso não sustentará a empresa por muito mais tempo. No último ano, o faturamento caiu 40%. "Seria preciso investir para melhorar o estabelecimento, o que é inviável neste momento", afirmou. Até 2003, a empresa vendia em média 10 armas por mês; desde janeiro de 2005, entretanto, só vendeu 10 unidades.

O comerciante Araripe Basílio São José, proprietário da Armamec, de Santo André, também viu o faturamento despencar pela metade desde o Estatuto do Desarmamento. No mesmo período, dois dos três funcionários foram demitidos. O estabelecimento, que vendia de 10 a 15 armas por mês, ainda não comercializou nenhuma arma neste ano.

"Estou sobrevivendo somente da manutenção de armas e da venda de canivetes e alguns artigos para pesca. Sei que desta forma não será possível manter a empresa. Se o fim da venda de armas for aprovado, certamente precisarei fechar a loja", afirmou o empresário.

Crédito – De acordo com a ANPCA, a entidade e o governo federal estão em fase de negociação para criação de linha de crédito voltada a comerciantes de armamentos. A intenção é criar possibilidades para os empresários migrarem de ramo de atividade. A medida está em fase de negociação política.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;