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Ipea diz que economia brasileira está ameaçada
Do Diário do Grande ABC
20/05/2000 | 16:55
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A desaceleraçao da economia americana vai alterar o ritmo de crescimento previsto para o Brasil nos próximos anos. Isso porque a decisao do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de aumentar o juro em meio ponto percentual na semana passada, sinalizando sua disposiçao de adotar uma política monetária mais agressiva para conter a inflaçao, poderá frear o crescimento da economia global no médio prazo e, conseqüentemente, dos países em desenvolvimento.

É o que mostram os cenários traçados por organismos internacionais como Fundo Monetário Internacional (FMI), Organizaçao das Naçoes Unidas (ONU/LINK) e Comissao Econômica Européia (CEE), apresentados na última reuniao de Conjuntura Econômica do Ipea na semana passada pelo economista Marcelo Lara Resende. Os estudos, traçados hipoteticamente ainda antes que as quedas das bolsas americanas se acentuassem, investigam as conseqüências de uma eventual aterrissagem forçada da economia dos EUA.

Embora este nao seja o cenário mais factível, as perdas no Nasdaq, que já superaram os 30% nos últimos dois meses, sugerem que o presidente do Fed, Alan Greenspan, vai continuar elevando as taxas americanas para trazer os EUA de volta aos trilhos do desenvolvimento sustentado.

"Ainda que o desaquecimento da economia americana venha de forma suave será sentido em todo o mundo. Os efeitos disso nao sao instantâneos e só serao captados pelos analistas na hora que as perspectivas se tornarem fatos. Olhando para frente vemos que com a continuidade da alta dos juros as projeçoes de crescimento para o PIB serao revistas", diz o economista.

Com uma taxa anualizada de crescimento superior a 6%, a economia americana nao tem espaço para avançar sem produzir inflaçao. Por isso, boa parte dos analistas prevêem que as altas serao pontuais e vao elevar os juros dos atuais 6,5% para até 7,5% até fim do ano. Esse patamar já seria suficiente para desacelerar os EUA e levá-la a uma trajetória de crescimento de 3,5% do seu PIB, que é o que se espera de uma economia desenvolvida.

Desde o fim de 1996, quando alertou para a exuberância irracional dos preços das açoes, o discurso histórico de Greenspan já trazia nas entrelinhas os riscos da "nova economia". De lá para cá, o que se viu foi a valorizaçao exacerbada do preço das açoes das empresas de tecnologia a partir de expectativas futuras.

O economista do Ipea ressalta que a nova economia criou também o novo rico, figura fundamental no modelo previsto pela CEE. Trata-se do cidadao que ao invés de poupar consome muito, maximizando todos os fatores que revelam hoje que os EUA esgotaram sua capacidade de crescer produtivamente: tendências à inflaçao e à desvalorizaçao de sua moeda.

Já o cenário hipotético traçado pelo FMI conjuga uma correçao de 25% no preço das açoes com uma depreciaçao do dólar de 20% até 2004. Esse enfraquecimento seria o outro lado da moeda do acúmulo de riqueza recente, que veio bancar o "boom de consumo dos americanos": ainda que os EUA sejam uma economia líder, poderá ver o capital estrangeiro sair do país, abandonando a volatilidade do mercado de açoes e as incertezas decorrentes de um déficit em conta corrente igual a 5% de seu PIB e de uma dívida externa gigantesca, que alcança 20% do PIB.




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