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Marqueteiro: profissão manchada
Por Arthur Lopez
Do Diário do Grande ABC
19/02/2006 | 07:46
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Marqueteiros reclamam que a imagem da profissão ficou arranhada depois do escândalo de caixa 2 e remessa ilegal de dinheiro para o Exterior envolvendo o publicitário Duda Mendonça, guru da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Profissionais de marketing político, mesmo os mais conceituados, procuram agora definir bem a distância entre eles e os consagrados marqueteiros do país. "Não faço parte desse time", faz questão de frisar Chico Malfitani. "Antigamente, tinha até um certo charme quando se dizia que era marqueteiro. Hoje em dia, você fala isso e sente a reação negativa das pessoas", reclama Toni Cotrim.

Os dois profissionais fazem distinções na forma de atuação em uma campanha e, principalmente, sobre os valores cobrados por marqueteiros mais conhecidos, como Duda Mendonça (das campanhas de Lula e Paulo Maluf), Chico Santa Rita (Fernando Collor de Mello) e Nizan Guanaes (Fernando Henrique Cardoso). Malfitani diz que o marketing superestima custos e empurra o político para o caixa 2. "Cobrar R$ 25 milhões para a campanha do Lula é um absurdo", protesta Cotrim, que atuou em duas ocasiões para o atual presidente e hoje trabalha com Orestes Quércia. Mas nem Malfitani, nem Cotrim, revelam qual o custo de uma campanha encabeçada por eles.

Depois das denúncias de caixa 2, segundo Cotrim, as campanhas ficarão mais baratas porque "vai ser mais difícil arrecadar dinheiro, contabilizado ou não". Mas ele aponta que só as campanhas milionárias serão atingidas. "Quem vai sofrer é quem tem pretensão de ser um Duda Mendonça", assegura.

Para Malfitani, que iniciou carreira em campanhas do PT e, em 2004, trabalhou para o prefeito de São Bernardo, Willian Dib (PSB), o principal problema da profissão não é a questão do caixa 2, mas as promessas não cumpridas. "Os marqueteiros dão um tiro no pé quando vendem um produto (um candidato) e não se responsabilizam pelos compromissos feitos antes da eleição", diz. Segundo ele, fazer campanha política não é como qualquer outro trabalho de publicidade. "A responsabilidade é maior", afirma.

De acordo com Malfitani, a política deveria servir para melhorar a vida das pessoas, "e não dos políticos e marqueteiros". Segundo sua análise, o marketing político tem que seguir o mesmo caminho, "para ajudar a vender uma idéia que depois vai se realizar". Publicitário, ele lembra que quando o consumidor percebe que se trata de propaganda enganosa de um determinado produto comercial, "ele simplesmente deixa de comprar aquela marca". Mas, já, no caso de um político, "terá de ficar quatro anos com ele".

Da forma como a campanha política é feita atualmente, Malfitani analisa que todos os candidatos são iguais. "O que o Maluf fala é o que o PT fala, e o mesmo que o Serra diz. Ninguém tem uma linguagem diferente."

Malfitani diz que não concentra suas críticas apenas em Duda Mendonça. "São todos. O marketing político virou uma fonte de ganhar dinheiro e enganar a população." Ele, no entanto, garante que não faz parte desse time. Marqueteiro de William Dib, ele afirma que não criou programas para a campanha de São Bernardo que a Prefeitura não esteja implementando.




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