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Pessimismo e violência dominam mostra competitiva de Veneza
Da AFP
08/09/2006 | 15:01
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O pessimismo, a violência e a solidão dominaram a maioria dos 22 filmes selecionados na mostra competitiva da 63ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza, que se encerra neste sábado com a atribuição do Leão de Ouro.

Com algumas exceções, como o divertido ‘The Queen’, do inglês Stephen Frears, um retrato carinhoso da soberana Elizabeth II, boa parte dos filmes apresentados em caráter de pré-estréia mundial retrataram um mundo angustiado, dolorido, horrendo.

Foi o caso do filme do mexicano Alfonso Cuarón, ‘Children of men’, ambientado na Londres de 2027. O futuro de Cuarón é sombrio, marcado pela divisão entre ricos e pobres em barreiras físicas e mentais. Castigado pelas chuvas e pela neblina causadas pela contaminação ambiental e pela discriminação entre cidadãos com todos os direitos e refugiados clandestinos de todo o mundo, reprimidos, maltratados e odiados, o futuro quase presente de ‘Children of Men’ causa desassossego.

As imagens quase atuais de pessoas trancadas em jaulas, amontoadas em casas destruídas ou escondidas pela guerra entre etnias e milícias, convidam a refletir sobre o presente.

Outros filmes, ao contrário, contam o passado para tentar entender o futuro.

A reconstrução de fatos históricos, como o assassinato do senador democrata Robert Kennedy em 1968 no filme ‘Bobby’, do diretor americano Emilio Estévez, contado por personagens imaginários, também serve de denúncia contra o modelo de país que os Estados Unidos representam atualmente e sobre os sonhos perdidos.

Outra reconstrução histórica, desta vez mais complexa e certamente muito polêmica, foi apresentada pelo holandês Paul Verhoeven sob o título de ‘Zwartboek’ (O livro negro, numa tradução livre), no qual equipara por sua maldade e nível de corrupção os nazistas com os heróis da resistência durante a ocupação durante a Segunda Guerra Mundial.

O autor do blockbuster ‘Instinto Selvagem’, que maneja com talento todas as técnicas cinematográficas após vários anos em Hollywood, consegue deixar no espectador um gosto amargo, apresentando ao mesmo tempo um problema ético e moral: a vingança e o esquecimento.

A mesma questão ética é proposta por vários filmes na competição, desde ‘Daratt’ (A estação seca), do africano Mahamat Saleh Haroun, sobre a guerra no Chade, aos italianos apresentados nos últimos dias de competição: ‘La Stella che non c'e’, de Gianni Amelio, e ‘Nuovomondo’, de Emanuele Crialese.

O problema da emigração italiana no início do século XX, quando os sicilianos partiam maciçamente em navios para uma América genérica e desconhecida, foi sabiamente retratado no filme de Crialese, um dos favoritos ao Leão de Ouro.

Outra forma moderna de emigração foi contada por Amelio, que descreveu a viagem de um operário especializado italiano à China de hoje para tentar trocar uma peça defeituosa.

Depois de 10 dias, o festival veneziano, que este ano contou com menos estrelas com relação a outras edições e muitos filmes originais, tanto por sua trama como por sua qualidade, atribuiu o Leão de Ouro pelo conjunto da obra ao excêntrico cineasta americano David Lynch, que apresentou seu último e aguardado filme, ‘Inland Empire’.

O longa, a descrição angustiada da necessidade de querer resolver um mistério dentro de outro mistério, que vai sendo revelado entre pesadelos, foi quase emblemático de um festival que teme desaparecer pela falta de orçamento e pela inauguração, em outubro, da grande festa do cinema mundial em Roma.




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