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'Rabeira' preocupa Metra
Vanessa Fajardo
Do Diário do Grande ABC
03/05/2009 | 07:00
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Por mais que seja proibido e perigoso, Lucas (nome fictício), 16 anos, adora pegar carona pendurado no parachoque dos trólebus. Ele não se acanha com as advertências dos motoristas e diz se segurar bem para não cair. Assim que o veículo para nos pontos, ele pula e se ajeita com facilidade, pendurado na traseira. Ele costuma repetir a técnica para se locomover entre os semáforos de Santo André e voltar para casa no bairro São Mateus, na Capital. Para Lucas e o grupo de amigos com idades de 11 a 16 anos que o acompanha, pegar rabeira é diversão.

O crescimento da prática, porém, preocupa a Metra, concessionária responsável pelos veículos, que encaminhou um dossiê a diversas instituições de Santo André, no mês passado. A técnica, além de risco de acidente de trânsito, expõe os jovens à iminência de uma eletrocussão, pois a maioria dos veículos da frota opera com ligação entre os fios elétricos. O Diário teve acesso à documentação. Nele, a Metra alega que a prática se intensificou no decorrer do último ano e a situação tornou-se caótica. Além dos problemas com as caronas, a Metra reclama que crianças e adolescentes estariam furtando pedestres e motoristas, atirando pedras nos trólebus e puxando os fios do recuperador, que mantém os veículos ligados à energia elétrica, responsável pelo deslocamento, em retaliação à negativa das caronas.

Ainda, segundo a Metra, as ações de vandalismo são constantes: os trólebus são amassados por canos, faróis e lanternas são quebrados e pneus cortados. Em apenas um dia (12 de fevereiro deste ano), 19 trólebus foram depredados.

A maior concentração de jovens em situação de rua ao longo do corredor de trólebus, que na região passa por Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá, fica no cruzamento das avenidas dos Estados e Antônio Cardoso, entre o Carrefour e o Sam's Club, e nas imediações do Shopping ABC, em Santo André. São cerca de 30 crianças e adolescentes de 12 a 18 anos vindos de Guaianazes, Itaquera e São Mateus, na Capital, e uma minoria, da periferia de Santo André. Todos vão para os semáforos lavar os vidros dos carros e pedir esmola. Recebem até R$ 30 por dia. Mesmo com dinheiro da passagem (R$ 2,50), a volta para casa é sempre pegando rabeira. "É mais divertido e emocionante", conta a garota de 14 anos que há dois fraturou a perna esquerda depois de cair da traseira do trólebus. Mas nada de traumas. Na quinta-feira à tarde, ela deixou o ponto do Shopping ABC para ir até o Habib's, porque "o movimento estava fraco". A irmã a acompanha na aventura.

Vinícius (nome fictício), 11, também integra o grupo. Ele explica que precisa do dinheiro que consegue nas ruas para comprar lanche e material escolar, por isso aproveita a carona para economizar. "Mas como preciso ir à escola, só venho para cá quando tenho aula de reforço."




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