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Filho de careca,
carecão será?
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
27/03/2011 | 07:02
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Se de um lado celulite, estria e gordurinha extra aterrorizam as meninas, ficar careca é um dos grandes pavores dos meninos. Acredita-se que cerca de 80% dos brasileiros do sexo masculino vão ter algum grau de calvície na vida, sendo que 50% já apresentam queda anormal dos fios a partir dos 15 anos.

A calvície pode ter várias causas, entre elas a herança genética, chamada alopecia androgenética. Isso não quer dizer, necessariamente, que se o pai e o avô forem carecas, o filho também será, segundo Luciano Barsanti, diretor do Instituto do Cabelo e presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia. "O gene salta gerações e qualquer pessoa pode ser portadora, tanto da família do pai quanto da família da mãe. Claro que, quando há mais parentes calvos, a probabilidade é maior de acontecer."

Um dos motivos para a queda anormal dos fios é a ação da enzima 5-alfa-redutase. Ela transforma a testosterona (hormônio masculino) em didrotestosterona (DHT), substância que atrofia o bulbo capilar, a fábrica do fio. Assim o cabelo cresce menos e mais fino (processo chamado de miniaturização). O primeiro sinal são as famosas ‘entradas'. Com o tempo, o DHT acaba causando a morte prematura do bulbo capilar e, quando isso acontece, fica difícil reaver os fios que já deram adeus. Além disso, quem tem essa predisposição genética apresenta mais probabilidade de agravar a queda por outras razões, como estresse.

MULHER TAMBÉM

Embora menos comum, mulher também pode ter alopecia androgenética. Segundo estudo realizado nos Estados Unidos, uma em cada quatro mulheres vai sofrer com a queda permanente de cabelos, principalmente após a menopausa, quando há queda dos níveis de hormônios femininos.

Em dez anos, o número de pacientes do sexo feminino no consultório do médico e tricologista Luciano passou de uma para quatro, em cada grupo de dez homens. "O ritmo de competitividade, estresse, ansiedade podem ter influência", explica. Mulheres com essa tendência nem sempre ficam calvas, mas apresentam cabeleira bem rala. Nesse caso, os sinais também começam a aparecer na adolescência.

 

Nem toda queda é sinal de calvície - Todo mundo perde cabelo todo dia. É fato. Cada fio passa por um lento período de crescimento (que demora de dois a seis anos), entra na fase de repouso e, depois, cai. É o ciclo natural de vida do cabelo. O que não pode é a queda ser maior do que o crescimento.

Na adolescência, pode ser maior por causa da interferência dos hormônios, produzidos em maior quantidade. Hábitos podem acelerar, e muito, a perda. Uso de anabolizantes e drogas (legais e ilegais), além de transtornos alimentares e dietas feitas sem acompanhamento médico são as principais causas. Como o cabelo é formado, em quase sua totalidade, por proteína, dieta que não inclui esse nutriente enfraquece os fios. Outras causas são algumas doenças, como lúpus e diabetes, assim como medicamentos para combater câncer, depressão e problemas cardíacos (ninguém pode interromper o uso desses medicamentos sem consultar o médico).

Não é folclore a história de que boné também é vilão. O uso constante aumenta e acumula gordura no couro cabeludo, podendo provocar dermatite seborreica, a famosa caspa. Acredita-se que em 72% dos casos há relação entre caspa e perda exagerada de fios.Além disso, o uso diário de prendedores de cabelo e química podem provocar a quebra dos fios.

Por outro lado algumas historinhas que a gente ouve desde criança sobre calvície são mitos. A lavagem diária dos cabelos, por exemplo, não interfere nos bulbos capilares. Os fios que caem durante a lavagem já estão em fase de queda e cairiam de qualquer forma. Condicionadores também não têm relação, bem como praticar natação.

 

Quanto mais cedo descobre, menos careca fica - O tratamento torna-se eficaz se começar cedo. Para isso, deve-se ficar de olho nos sinais: montes de fios no ralo do chuveiro, travesseiro, banco de carro, escova e na mão. Mas lembre-se que é preciso muito cabelo para ser considerada queda anormal. "Em medicina não há milagre e sim evidências para um diagnóstico correto. Por isso, quanto mais rápido o especialista for procurado, melhor", afirma o médico e tricologista Luciano.

Devem ser feitos exames para detectar a causa da queda. Um deles aumenta o fio em até 8.000 vezes, em outro é possível analisar, pelo microscópio eletrônico, a raiz do cabelo e suas possíveis anormalidades. Quando é genético, o tratamento é um pouco mais complicado. Utiliza, entre outros métodos, laser para estimular a irrigação sanguínea no couro cabeludo, atuar como anti-inflamatório e aumentar a produção celular.

Outros recursos são a ionização, que infunde medicamentos no couro cabeludo sem injetar ou perfurar, e o eletroestímulo, que utiliza uma frequência elétrica de baixa intensidade para estimular a raiz do cabelo. Nos demais casos, tem de tratar a causa que leva à queda.

Depois dos 30 anos, pode ser feito implante capilar, em que fios são aplicados cirurgicamente nas áreas sem cabelo, além do uso de medicamentos. A única substância liberada pela Anvisa é a finasterida, que impede a ação do DHT. Cerca de 1,5% dos pacientes reclama de efeitos colaterais (como falta de desejo sexual) e que o cabelo volta a cair se interrompe o remédio.

 

Assumindo a cabeça lisinha - Quem não está a fim de partir para tratamentos tão radicais pode usar os tradicionais disfarces, como raspar a cabeça com máquina zero ou usar boné e chapéu. Se mesmo assim não agrada, que tal assumir a situação de vez?

Muitas celebridades já fizeram isso, como o nadador Fernando Scherer (o Xuxa), 36 anos. Ele começou a perder os fios aos 18 anos e confessa que, no seu caso, foi mais fácil porque todo mundo pensou que era por causa da natação. Entre os carecas famosos estão o ator Bruce Willis, o campeão de surfe Kelly Slater e o modelo Paulo Zulu.

Para os anônimos é mais difícil? Para Marcel Tobredo, 18 anos, de São Bernardo, sim. No início, é complicado aceitar que as entradas na cabeça estão aumentando. "Ouvi algumas piadinhas, mas agora aprendi que faz parte das minhas características", diz o garoto, que raspou os fios e está consultando um especialista. "Vou ver o que dá para fazer para atrasar a calvície. Se não der jeito, tudo bem também."

 

Tem mais

Diferentemente da calvície, que só atinge algumas pessoas, ninguém vai escapar de ter cabelos brancos. Alguns mais cedo, outros mais tarde. O fator que determina a coloração do cabelo é a quantidade de melanina produzida por células chamadas melanócitos. O problema é que quanto mais o tempo passa, menos os melanócitos conseguem trabalhar, então o cabelo vai ficando branco. Perder a cor não significa que os fios vão cair.

 

Há vários tipos de alopecia. Uma delas é a areata, doença autoimune que provoca queda de fios em um só local da cabeça. A outra é a alopecia universalis (variação da areata), em que a pessoa tem queda de todos os pelos do corpo, incluindo sobrancelhas. O organismo entende que os pelos são inimigos e acaba com todos.

 

A apolepcia (restrita a um único local da cabeça) também pode ser causada por tranças ou penteados apertados, tintutas, alisamentos mal feitos e infecções no couro cabeludo.

 

Calvície também pode atingir os animais, provocada, principalmente, por estresse, maus-tratos, alergias e problemas na tireoide. Nesse caso, não perdem pelo só na cabeça, mas em todo corpo. Já os ratos perdem os fios naturalmente, que são utilizados para construir os ninhos.

 

Tricologia é a área da medicina focada, especificamente, no diagnóstico e tratamento do cabelo e couro cabeludo

 

Acredita-se que os vasos capilares, pequenas veias que conduzem o sangue no corpo, chegam a ser 50 vezes mais finos do que um único fio de cabelo

 

Um fio de cabelo pode suportar até 100 gramas de peso antes de se romper. Teoricamente, isso significa que, todos juntos, numa cabeleira, suportam o peso de dois elefantes africanos adultos

 

O cabelo é o tecido humano que mais cresce no corpo. Diariamente, no adulto, a soma total do crescimento dos fios atinge 35 metros

 

Na raça negra, os fios crescem mais devagar e são mais frágeis. Nos asiáticos, se desenvolvem mais rápido e são mais fortes. Africanos e europeus são mais propensos à calvície do que asiáticos

 

A poluição enfraquece os fios, prejudicando, principalmente,os cabelos oleosos, uma vez que atrai e retém as impurezas contidas na atmosfera




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