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Remoção no Pq.S.Bernardo tem ação truculenta de GCM e PM

Policiais usaram bombas, balas de borracha
e atiraram contra populares e equipe do Diário

Nelson Donato
Especial para o Diário
03/02/2016 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Operação do setor de controle de adensamento da Secretaria Municipal de Habitação terminou ontem de forma desastrosa no Parque São Bernardo. Após a GCM (Guarda Civil Municipal) não conseguir conter os manifestantes, a PM (Polícia Militar) foi chamada e chegou a atirar contra populares e a equipe do Diário. Também foram usadas bombas e balas de borracha para dispersar os moradores, que protestavam contra a retirada de barracos que estavam sendo construídos e apreensão de materiais para erguer as casas improvisadas em área onde, segundo o Executivo, é executado projeto de urbanização.

A confusão começou às 9h30, após negociação frustrada entre 30 guardas-civis e 70 famílias. Os munícipes pediram apresentação de mandado de reintegração de posse para sair do local. Nenhum documento foi entregue a eles. Iniciou-se a discussão. Os guardas usaram cassetetes, spray e gás lacrimogêneo para dispersar o tumulto, atingindo inclusive mulheres e crianças. Em resposta, moradores atearam fogo em latões de lixo para formar barricada. Carro também foi queimado e ônibus da Prefeitura, depredado.

“Estava com minha filha no colo quando lançaram spray nos nossos olhos. Tentei argumentar dizendo que estávamos ali pacificamente, mas não adiantou. Se sairmos daqui, não teremos para onde ir”, desabafa o tatuador José Carlos de Almeida, 33 anos.

A empregada doméstica Lucinélia Serafim dos Santos, 40, acordou com as explosões. “Minha casa estava tomada pela fumaça. Corri para pegar meus filhos e sobrinhos e tirá-los de lá.”

Às 11h30, o conflito chegou ao auge. A PM, que não havia sido avisada sobre a retomada do terreno, entrou em ação efetuando disparos com munição de borracha contra a população. Revoltados, manifestantes revidaram com pedras e rojões. De acordo com a corporação, tiro disparado por alguém da comunidade teria motivado o uso de arma de fogo.

Para o tapeceiro Cauê Pereira, 23, a culpa é do poder público. “Ninguém liga para o que acontece conosco, só aparecem em época de eleição. As autoridades mandam bater nos pobres e só se lembram de nós quando convém.”

Segundo a Prefeitura, a ação desmontou barracos que não estavam habitados. Informação contestada pelo morador Ludimar Alves do Nascimento, 40. “Havia pessoas morando ali. A Prefeitura promete que fará ruas e habitações, mas há anos nada acontece. Por isso as pessoas invadem.” O filho de Ludimar, 17, foi apreendido e liberado horas depois. Durante a ação, outro menor foi apreendido e um suspeito foi preso sob a acusação de ter disparado rojão em policial, que teve ferimentos moderados na perna.

Equipe do Diário vivencia tensão durante o conflito

Enquanto fazia a cobertura da confusão gerada após a tentativa de remoção que ocorreu na manhã de ontem no Parque São Bernardo, a equipe do Diário viveu momentos de extrema tensão. Isso porque durante o auge do conflito, a equipe de reportagem se viu no meio do confronto entre GCM (Guarda Civil Municipal), PM (Polícia Militar) e manifestantes.

Quando a PM avançou, este repórter ficou entre policiais e moradores e foi obrigado a buscar abrigo em barraco junto com outras três pessoas. Momentos depois, a GCM atirou em sua direção uma bomba de gás lacrimogêneo que causou ardor nos olhos e queimação na garganta, que perduraram mesmo após várias horas do ocorrido.

O cinegrafista Vicenzo Varin flagrou o exato momento em que policiais militares atiram balas de borracha na direção da equipe, que foi obrigada a entrar em uma casa para escapar dos disparos.

Outro soldado da PM apontou arma de fogo para o fotógrafo Denis Maciel, que também foi alvo de uma bomba de gás lacrimogêneo.

Corporação abre inquérito para apurar conduta de policiais militares

Após analisar as imagens do confronto generalizado no Parque São Bernardo, disponibilizadas pela equipe do Diário, o comandante da PM (Polícia Militar) no Grande ABC, coronel Marcelo Cortez Ramos de Paula, afirmou ontem que investigará a ação dos policiais militares envolvidos. “Um inquérito será instaurado para saber se houve ou não uso excessivo da força. Toda utilização de munição química e elastômero (balas de borracha) se pauta pela legalidade. São quesitos avaliados no momento da ação.”

Ainda conforme o comandante, o planejamento prévio da operação não contou com a participação da PM. “O que ocorria no local era uma ação administrativa de retomada de imóvel, conduzida pela Prefeitura (por meio da Secretaria de Habitação) e pela GCM (Guarda Civil Municipal). Fomos acionados para controlar o distúrbio que se originou desta situação.”

Sobre os disparos de munição letal efetuados por policiais militares, inclusive na direção da equipe do Diário, que acompanhava o conflito, o coronel ressaltou que tal ação se encaixa no uso proporcional da força. “Fomos almejados com coquetel molotov (substância química incendiária) e também com disparo de arma de fogo. Logo que chegamos, o clima era de total hostilidade no local. A guarnição foi recebida com pedras e rojões pela população. Foi preciso uma ação mais enérgica para coibir o protesto”, avalia o comandante.  




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