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Reuniao de Brasília pode mudar mapa das Américas
Do Diário do Grande ABC
26/08/2000 | 13:58
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A inédita reuniao de cúpula sul-americana de quinta e sexta-feira próximas em Brasília pode começar a traçar um novo mapa das Américas, com um Norte que vai do Alasca ao Panamá e um Sul que se estende do tórrido Caribe colombiano até a gélida Terra do Fogo.

O presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso, idealizador e anfitriao do encontro, vem tentando tranquilizar o México e os Estados Unidos, afirmando que a reuniao nao descarta a criaçao da Area de Livre Comércio das Américas (Alca), prevista para 2005, que, segundo ele, é um passo necessário e benéfico para a uniao continental.

Entretanto, a idéia de um bloco sul-americano - do qual ninguém falava há dois meses atrás -, capaz de fazer valer suas idéias ante o mundo industrializado, seduz os líderes da regiao, decididos a conseguir a entrada de seus produtos agrícolas nos Estados Unidos, que dispoem de 75,7% do PIB do continente.

``A fronteira da América do Norte chega até o Panamá', afirmou no início do mês Celso Láfer, ex-ministro brasileiro da Indústria e amigo íntimo do presidente.

O Brasil, que detém 7,2% do PIB continental (e 46% do PIB da América do Sul), foi acusado várias vezes pelos Estados Unidos e Canadá de desacelerar o ritmo de negociaçoes para a criaçao da Alca. No encontro de cúpula, impulsionará a integraçao do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) à Comunidade Andina de Naçoes (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), Chile, Guiana e Suriname.

``Disse que a Uniao Européia e a Alca sao nossos atuais objetivos, mas os verdadeiros objetivos concretos sao o Mercosul e América do Sul, a consolidaçao destes mercados regionais', declarou Fernando Henrique no último domingo aos distribuidores de veículos em Brasília.

O protecionismo da Uniao Européia e de Washington, principalmente na área da agricultura, causa irritaçao aos países sul-americanos, cujos principais produtos de exportaçao pertencem a esse setor, e que sao ainda abalados pelos efeitos das crises asiática e russa e da desvalorizaçao do real no Brasil.

A coesao do subcontinente, esperam, lhes dará melhores armas na luta por estes mercados. ``Na Alca, temos que trabalhar pela cooperaçao, mas também temos de defender nossos interesses. Nao se pode fazer uma abertura tradicional do mercado sem que tenhamos realmente uma abertura dos mercados do Norte, pois o protecionismo mata os mercados do Sul', adiantou o presidente do Brasil.

A coesao da América do Sul desejada por Fernando Henrique Cardoso nao é somente econômica. O continente é ainda perturbado por graves crises políticas e no rascunho de declaraçao final do encontro de cúpula, a participaçao na integraçao regional está condicionada à vigência da democracia.

A reuniao de cúpula sul-americana pode ainda significar uma passagem para um continente dividido pelo canal do Panamá, ou melhorar as condiçoes de integraçao da regiao a um bloco maior. Certamente, será a primeira vez desde a conquista de sua independência, há quase 200 anos, que os sul-americanos se sentam para buscar uma soluçao conjunta de seus problemas.




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