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Com 17 anos de carreira, médico do Verdão conta causos do futebol

Andreense Rubens Sampaio viu de tudo e aprendeu até a diagnosticar a malandragem

Por Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
15/11/2015 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Imagine a seguinte situação: em um contra-ataque o atacante leva a mão à parte posterior da coxa e imediatamente desaba no gramado. Se fosse o médico, você certamente sairia em disparada para prestar os primeiros socorros. Mas não se o personagem central desta história fosse o ex-atacante Viola e o profissional em questão Rubens Sampaio, que há 17 anos trabalha no Palmeiras.

A cena ocorreu, de fato. E foi ali que Sampaio apreendeu um pouco da malandragem nata do jogador brasileiro. “A partida estava brigada e o Viola caiu com a mão na coxa. Já tinha pedido a substituição ao técnico, mas quando cheguei perto ele disse que era só para esfriar um pouco o jogo. Cancelei a alteração”, recorda o médico.

Cenas como essas fazem parte do cotidiano do ortopedista, que é radicado e mantém completa clínica médica em Santo André. Descobrir se o atleta está simulando é algo que não se aprende na faculdade. “A experiência me ensinou que se o jogador cair e rolar umas dez vezes, dar pirueta, está fingindo. Quem se machuca mesmo fica parado com a mão para cima”, aponta Sampaio.

Mas não é só a boa interpretação da malandragem que a experiência trouxe ao médico. Diagnosticar lesão em segundos, no campo e no calor do jogo, lhe ajuda no dia a dia. “Me permite ter diagnóstico preciso na clínica”, admite.

Durante a carreira, o médico se deparou com casos raros. “O (ex-goleiro) Marcos teve uma lesão no pulso antes da Copa do Mundo de 2002. Não tinha precedente no futebol mundial. Tivemos de fazer uma cirurgia e correr o risco de encerrar a carreira dele. Deu tudo certo. O (volante) Pierre (hoje no Fluminense) também teve um problema raro na planta do pé que conseguimos corrigir”, lembra.

Depois de tratar de dezenas de jogadores nestes 17 anos de Palmeiras, Sampaio cita grande diferença entre os craques de hoje e os do passado. “Os jogadores estão conscientes que precisam estar com o corpo em ordem para produzir. Dão muito mais importância para os treinos físicos, se preocupam com o extra-campo. O Gabriel Jesus, por exemplo, desde os primeiros anos na categoria de base foi trabalhado para aprender a valorizar o que diz a comissão técnica. O Pelé entendeu isso muito antes dos jogadores da sua época e também por isso foi o que foi. Tinha um vigor físico incomum e sempre levava vantagem sobre seus marcadores, na bola e no corpo”, analisou Sampaio.

O ortopedista acompanhou a evolução da medicina no esporte. Se antes o profissional era apenas mais um, atualmente assume papel de protagonista na comissão técnica. “Hoje não é só o treinador. Tem uma equipe inteira com vários profissionais. Conseguimos prever lesões e, com isso, evitar que o clube deixe dinheiro parado. O Palmeiras vai inaugurar em 2016 um centro clínico completo. O clube pagou R$ 3 milhões e o retorno será imediato. Dois jogadores que voltem antes do que se previa já paga esse todo esse investimento”, projeta.

As camisas de diversos clubes de futebol espalhadas em quadros nos ambientes da clínica são presentes de amigos que deixaram o Palmeiras e seguiram no futebol. Parte da coleção é do amigo inseparável Fábio Novi, que trabalhou no Santo André e no Corinthians.

A dupla, até hoje, recebe visitas de ex-jogadores. “Muitos nos procuram para tratar de lesões. O esporte de alto rendimento deixa sequelas, inevitavelmente. A maioria é nas articulações. Galeano, César Sampaio, Marcos, todos tiveram problemas”, relata Sampaio, feliz pelo reconhecimento que a medicina esportiva lhe trouxe.




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