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É como se a Índia fosse aqui!
Por Bruna Gonçalves
Especial para o Diário
26/07/2009 | 07:07
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Are Baba, Atchá, Baguan Kellie, entre outras expressões hindi (língua oficial da Índia), repetidas pelos personagens da novela Caminho das Índias, também estão na boca da garotada. Virou mania em casa e na escola.

Uma turminha do integral do Colégio Crescem, em Santo André, não perde nenhum capítulo e já decorou os passos de dança e o vocabulário. "Brincamos de ser os personagens da novela. Cada aluno é um, e inventamos as conversas com as expressões que eles usam", conta Isabella Toledo, 6 anos, que interpreta a Maya na escola.

Are Baba e Tik, tik são as expressões mais usadas na casa de Giancarlo Almeida, 8. "Na minha família, falamos Atchá. Repetimos coisas que nem sabemos direito o que significam", diz Laura Gallucci, 8.

Isso não é problema. Segundo os especialistas, quando o público imita é porque se identifica com os personagens. Além disso, o som das palavras desperta a imaginação e faz com que cada um crie seu próprio significado e interpretação. "Quando minha mãe deixa o leite no fogo e quase cai, digo Are Baba" fala Yuri Melito, 9.

O vocabulário já é adotado até na net. Gabriel Ciebra, 8, do Colégio Ipec, de São Bernardo, troca mensagens com os amigos usando as palavras hindi. "Quando deixo um recado no Orkut, sempre coloco Are Baba. É comum também usar alguma quando escrevo um e-mail", diz. (Supervisão Teresa Monteiro)

A língua vive em transformação
A língua de um povo vive em constante transformação. Algumas palavras deixam de ser usadas e desaparecem, enquanto outras recebem influência de idiomas estrangeiros e são incorporadas. O português falado no Brasil, por exemplo, recebeu contribuições de árabe, africano, francês, entre outros.

Isso cresce cada vez mais. Palavras em inglês, como (apagar, excluir), foram introduzidas ao nosso vocabulário e já estão no dicionário com o mesmo sentido, por causa do teclado do computador. A influência de palavras estrangeiras pode despertar a curiosidade em conhecer mais o idioma.

As novelas brincam com isso e criam expressões que tornam-se populares por um tempo, como o ‘felomenal' de Giovanni Improtta (José Wilker), em Senhora do Destino, que está sendo reprisada à tarde (o certo é fenomenal!).

Os especialistas explicam que o público se identifica e passa a reproduzi-las. Em Caminho das Índias, as expressões hindi foram adaptadas à maneira como os brasileiros falam. As palavras introduzidas são usadas por um tempo e dão vez a outras. Isso é constante, por isso o vocabulário é rico. (Consultoria do linguista Bruno Dallari, da PUC, do pesquisador de teledramaturgia Claudino Mayer, da USP, e Nilson Xavier, autor do Almanaque da Telenovela Brasileira)

Vocabulário
ARE BABA: exclamação no sentido de ‘ai meu Deus', ‘não brinca!', poxa
ATCHÁ: indica satisfação, ok, ‘está bom'
BAGUAN KELLIE: significa ‘por Deus!', ‘oh meu Deus!'
BALDI ou PAPA: pai
CHAI: chá
DADA: avô por parte de pai
DADI: avó por parte de pai
DJAN: querido, amado
FIRANGI: estrangeiro
MAHADEVA: Deus da religião hindu, sinônimo de Shiva
MAMI ou MAMADI: mãe
MANGLIK: mulher sem sorte no amor; antes de se casar de fato tem de se ‘casar' com árvore
NAMASKAR ou NAMASTÊ: saudação que significa ‘o Deus que há dentro de mim saúda o Deus que há dentro de você'
NAHIN: não
TCHALÔ: vamos
TIK, TIK: sim, sim
ULUCAPATÁ: o maior dos burros

Dança indiana atrai meninas
Não são só as expressões que caíram no gosto popular. A dança indiana chama a atenção das meninas, que improvisam a roupa e os movimentos. "Pego cobertor, lenço ou qualquer coisa que lembre um sári (vestido enrolado no corpo). Queria fazer aula para aprender os passos certos", diz Eduarda Gomes, 8, de São Bernardo.

Foi isso que fizeram as gêmeas Letícia e Nathália de Paula Cherivaty, 10 anos, de São Caetano. "Quem assiste à novela não tem como não ficar com vontade de aprender", afirma Nathália, que há quatro meses faz aulas com a irmã e a mãe na Casa Tibetana, em São Caetano, uma das poucas escolas na região que atende crianças.

É preciso muita coordenação. "Os movimentos com as mãos e os dedos são bem complicados e exigem muita atenção para equilibrar o corpo e ainda posicionar o pé corretamente", conta Letícia, que agora só chama a mãe de mamadi.

A dança é uma arte muito importante na Índia. Acredita-se que a mulher que dança bem pode conseguir bom casamento. A coreografia apresentada na novela é uma adaptação do estilo Bollywood, que mistura vários passos da dança indiana.

Expressões
Confira a interpretação de algumas expressões usadas:
Acender as lamparinas do juízo: não é usado na Índia, mas quer dizer que a pessoa precisa ter consciência das suas atitudes
Arrastar o sari pelo mercado: usada para criticar a mulher que sai muito de casa
Parada como as colunas do templo: quem não faz nada
Atirar-se no Ganges ou no poço: quando a pessoa não se conforma com algo trágico que aconteceu ou que causa vergonha
As cinzas dos antepassados se remexem no Ganges: quando alguém faz algo considerado tão errado, que os antepassados se envergonhariam dela (Consultoria de Ravindra Karahe)

Da novela para a vida real
Até os atores da novela repetem Are Baba e Tik, tik fora dos sets de gravação. "Por conviver tanto com essa cultura, é impossível não falar Nahim no lugar do não e Tik, em vez de sim", explica Karina Ferrari, 10 anos, que interpreta Anusha. "Acho que todo mundo fala por ser fácil e estar presente em todos os capítulos da novela", completa.

Cadu Paschoal, 12, que interpreta Hari, confessa que teve certa dificuldade para memorizar tantas expressões. "No início, a gente nem sabia direito o significado. Por ser curioso, pesquisei e anotei as mais usadas e o que queriam dizer", explica o garoto, que é parado na rua para explicá-las.

Foi com a ajuda de Cadu, que Laura Barreto, 7, a Lalit, aprendeu algumas. "Como eram muitas, tentei memorizar as que pude", fala. A menina conta que usa diariamente Are Baba e Baguan Kellie entre a família, mas fica tímida para repeti-las com os amigos na escola.

Em compensação, não tem a menor vergonha de apresentar os passos da dança para as quais, segundo Laura, é preciso ter boa ginga. "Em casa, é só escutar a música de abertura que já levanto do sofá e danço. Meus pais se divertem", diz a menina, que improvisa com saia comprida, mas quer muito visitar a Índia para comprar sáris e pulseiras.

"A dança é fácil para quem é solto e sabe requebrar o quadril", afirma Laura. Sua companheira Karina teve muita facilidade porque já fazia dança de salão e foi descoberta na academia, diferentemente de Laura que só tinha feito balé.




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