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Em S.Caetano, carro se transforma em lar

Brigas e vício levaram Alexandre da Silva a viver em Kombi; ele sonha em voltar a ser vidraceiro

Nelson Donato
Especial para o Diário
13/09/2015 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Por mais que se façam planos, muitos fatores fazem com que a vida sofra transformações drásticas. Essas mudanças podem levar um homem bem-sucedido à ruína e ao desespero. Esta é parte da história do hoje morador de rua Alexandre Gonçalves da Silva, 50 anos, que usa uma Kombi antiga como lar em São Caetano.

Na quinta-feira, o Diário relatou o drama vivido por ele durante a chuva de terça-feira. Na ocasião, Silva contou que fugiu às pressas porque parte do veículo, que abriga um colchão e seus poucos pertences, já estava submerso pela enchente na Avenida Lions Club, no bairro Nova Gerty.

A reportagem voltou ao local na sexta para saber o que levou o morador à situação. A história que o pernambucano conta é triste. Silva trabalhou desde a adolescência até se tornar conceituado vidraceiro, que possuía clientes por toda a região, além de situação econômica estável. Porém, o vício em crack e as brigas de família fizeram com que hoje ele arraste um carrinho de sucata e more no veículo antigo.

Silva chegou à Capital aos 12 anos. Após muito esforço, atingiu bom nível econômico e ganhava R$ 15 mil por mês. “Sempre frequentei bons restaurantes, fazia academia. Eu e minha família vivíamos bem. Após uma briga, me separei da minha primeira mulher, com quem tive seis filhos. Infelizmente eu a magoei muito.”

Entre discussões com sua companheira e os filhos, o ex-vidraceiro entrou no mundo das drogas. “Consumi crack por 22 anos. Escondi da minha família. Gastava metade do que ganhava com drogas e deixei de proporcionar vida melhor para eles. Nunca lhes faltou nada, mas poderia ter dado mais.”

Além dos filhos do primeiro casamento, teve outros quatro, de mais duas uniões. Há quatro anos, uma briga com um deles foi derradeira para ele abandonar sua casa e viver na rua. “Ele agrediu a própria mãe depois de chegar alcoolizado. Fui defendê-la e ele me acusou de tentar matá-lo. Foi aí que larguei tudo.”

Ao abandonar seu lar, Silva decidiu que largaria as drogas. “Já arrastava o carrinho de sucatas quando comecei a pensar na vida e fiquei com raiva do crack e de tudo o que ele fez para mim. A partir desse dia, nunca mais usei. Infelizmente comecei a beber e, por isso, até hoje não me reergui.”

Se para muitos a vida na rua é uma fuga, para Silva a situação é degradante. “Por vezes me olho e não me reconheço. Cheguei a dormir debaixo da minha carroça.”

Além das condições climáticas adversas, o morador de rua conta que a violência assusta. “Há 40 dias fui ajudar um rapaz que estava apanhando, mas um cúmplice do agressor torceu meu braço e até hoje estou machucado. Também há muito tráfico de droga, me oferecem e recuso.”

Apesar das dificuldades, o catador conta que tem fé em retomar a profissão. “Minha confiança em Deus é muito grande. Recebi convites para trabalhar com amigos, mas tive medo de não honrar a palavra. Mas credito que logo estarei livre dos vícios e terei minha vida de volta.”

Outra conquista almejada por Silva é auxiliar seus amigos moradores de rua. “Muitos me perguntam como abandonei as drogas. Quero que frequentem a igreja para que percebam o quão errado é o rumo que suas vidas estão tomando”, afirma, esperançoso. 




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