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Russo: multiinstrumentista autodidata
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
06/05/2007 | 07:30
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Ele é um sujeito que coleciona vários apostos. Ao nome, se seguem breves explicações, para identificá-lo com precisão. Russo, nome artístico um tanto comum, se torna inconfundível depois da vírgula. Russo, o homem-banda. O que toca pandeiro, gaita e violão ao mesmo tempo. O calouro do Raul Gil. O que imita a Janis Joplin, igualzinho, impressionante. O que apareceu esses dias no Programa do Jô. Ah, o Russo!

Aos 36 anos, é conhecido no País inteiro, e até no exterior, sem nunca ter emplacado música própria. Russo não toca no rádio, mas as canções que ele canta fazem sucesso há pelo menos quatro décadas. Artista cover, consegue fugir das caricaturas. Não se parece com Bob Dylan, Hendrix, Mick Jag-ger, Lennon, Jimmy Page, Robert Plant, Janis Joplin, New Young, Rod Stuart. É uma mistureba híbrida.

“Respiro essa atmosfera dos anos 70. Tenho esse visual diferente do que o mercado fonográfico exige. Sou cabeludo e não tenho aquela cara bonitinha.” Russo não corta o cabelo há 20 anos, tem unhas compridas e pretas, só menos chamativas que os 14 anéis espalhados pelas mãos. Nunca mudou o estilo; nem quando riam dele nas primeiras apresentações, nos trens da CPTM.

Nascido e criado em Santo André, Edson de Oliveira é o caçula de quatro irmãos. Na mesa de parto, ganhou apelido e futuro. “Minhas tias contam que minha mãe olhou pra mim e disse ‘Esse é o Russo. E vai cantar para o mundo inteiro’. Minha mãe profetizou em minha vida.” Dona Alice matriculou o filho nas aulas de música, que o menino freqüentou por um ano. Parou quando ela morreu. Nunca mais voltou a ter professor. “Tinha 12 anos quando minha mãe faleceu. Traumatizado, parei de tocar. Tive uma espécie de apagão emocional. Não me recordo de quase nada dessa época.”

Da infância, lembra de música. Que brincava no balanço do quintal da casa, na Vila Lucinda, e cantarolava Roberto Carlos. “Ininterruptamente.” Formado no curso técnico de Processamento de Dados, via o violão empoeirando no canto da sala. Ainda não era hora.

Conseguiu emprego de office-boy numa agência do Bradesco, na Capital. Antes de receber a quarta promoção, pediu as contas. “Aquele negócio estava ficando sério demais. Ia virar auxiliar de gerência. Saí a tempo.” Chegou em casa e fez as pazes com a profecia da mãe, aceitou o violão de volta. Passou a estudar sozinho; do mesmo jeito, aprendeu bateria, piano, contrabaixo e gaita. A primeira caixa de som Russo comprou na Rua Santa Efigênia, juntando as moedas, e carregou a estrutura nas costas até a estação da Luz. No dia da apresentação num barzinho da cidade, percebeu que não tinha microfone nem pedestal. “Tive que alugar. O dinheiro não dava para quase nada”.

De bar em bar, de banda em banda, o moço que imitava a Janis marcava espaço. Em 2005, já abria shows de grupos como Titãs, Roupa Nova e Cidade Negra, quando soube do concurso de calouros do Programa Raul Gil, na TV Record. Ficou 40 semanas seguidas se apresentando, todos os sábados à tarde. Ele, o violão de dois braços, a gaita e o pandeiro. Ao final da maratona, gravou CD com composições próprias e algumas versões.

De tanto receber pedidos de fãs, os produtores da Globo convidaram Russo para o sofá de Jô Soares. Bastou o gorducho anunciar “Ele é uma banda de um homem só. Russo, venha para cá” e a caixa de e-mails do artista entupiu. Entre as mensagens, convites para shows na Escócia, Panamá, África, Japão, China.

Em uma casa simples e espaçosa em Santo André, ele se ocupa do chow chow Pelúcio. Às segundas, freqüenta o culto evangélico em São Caetano; às quintas, toca numa pizzaria em São Bernardo. Quer se casar ainda este ano com a namorada Franciele, ter filhos gêmeos. Sem perceber, ensaia também profecia aos filhos, com jeito de oração. “Quero fazer deles pessoas de bem”, diz o futuro pai da Rhara e do Matheus.




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