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Xerife reabre os porões do Sto.André
Por Nelson Cilo
Do Diário do Grande ABC
31/05/2009 | 07:06
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Cinco anos depois de trocar a muralha do Santo André pelo porto seguro de professor concursado, o zagueiro Diego ainda não conseguiu apagar velhas cicatrizes. De repente, ele decidiu confidenciar alguns picantes e inéditos trechos de uma curtíssima história pessoal no clube que o revelou para o futebol. Um dia, porém, aquele ousado garoto precisou interromper a carreira logo nos primeiros tempos de profissionalismo. Agora, revela surpreendentes capítulos que permaneciam escondidos nos porões do Estádio Bruno Daniel. O pingue pongue transformou-se em um desabafo emocionado nas dependências da Escola Estadual Prof. José Brancaglione bem no momento em que dezenas de pequenos alunos da periferia brincavam distraidamente.

Sobraram críticas aos antigos dirigentes ou mesmo ao técnico Luiz Carlos Ferreira, ‘o pior de todos'. O pai Pedrão, ao contrário, é o ‘verdadeiro cara' no conceito de quem também aprendeu a valorizar a cumplidade no meio de outros personagens importantes. Como a mulher Alexandra, mãe de Giovanna e Guilherme. O xerife raçudo nos times da Vila Sá e no Ájax de Vila Rica-SP não poupou nem um colega - rico no circuito mundial - que roubava os companheiros nos vestiários. Confiram os principais trechos da entrevista concedida ao Diário.

DIÁRIO - Como é que você deixou o Santo André?
DIEGO -
Até hoje não consegui entender. É uma coisa inexplicável. Eu discordava do que acontecia lá, mas nunca houve maiores problemas diretamente comigo. O Fábio Reis, sim, cobrou direitos trabalhistas e alguns atletas também foram beneficiados. Entrei nessa. Só que o mandaram embora. Atualmente, estamos juntos no Vila Sá e no Ajax da Vila Rica (SP).

DIÁRIO - Contam que você teria brigado, não é isso?
DIEGO
- Faltou diálogo. Prejudicaram a minha carreira. Então, preferi sair. Como em 2002 já havia me formado em Educação Física, prestei concurso e fui aprovado em primeira chamada para dar aulas no Estado (EE Prof. José Brancaglione) e no Pentágono. Não me arrependi.

DIÁRIO - Falam que teria ocorrido uma briga?
DIEGO
- Comigo não. O Fábio Reis (atacante) entrou na Justiça para cobrar pendências trabalhistas e aí fomos no mesmo barco. Eu e alguns companheiros. O Fábio já era meu parceirão e um dos melhores amigos que tenho no futebol.

DIÁRIO - Mágoas ou boas coisas como profissional?
DIEGO
- As duas. Não sou de guardar mágoas, mas eu tenho uma... Em 2004, fui emprestado ao Grêmio Maringá. Fiquei uns 45 dias lá para disputar um torneio contra o rebaixamento. Cadê o dinheiro? Não recebi.

DIÁRIO - E do Santo André?
DIEGO
- Um dia, o clube atrasou os salários de novo. Era uma coisa comum. Vencia no dia 5 e regularizavam no fim do mês. Pagavam, sim, mas daquele jeito. Aí saiu a notícia e me responsabilizaram pelo vazamento. Logo eu?

DIÁRIO - E as melhores imagens que você guarda?
DIEGO
- Em 2003, acesso à Série B do Brasileiro e campeão da Copa Estado. Na temporada seguinte, a Copa do Brasil, o título mais importante. Encarei o Flamengo aqui, mas me contundi e não pude participar da finalíssima no Rio.

DIÁRIO - Uma polêmica?
DIEGO
- Em 1999 ou 2000, se não me engano, surgiu um lance nos meus tempos de juniores. Um colega nos roubava nos vestiários. Roubava dinheiro.., Roubava objetos... Roubava roupa... Descobrimos quem era o ladrão..

DIÁRIO - E quem era?
DIEGO
- Não vou citar o nome dele. Só para ver como são as coisas, esse cara ainda joga em grandes clubes do futebol nacional e internacional. Ficou bem rico.

DIÁRIO - E não tomaram providência?
DIEGO -
Nenhuma. Como capitão, pedi que o mandassem embora. Pensei: sinto muito. Mas o clube preferiu mantê-lo. Como era titular e tinha moral...

DIÁRIO - E quanto ao profissionalismo, nunca mais?
DIEGO -
Sempre me convidam. Aos 29 anos, não é a mesma coisa. Seria um recomeço meio complicado.

DIÁRIO - Agora, volte a fita.
DIEGO -
Ah, é o seguinte: os antigos dirigentes me prejudicaram. E quando eles resolviam trazer o Ferreira (Luiz Carlos, técnico)?

DIÁRIO - Houve o quê?
DIEGO
- É o pior técnico que conheci. Ofendia, xingava, te colocava lá embaixo. Veja só. Em 2003, o Rotta montou o nosso elenco. Depois, trouxeram o Martins, que caiu no fim do campeonato. Buscaram o Ferreira. Subimos à Série B, mas esqueceram do Martins e atribuíram o acesso ao Luiz Carlos Ferreira.

DIÁRIO - Era um relacionamento muito complicado?
DIEGO
- De perseguição, sei lá. O Ferreira logo me tirava. A diretoria cruzava os braços e se omitia. O Vagner Benazzi e o Luís Carlos Martins foram os meus melhores treinadores. Eram de um outro nível. Nem se comparavam.

DIÁRIO - O Alex e você formavam uma boa dupla.
DIEGO
- Olha, o Alex é um p... de um zagueiro. Formávamos uma dupla e tanto. Mas eu comandava tudo.

DIÁRIO - E o Projeto Jovem Santo André, fracassou?
DIEGO
- A maioria desapareceu do mapa. Acredito que tenha faltado incentivo. Faltou retaguarda aos garotos. Negociaram quem? Me digam. Se o clube não adotasse o atual perfil, acredito que afundaria. Hoje, estaria na Terceira Divisão estadual e nacional.

DIÁRIO - Aos poucos, você procurou novos rumos?
DIEGO
- Pude escrever a minha história baseada na dignidade. Aí vejo que a minha mulher estava grávida (Alexandra, mãe de Giovanna e Guilherme). São as pessoas que me fortalecem nas horas em que... Os três e os meus pais (Pedrão e Cleonice).

DIÁRIO - E para concluir...
DIEGO -
Talvez eu não tenha chegado mais longe na carreira porque o futebol é um meio sujo. Nunca fui conivente ou covarde na frente das coisas erradas. Me considero um cara correto na vida igual ao meu herói Pedrão... Meu pai é uma pessoa que ... Se fosse para falar dele, diria... (Diego põe as mãos no rosto e chora)




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