Como qualquer profissional liberal, Beatriz precisa arcar com todos os custos do consultório, diferentemente dos profissionais contratados por empresas. “Só de materiais descartáveis, gasto R$ 400 por mês. O aluguel do espaço, que divido com um colega, é de R$ 700.” A última conta de luz do consultório registra um valor de R$ 100, e os salários dos três profissionais contratados pelos dois médicos – duas secretárias e uma faxineira – somam mais de R$ 2 mil mensais se forem somados os encargos sociais.
Perdas e ganhos – Enquanto isso, convênios como a Ômega e a Imasf (que negociaram recentemente um aumento junto aos médicos) pagam R$ 26 e R$ 25 por consulta, respectivamente. Se forem considerados todos esses valores, não é difícil entender porque os profissionais de medicina dobram seus expedientes atualmente. Na última sexta-feira, Beatriz atendeu 20 pacientes no consultório. Uma média de atendimentos que resulta em cerca de 240 consultas/mês, descontando eventuais procedimentos cirúrgicos. Se cada um desses atendimentos render R$ 26 brutos para o médico (valor pago pela empresa Imasf, que atende os funcionários da Prefeitura de São Bernardo), o rendimento será de R$ 11.440 ao mês.
No entanto, 40% desse valor é pago em impostos, o que significa uma carga tributária de nada menos que R$ 4.576. Restariam à ginecologista, R$ 6.864, caso a médica não tivesse que arcar ainda com as despesas do consultório. De acordo com os valores fornecidos pela ginecologista e os cálculos feitos pela reportagem, a soma desses gastos com salários, aluguel, luz, água, materiais e telefone somam pelo menos R$ 2,2 mil, o que significa que restam menos de R$ 5 mil de rendimento líquido ao mês para a médica, caso não existam procedimentos cirúrgicos agendados para engrossar a renda.
“E eu pago os cursos superiores das minhas duas filhas. A mensalidade da que cursa medicina é de R$ 1,8 mil, o que prova que nós médicos gastamos muito para estudar”, observa Beatriz, que é viúva e recebe uma pensão de pouco mais de R$ 1,3 mil do marido falecido, que também era médico. “Mesmo nos tempos daquela inflação horrorosa, anos atrás, era menos ruim a nossa situação. Os impostos aumentaram demais e as empresas de saúde obrigaram os médicos a atuar como pessoas jurídicas, o que significa drástica redução de custos para essas empresas e uma queda brusca em nossos rendimentos”, declara.
Solidariedade – Mas a médica ainda encontra espaço para a solidariedade em meio à crise. A paciente Alessandra Cristina Sangregório Pereira, de 23 anos, ganhou os procedimentos cirúrgicos da médica na última sexta-feira. Cliente da Medial Saúde, uma das empresas boicotadas pelos médicos, Alessandra pagou R$ 42 pela consulta mas não precisou custear as pequenas intervenções cirúrgicas, que a médica Beatriz realizou no próprio consultório. “Ela nem comentou nada. Fez de graça”, contou.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.