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Túnel descoberto em casa de marceneiro revela história de Santos
22/03/2009 | 07:12
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Um buraco nos fundos de uma marcenaria no Centro Histórico de Santos desvendou um antigo mistério na cidade: o túnel por onde passa o Rio Nossa Senhora do Desterro, fechado provavelmente em 1894.

Com três metros de profundidade, o túnel mede, em média, 1,10 metro de largura e 1,90 metro de altura. "Historicamente falando é uma descoberta fabulosa", disse o historiador e estudioso da Fundação Santos, Waldir Rueda. Ele acredita que o percurso do túnel pode confirmar a antiga lenda que aponta uma ligação subterrânea entre a Igreja do Valongo e o Mosteiro de São Bento.

Rueda disse que a novidade é que o túnel condiz com a descrição de um mapa de 1822. "No mapa a gente vê bem que ele passa embaixo dos imóveis e, se não tivesse aparecido esse buraco na marcenaria, a gente nunca o descobriria", disse.

O barulho da água corrente era o que mais intrigava o marceneiro Márcio Ricardo Fidalgo, que há um ano e meio alugou um velho imóvel da Rua São Bento, no bairro Valongo, com um buraco no quintal. "Não tinha cheiro ruim, mas um vizinho que via do alto vivia falando para eu cimentá-lo". Fidalgo carpia e limpava a área quando se deparou com o buraco.

Testes da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) mostraram que a água vem de nascente, pois não tem cloro. "O rio corria a céu aberto, nascia no Morro São Bento e desaguava no cais. Mas em 1894, com a campanha sanitária por causa da epidemia de malária de 1892, fecharam o rio com o arco de tijolos", explicou o historiador.

A canalização começou com a Vila de Santos, em 1546, quando foram construídas margens de pedra para o rio correr. O arqueólogo Manoel Mateus Gonzalez disse que o túnel mostra a transição da cidade e as mudanças de tecnologia. Sua construção teve ainda uma fase intermediária, por volta de 1850. "Em cima do muro de rocha e sob tijolos, há argamassa antiga, feita de concha moída, areia e óleo de baleia", ressaltou.

Outra constatação foi a de que a sociedade antiga vivia três metros abaixo do atual nível da rua. "Achamos artefatos arqueológicos, garrafas de grés de 1830 que vinham da Alemanha com água gasosa, vendida como remédio, faiança fina inglesa", contou Gonzalez, que constatou que o túnel tem 762 metros.

Waldir Rueda acredita que o túnel também passa sob as ruínas do Casarão do Valongo, onde será construído o Museu Pelé. O local está a apenas 50 metros da marcenaria.

O prefeito João Paulo Tavares Papa (PMDB) prometeu desenvolver projeto turístico no local. "Essa é certamente uma descoberta que será transformada em curiosidade turística", disse.




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