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Sem-teto ameaçam ocupar prédio em Mauá
Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
25/11/2005 | 08:26
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O MSTU (Movimento Sem-Teto Urbano) ameaça ocupar os apartamentos do conjunto habitacional no Jardim Paranavaí, em Mauá. Os 160 imóveis do Caixa Econômica Federal estão prontos há cerca de três anos e até hoje não foram entregues para as famílias cadastradas.

No início, os problemas giravam em torno da documentação dos apartamentos, que não tinham o habite-se. Hoje, segundo a Caixa, que construiu o prédio, o impasse se deve a “deterioração dos serviços já executados”.

Nesses três anos, o edifício foi alvo de depredações e furtos. Muitos apartamentos foram saqueados. Torneiras, fios e tomadas foram levados. Nas áreas comuns, a situação também é crítica. O mato alto tomou conta do que um dia já foi um jardim. Nas janelas, quase todas com venezianas estão amassadas, vidros foram quebrados e os beirais estão se desmanchando, expondo a armação que sustenta a alvenaria.

Para construir o conjunto habitacional, o governo federal investiu mais de R$ 4 milhões. Agora, para tentar recuperar os prédios, um levantamento está sendo feito dos itens que precisam ser refeitos e está em análise o processo para contratação de uma empresa privada para a execução da reforma. Ainda assim, a Caixa não se arrisca em determinar prazos para entrega dos apartamentos.

Irritados com a situação, alguns dos futuros moradores já pensam inclusive em ocupar à força os apartamentos. A decisão sobre a invasão será definida dia 11 de dezembro durante uma reunião entre militantes do MSTU de Mauá, que reivindicam parte dos apartamentos. “Temos mais de 400 famílias cadastradas, que moram em favela e pagam aluguel”, diz Severino Cassiano, líder do movimento na cidade.

O único problema é que a escolha das famílias que irão morar no conjunto não depende do MSTU, mas sim da Prefeitura de Mauá. Procurada pela reportagem na última terça-feira para comentar o assunto, a administração municipal informou que os prédios não foram construídos pela Caixa Econômica, mas sim pela CDHU, companhia habitacional ligada ao governo do Estado, e que a Prefeitura não tinha qualquer vínculo com o empreendimento.

Quinta-feira, voltou atrás e alterou a declaração. Afirmou que o conjunto de 160 apartamentos é sim da Caixa e justificou o erro anterior dizendo que no Jardim Paranavaí há outro condomínio em construção, esse sim da CDHU. Com relação a indicação da lista de moradores que irão ser transferidos para os apartamentos, informou que a Caixa ainda não procurou a administração para discutir o assunto. A Caixa não afirma se a administração passada entregou a relação de famílias.

Déficit – O déficit habitacional de Mauá é de 15 mil moradias. A cidade possui 122 favelas e 20 mil pessoas vivem em áreas de risco, sujeitas a deslizamentos de encostas e alagamentos. Há dez anos, Luzia Ângelo, 26 anos, engrossa essa realidade. Desempregada, ela vive com o marido em uma casa alugada no Jardim Itapeva. “Com o dinheiro que a gente ganha, tá difícil viver.”

Integrante do MSTU, ela está segura de que ficará com um dos apartamentos do condomínio fantasma e já garantiu presença na reunião que o movimento fará no próximo dia 11 para decidir se haverá ou não invasão dos prédios. Em 2003, quando um conjunto habitacional – também construído pela Caixa – foi inaugurado ao lado do prédio hoje em questão, militantes do Movimento Sem-Teto Urbano de Mauá conseguiram ficar com 86 dos 160 apartamentos disponíveis.

Na época, um dos beneficiados foi a família do mecânico aposentado José Domingues Ribeiro, 56 anos, o Zé Colméia. Antes da liberação das chaves, ele morava com a mulher em uma casa alugada na Vila Ana, bairro próximo do Jardim Itapeva. “Agora a gente tem nossa própria casa. Outra coisa, né?” Pelo apartamento, de quase 50 m², o pedreiro assumiu uma dívida de 15 anos com a Caixa com prestações mensais de cerca de R$ 280.




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