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Brotam sambas das antigas em ‘As Árvores’
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
26/09/2005 | 08:30
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Maltratado pelos pagodeiros de butique, com suas músicas lacrimosas e de rimas pobres, o samba recebe do cantor e compositor carioca Osvaldo Pereira o carinho de quem conhece bem o estilo e busca fontes certas. Ganhador do Prêmio Sharp 1999, na categoria revelação, o músico buscou as raízes do gênero e encontrou em Noel Rosa sua melhor fonte de inspiração em seu novo disco As Árvores (Dubas Música, R$ 19,90).

Composto por 12 faixas e produzido por Luís Filipe de Lima, traz letras espertas, carregadas de ironia, que reproduzem com roupagem moderna o jeito brejeiro dos bambas das antigas. Um exemplo dessa boa malandragem é o samba Sorriso, com um cinismo típico desses tempos de CPIs. "Quem tem duas caras devia ter paralisia no maxilar", diz um trecho.

Igualmente político, mas impregnado de densidade no tema e na sonoridade, é outro bom momento do álbum, O Artista que Mudou de Profissão, elegia do desencanto de quem sonha em viver da própria arte ("É triste ver pela rua nublada/ De gravata e camisa suada/ O artista que mudou de profissão"). O arranjo de Itamar Assiere e a máquina de escrever percussiva de Beto Cazes se destacam.

Em Poente e Meu Lugar, a ironia cede espaço a quietude e contemplação. Toda a Cidade Vai Cantar de Novo tem feitio de oração, moldada no inconsciente idealista que os mestres do samba souberam deixar. Vento no Bambuzal sopra a brisa do Nordeste, a reboque do pífano de Carlos Malta e das cordas de João Lyra e Nicolas Krassic.

"Eu que vivo de idéias estou faminto", despista Osvaldo em Idéias, acompanhado pelo violão de Carlos Didier, biógrafo de Noel e integrante do extinto grupo Coisas Nossas. Essa faixa tem participação do ritmista Eliseu, que gravou com dez entre dez sambistas a partir da década de 60, e foi redescoberto como flanelinha no Rio. Com tanta qualidade, não é exagero afirmar que Pereira é a árvore dos poetas da nova geração.




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