Política Titulo Editorial
Desalento juvenil
Por Do Diário do Grande ABC
14/11/2020 | 10:05
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 Especialistas e pesquisas de opinião pública, entre elas a encomendada pelo Diário ao Ibope Inteligência, dizem que as eleições de amanhã devem registrar um dos maiores índices de abstenções desde a redemocratização do Brasil, há 35 anos. Boa parte do eleitorado que não irá às urnas é formado por jovens de 16 e 17 anos, a quem a legislação faculta o direito de participar do processo de escolha de seus representantes. O desinteresse dos jovens por um dos mais importantes atos de cidadania garantidos pela Constituição da República, em um País que saiu há pouco do regime ditatorial, é preocupante. E sintomático.

Consultado em reportagem publicada nesta edição, o sociólogo Fábio Gomes entende que a polarização partidária acabou fazendo com que os jovens criassem antipatia pela política. A aversão de eleitores mais jovens ao exercício do voto teria raízes fincadas na conflagração em que se transformou a disputa pelo poder no Brasil. Políticos populistas, mais interessados em vencer o debate do que em discutir soluções às mazelas nacionais, destruíram os pilares da boa política, criando, assim, hordas de cidadãos apáticos.

Não é difícil comprovar a tese do especialista. Basta ver a reportagem que deu azo à manchete de hoje do Diário. O ódio, as paixões, o fanatismo e a intolerância ocuparam o espaço onde deveriam grassar o debate, o diálogo, a troca de ideias, a cordialidade e, especialmente, o respeito a quem pensa diferente. Alguém já disse que a política é a arte de construir consensos possíveis por meio do diálogo – ou seja, exatamente o oposto do que se vê nas campanhas de hoje.

Despertar a atenção dos jovens pela política, resgatando-os da apatia em que estão mergulhados, é o principal desafio dos que se dispõem a entrar na disputa por corações e mentes. Negar a importância da participação popular nos destinos do País, dos Estados e dos municípios é flertar com o arbítrio e o absolutismo. Como bem lembrou o filósofo francês Francis Wolff, em recente visita ao Brasil, o desinteresse pela seara política pode acabar ameaçando a própria democracia.




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