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Grande ABC perde 32,9 mil
empresas no período de um ano

Retração foi de 10% em relação ao ano passado; efeitos da pandemia também já são observados

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
20/06/2020 | 03:53
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Denis Maciel/DGABC


O Grande ABC perdeu 32,9 mil empresas nos setores de indústria, comércio e serviços no período de um ano encerrado em abril, o que representa queda de 10% em relação a 2019. O resultado já mostra a influência da pandemia, que afetou drasticamente a economia, e reforça o sinal de alerta na região, que vem perdendo grandes indústrias há pelo menos 30 anos.

Os números são do estudo IPC Maps 2020, da IPC Marketing e Editora – divulgado neste mês –, e mostram que atualmente o Grande ABC concentra 293,1 mil empresas. Em 2019, eram 326,1 mil. Ou seja, foram cerca de 90 fechamentos a cada dia no período de um ano.

O setor que mais sofreu perdas foi o comércio, com o fechamento de 21,6 mil estabelecimentos – redução de 24,4% (veja mais na arte ao lado). De acordo com o coordenador do IPC Maps 2019, Marcos Pazzini, isso acontece porque as lojas foram mais impactadas pelo fechamento no período de isolamento, que durou cerca de três meses no Estado – a reabertura gradual na região começou nesta semana.

“A maior parte do comércio precisou fechar as suas portas porque não estava dentro dos serviços essenciais. Eles tiveram que se virar com os serviços de entrega e não eram todos que estavam preparados para isso. As indústrias puderam continuar trabalhando, muitas fecharam por precaução, mas de qualquer forma foram as primeiras a voltar”, afirmou.

Segundo ele, um movimento que também foi identificado em todo o País foi a chamada perjotização, decorrente de uma “abertura desenfreada” de PJs (Pessoas Jurídicas) nos últimos anos. “Muita gente com carteira assinada viu a oportunidade de trabalhar e prestar serviços às empresas. Agora, em 2020, aliado à pandemia, tivemos queda maior nestes registros”,disse Pazzini. No setor de serviços foram 7.604 fechamentos, o que representou retração de 4%.

Porém, a indústria, que representa o maior valor agregado no PIB (Produto Interno Bruto) da região, também registrou encerramento de firmas. Os dados que englobam diversos segmentos, inclusive a indústria de transformação, mostram que 4.032 fecharam (menos 8% em relação a 2019).

O fechamento de empresas, observado na região desde a década de 1980, causa um fenômeno urbano, a chamada degradação de áreas industriais. São elas, a ocupação dos terrenos que abrigavam fábricas por outras atividades, como shoppings ou empreendimentos imobiliários, ou até mesmo a ociosidade do terreno (veja exemplos abaixo).

Material elaborado pela professora da USJT (Universidade São Judas Tadeu) Andrea de Oliveira Tourinho e pela mestranda da mesma universidade Gisele Yamauchi analisa essa situação na região e projetos anteriores que discutiram o assunto. “A região precisa se manter como referência industrial. Para isso é preciso resgatar debate do poder público e engatar essa conversa com as universidades, sindicatos e demais entidades do Grande ABC”, disse Gisele.

“O Grande ABC precisa se reinventar e achar alternativas para aproveitar a mão de obra com vocação industrial e atrair novos negócios”, analisou Pazzini.

Parte da área da Matarazzo será parque

Quando se fala em áreas vazias no Grande ABC, que anteriormente abrigaram grandes parques fabris, uma das mais conhecidas é a da Indústrias Reunidas Matarazzo, no bairro Fundação, em São Caetano, parte da qual vai virar parque dentro de projeto da Prefeitura. O processo está em fase de licitação, e a previsão é a de que as obras tenham início no segundo semestre.

Em 1912, o Grupo Matarazzo arrendou as quatro fábricas da antiga Pamplona, que produzia sabões e óleos vegetais em São Caetano. Foi esse o início do império da Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, que até a década de 1980 – quando foi decretada a falência – trabalhou com produtos como seda, louça e azulejo, papel, papelão e celulose, ácidos, soda cáustica, entre outros.

A ideia de fazer um parque no terreno, no qual ainda estão em pé a chaminé da antiga fábrica e parte da fachada, é discutida desde 2007. Foram avaliados diversos projetos para o espaço de 220 mil metros quadrados, que esbarraram na contaminação de parte da área. No fim do ano passado, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) autorizou a Prefeitura a construir o parque, na porção que pertence ao município, com adoção de medidas de limpeza.

Questionada sobre o terreno, a Prefeitura informou que no âmbito do plano diretor do bairro Fundação – programa Refundação está prevista a implantação de parque público em trecho de 18 mil m² da área total outrora ocupada pela Matarazzo. “No momento, encontra-se em andamento a licitação para contratação das obras de implantação, cujo prazo de execução é 180 dias, com previsão de início no segundo semestre de 2020”, informou, em nota.

Quanto ao restante da área, também no âmbito do plano diretor, se encontra em fase de estudos de pré-viabilidade projeto de intervenção urbana. “A ideia geral da proposta é promover a reurbanização da área através da reinvenção de sua vocação econômica e da recomposição de suas ligações com o tecido urbano adjacente, considerando conceitos contemporâneos que tratam da construção de cidades compactas e sustentáveis. O horizonte de implantação, a princípio, abrange o arco 2020-2025, indicado no programa Refundação, mas dependerá de validação pelos estudos em andamento e por outros, mais aprofundados, a serem realizados oportunamente”, afirmou a administração municipal.

Ford e construtora oficializam acordo sobre a fábrica de São Bernardo

A Ford anunciou oficialmente, ontem, a assinatura de memorando de intenções para a venda da fábrica de São Bernardo, no bairro Taboão, com a Construtora São José, especializada em empreendimentos imobiliários logísticos e comerciais de alto padrão. Segundo a montadora, o acordo é resultado de processo de seleção que envolveu série de potenciais compradores, no qual a construtora apresentou a melhor alternativa para a planta e para a região. As partes não confirmam, mas o negócio giraria em torno de R$ 550 milhões, segundo o mercado.

A conclusão desse processo depende da realização de diligência conjunta, que deve ser completada no prazo de 90 dias. “A assinatura desse memorando de intenções é passo importante para a concretização da venda da fábrica de São Bernardo”, disse Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul. “Nós avaliamos série de alternativas e acredito que chegamos à melhor solução entre as opções disponíveis para atender às necessidades da região e gerar empregos.”

Em reunião realizada por videoconferência com o executivo, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC recebeu a confirmação de que a montadora negocia com a construtora. A entidade solicitou a conversa para saber se de fato havia negociações encaminhadas.

“Durante o processo de fechamento da fábrica, no decorrer do primeiro semestre de 2019, houve o comprometimento da Ford com o sindicato de que a negociação para venda da área teria como premissa a manutenção de um complexo de produção industrial que pudesse oferecer oportunidade de trabalho aos ex-funcionários. Porém, na reunião de hoje (ontem), a Ford não esclareceu que tipo de negócio será realizado no local pelo possível comprador, apenas que este se concentrará na área de logística”, informou o presidente Wagner Santana, o Wagnão, por nota.

O sindicato afirmou que segue defendendo a manutenção do parque fabril e dos empregos, “e estará atento, cobrando do poder público o compromisso que a área não se transforme em um condomínio residencial.” 




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