Um sistema que centraliza no hospital o atendimento à vítima de violência sexual, evitando assim que ela tenha de transitar e repetir sua história em três instituições diferentes, tem aumentado o número de denúncias e de cuidados médicos prestados na região de Sorocaba, a 92 quilômetros de São Paulo, e começa a se expandir para outras regiões do Estado.

Chamado PAI (Protocolo de Ações Integradas em Atendimento à Vítima de Violência Sexual), o modelo funciona a partir de uma parceria entre o hospital, a delegacia e o IML (Instituto Médico Legal).

Assim que a pessoa chega ao hospital, ela passa por um exame médico, recebe medicamentos profiláticos (4 injeções e 13 comprimidos que incluem anti-retrovirais e pílula do dia seguinte, se a vítima for mulher), e é orientada sobre o direito de fazer denúncia criminal.

Caso aceite, o hospital aciona a delegacia, que envia uma pessoa, e o IML, que também envia um perito.

O exame de corpo de delito e a denúncia são feitos no mesmo local. “Estava analisando as estatísticas de violência sexual e percebi que os números dos hospitais eram muito diferentes dos das delegacias. Em alguns meses, tínhamos 6 atendimentos no hospital e 20 denúncias, ou seja, muitas vítimas não estavam recebendo o atendimento médico. Em outros casos, ela vinha para o hospital, mas não tinha disposição de procurar o IML e a delegacia”, explica José César De Laurentiz, médico perito responsável pelo protocolo e diretor do Núcleo de Perícias Médico-Legais de Sorocaba.

Após a implantação do protocolo, o número de atendimentos no Conjunto Hospitalar de Sorocaba, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, subiu para 35 e em alguns meses chegou a 40. “Além disso, é importante ressaltar que 90% dessas vítimas são mulheres. E dentre esses, 70% têm menos de 18 anos, parte entre 5 e 12 anos.”

Outro dado importante é o fato de em mais de 65% dos casos os agressores serem pessoas conhecidas das vítimas – maridos, vizinhos ou padrastos, no caso das crianças.