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Carros em três colisões
Por Do Diário do Grande ABC
27/05/2017 | 07:00
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Quando aceleramos um carro, uma carga emocional toma seus ocupantes por alguns segundos. Sentimos a força da aceleração. Com o movimento estabilizado, velocidade constante e em via sem curvas, surge sensação de segurança, mesmo que se esteja em um veículo antigo ou até mal mantido.

Contudo, ao frearmos, a quantidade de energia acumulada no movimento tem que ser dissipada. Freios acionados, redução de velocidade. A energia é dissipada no atrito dos pneus com o pavimento. Caso não se consiga dissipar toda a energia no espaço até um obstáculo, o resultado, colisão, terá diferentes consequências, dependendo fortemente da velocidade. A energia não dissipada na freagem chegará aos ocupantes.

Se em descida longa, a redução da quantidade de energia na freagem causa aquecimento excessivo nos freios. Por isso, frear em descidas extensas sem estar engatado leva-se à exaustão do sistema. Além disso, ao se descer engatado, em carros de tecnologia mais recente, fecham-se os bicos injetores. Praticamente não se gasta uma gota de combustível até ao fim da rampa.

A freagem que acaba em colisão foi exaustivamente estudada por montadoras e seus corpos técnicos. Pistas de testes e cansativos experimentos geraram novos projetos veiculares. Para entender o que ocorre em frações de segundo no veículo que colide sob velocidade excessiva, a teoria das três colisões dá um cenário simples para qualquer passageiro passar a pensar se vale a pena ficar sem cinto, viajar em carros antigos ou mal mantidos ou ainda ter um motorista que bebeu, mesmo pouco, ou que dono de barbearia seja um dos seus apelidos. Ao motorista, compreender o que significa o peso no acelerador, em ambiente nacional da contracultura, de que multa dá dinheiro para o governo.

Ao se colidir contra um obstáculo, ocorre a primeira colisão. Perde-se velocidade e o veículo começa a mudar sua forma. A energia não dissipada gera diferentes níveis de amassamento. Quanto menor a rigidez do cofre do motor, o conhecido espaço abaixo do capô, mais se absorve o choque, transmitindo menos para o interior do veículo. Muitos acham que veículo moderno bate e acaba, para obrigar a venda de novos. Poderia até ser uma meia verdade, afinal, no veículo antigo, de elevada rigidez na frente, transferia a energia diretamente para os ocupantes, matando-os, em geral. Nos novos, permanecem vivos e podem comprar novos...

Logo após o choque os ocupantes se deslocam na direção do veículo: é a segunda colisão. Estes param no painel, banco da frente ou no cinto de segurança. Direção antiga de barra de aço e painel rígido geravam vítimas fatais, em associação ao não uso do cinto de segurança. Impacto torácico ou craniano. No caso de capotamento e impacto lateral exigem-se outras abordagens técnicas. São de risco alto até nos dias de hoje, por isso, rodovias de alta velocidade precisam ser bloqueadas, não permitem acessos laterais.

A terceira colisão, a do cérebro contra a caixa craniana. O resíduo de energia da segunda colisão tende a acarretar não mais que concussão cerebral, ou seja, um boot do computador humano. Sem sangramentos internos, a não ser hematomas subcutâneos, as vidas estão salvas. A velocidade em que este cenário ocorre é da ordem de até 60 km/h no instante da primeira colisão. Leigos poderiam justificar que cinto não ajuda, porque andam em rodovias de limite 100 km/h a 120 km/h. Contudo, entre a observação do risco de colisão e o percurso de freagem que a preceda há tendência de considerável redução da velocidade, suficiente para se enquadrar no limite preconizado de máxima proteção.

Creso Peixoto é mestre em Transportes e professor da FEI.
Email para esta coluna: cresopeixoto@gmail.com 




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