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Rap caprichado de Criminal D
Por Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
07/04/2001 | 14:59
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Ele é santista, já foi estivador, capoeirista, lutador de boxe e cabeleireiro dos manos da baixada. Ele é Criminal D, rapper que lança seu primeiro CD, O Conteúdo do Sistema (Trama, R$ 20 em média), mostrando um rap sofisticado, no qual cabe até uma referência à fuga do traficante Escadinha. O vocalista e compositor é acompanhado pela dupla Gangue de Rua, formada por por Lord e Nego Cy.

O CD, produzido por João Marcello Bôscoli, surpreende logo de cara, com introdução de 87 segundos com som de helicóptero, gente falando, tiros e latidos de cães. “A idéia era mostrar uma fuga espetacular, como foi a do Escadinha”, diz Criminal D. O traficante em questão foi resgatado de helicóptero do presídio da Ilha Grande, no Rio, em 1986.

Essa introdução emenda com Retrato Falado, que fala sobre a vida na prisão. Ela já é um aperitivo do que vem pela frente: um rap menos verborrágico e mais melodioso, que sofre influências diversas sem perder sua identidade hip hop.

Carro Cinza, a quinta faixa, é um dos pontos altos. Nela, o rapper fala sobre o recorrente tema do policial corrupto com uma linguagem renovada, que deixa o ouvinte completamente envolvido.

Interessante também é que Criminal D, pai de quatro filhos, não deixa de fazer seu alerta para os jovens não entrarem no caminho errado. Mas sem hipocrisia. Em Abra o Olho, por exemplo, o refrão dá o aviso: Abra o olho, não vacile, não seja trouxa/ A malandragem pode te matar.

“Tem de rolar um toque de prevenção. Tem grupo que transmite isso (apologia do crime), o que, para o garoto de mente fraca, acaba só dando adrenalina”. O próprio Criminal D poderia ter sido mais um a seguir o caminho errado. Não concluiu o ensino fundamental e, profissionalmente, só se deu bem mesmo como cabeleireiro.

Seu primeiro CD demo foi financiado por um traficante que cortava o cabelo com ele. “Ele me deu R$ 5 mil, e sem isso eu não teria como lançar meu trabalho. Mas me tratava como artista, cada um na sua”, conta. A “parceria” durou pouco pois, segundo ele, o tal traficante morreu tempos depois.




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