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Diretor da Fiesp critica política de privatizaçao
Do Diário do Grande ABC
22/01/2000 | 13:00
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A indústria paulista apóia a hipótese - admitida por integrantes do governo - de dar novos rumos para os recursos das privatizaçoes, até agora utilizados para o resgate da dívida pública. E reforça que a transferência da responsabilidade sobre o processo de privatizaçao das empresas energéticas, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o Ministério das Minas e Energia só deve surtir efeitos positivos se o governo adotar, ainda, o modelo de pulverizaçao das açoes das estatais junto ao público, de maneira que um grupo nacional mantenha o controle da administraçao.

Para o coordenador do Grupo de Política Industrial da Federaçao das Indústrias do Estado de Sao Paulo (Fiesp), Roberto Jeha, uma eventual mudança da atual política pode indicar que o governo "acordou". Segundo Jeha, o modelo de privatizaçao adotado pelo governo nao trouxe nenhum benefício. "A política do governo segue o consenso de Washington, onde a idéia é 'vamos privatizar tudo já que órgaos reguladores vao defender os consumidores'. Mas os órgaos reguladores nao têm força para enfrentar empresas como a Telefonica ou a MCI, por exemplo", afirmou Jeha.

O empresário defende o argumento de que tanto faz o BNDES ou o Ministério das Minas e Energia assumir o encaminhamento das privatizaçoes, porque é o governo, diz ele, quem decide como realizar as privatizaçoes e destinar os recursos. "Com ou sem BNDES, as concessionárias de serviços públicos deveriam ter ficado, obrigatoriamente, nas maos de brasileiros, por questoes estratégicas", avaliou. Ele acredita, no entanto, que o presidente Fernando Henrique Cardoso daria um bom passo se mudasse a destinaçao dos recursos.

"Os ventos estao mudando", disse. Mas acrescenta: "A venda do patrimônio público nos últimos oito anos nao foi suficiente para o governo pagar juros de um ano só", calculou. Para Jeha, os recursos advindos de empresas estrangeiras, algumas financiadas pelo BNDES, nao trouxeram dividendos, porque a médio e longos prazos, as estrangeiras vao gerar déficit na balança de pagamentos do Brasil em razao das remessas de lucros.

Com base em dados do próprio BNDES, argumentou Jeha, no período entre 1991 e 30 de julho de 1999, os recursos do governo arrecadados com privatizaçoes federais - telecomunicaçoes, siderúrgicas e energéticas - somaram US$ 57,964 bilhoes, o equivalente a R$ 104,335 bilhoes (um dólar cotado a R$ 1,80). Desse total, o setor de telecomunicaçoes arrecadou US$ 26,978 bilhoes com vendas e US$ 2,125 bilhoes com transferências de dívidas, enquanto o PND somou US$ 19,660 bilhoes, de vendas, mais US$ 9,201 bilhoes, com repasse de dívidas.

Jeha alega que, só no último ano (período entre agosto de 1998 e 31 de julho de 1999), o governo pagou de juros o correspondente a R$ 129 bilhoes. O resultado representa, assim, déficit de R$ 25 bilhoes. "A política de privatizaçoes foi um desastre", sentenciou o empresário. Para ele, a política de juros, a sobrevalorizaçao cambial e o modelo de privatizaçoes patrocinou a venda do patrimônio público sem resultados para o país.

Ele avaliou ainda que, caso o Brasil cresça 4% ou 5% ao ano, segundo as previsoes, vai faltar energia, porque o país, diz ele, nao investe neste setor há mais de 20 anos. "Em vez de ter vendido empresas energéticas para estrangeiros, por que o governo nao as estimulou construir usinas hidrelétricas?", perguntou. "Tem conclusao mais melancólica do que essa?"




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