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Até aonde deve ir a brincadeira no trote?
Bruna De Grande
Especial para o Diário
25/01/2015 | 07:00
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Arquivo Pessoal


O trote de faculdade é um modo de recepcionar os calouros e acontece na maioria das universidades. Há veteranos que pegam leve. Entretanto, alguns exageram na brincadeira, que pode terminar de maneira desagradável. 

Para muitos novatos, o trote também é considerado uma festa para comemorar a entrada no curso que tanto desejavam. Afinal, não é fácil conviver com a pressão de escolher uma profissão e de passar no vestibular. Contudo, uma recepção abusiva e violenta pode dobrar esse sofrimento.

Apesar de todos os casos extremos retratados na mídia, muitos estudantes ainda se submetem aos pedidos dos veteranos, mesmo que não tenham vontade. Isso acontece porque o trote, em geral, serve como um teste. O aluno acredita que, se negar a participação, não será aceito no grupo. 

Mas, segundo Carlos Eduardo Freire, professor de Psicologia da PUC-SP, nem sempre é necessário aceitar todas as exigências que nos colocam. “Não é dizendo ‘sim’ a tudo que faremos amigos e teremos garantia de aceitação no grupo. Frequentemente, as pessoas acreditam que a primeira impressão é a que fica. Mas isso não é verdade, pois a amizade é uma relação que se constrói com o tempo.” 

O especialista aconselha os calouros a aceitar os próprios limites e não se submeter a situações que não lhe façam bem. Vale pesquisar se o trote da universidade que você ingressará costuma ser ou não tranquilo. Se ficar receoso ou não se sentir confortável, vá à faculdade depois da primeira semana de aula, quando as brincadeiras já tiverem terminado.

Recepção divertida e acolhedora

A vida é marcada por ritos de passagem. Entrar na faculdade é um deles. Por isso, é importante que os estudantes e a faculdade preparem as boas-vindas para acolher os calouros, segundo o pedagogo da Universidade Metodista de São Paulo, Edson Fazano. “O melhor jeito de ter um trote saudável é por meio do diálogo entre a universidade e o aluno”.

A estudante de Comunicação Mercadológica da Universidade Metodista Yasmin Brandão Engelmann, 19 anos, queria participar do trote, mas tinha medo. Mesmo assim, aceitou a brincadeira e se divertiu. “Fui com a cara e a coragem. Sabia que isso marcaria minha entrada na faculdade e conheceria pessoas na mesma situação que eu.”

Os veteranos fizeram o trote clássico. “Mesmo que tenham cortado a minha roupa e jogado tudo que existe de nojento e fedido em mim, me diverti e conheci pessoas legais”, afirmou Yasmin, que já confirmou a presença no trote deste ano. “É dia de aproveitar com a galera e começar o ano de modo divertido”, finalizou.

Exagero pode virar crime

O primeiro caso de trote universitário registrado no Brasil acabou em morte, segundo dados do Guia do Estudante.

Em 1831, na Faculdade de Direito de Recife – atual Universidade Federal de Pernambuco –, o calouro Francisco Cunha e Menezes se revoltou com as brincadeiras exageradas. Ao tentar deixar o local, foi morto a facadas por um dos estudantes mais velhos que participavam do trote.

Os casos extremos de violência incentivaram a criação de um projeto de lei que considera o trote universitário crime.

Segundo o professor Roberto Archanjo, especialista em Direito Penal da Faculdade de Direito de São Bernardo, o projeto foi aprovado em 2009 com emendas que permitiam à faculdade aplicar penas aos alunos por seu comportamento, como multas, suspensão e cancelamento da matrícula. No ano passado, foi proposto que o trote se tornasse crime punido com detenção de seis meses há dois anos.

O problema é tão sério que existe uma CPI no Senado sobre o assunto, investigando o caso de alunos que sofreram violëncia sexual na Faculdade de Medicina da USP.




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