Em clima intimista e familiar, o cantor, compositor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, 67 anos, participou na terça-feira no Teatro Bradesco, em São Paulo, do segundo e último dia de gravação do DVD "BandaDois". No cenário simples e elegante, formado por banquinhos posicionados em palco circular e giratório, o tropicalista apresentou-se ao lado dos filhos Bem Gil (violão e percussão), 24, e o caçula José (baixo), 18.

No show, previsto para chegar às lojas em 23 de novembro, Gil lustrou antigas pérolas como "Banda Um" (1982) e "Refazenda" (1975), além de criações recentes, caso de Máquina de Ritmo (2008). Ele encantou o público - composto por familiares, jornalistas e convidados da produção - com três composições inéditas, entre elas a singela "Das Duas, Uma", escrita em homenagem ao recente casamento da filha Maria, 33.

"Escreve uma música para o meu casamento também", gritou um espectador pouco antes de Gil dedilhar os primeiros acordes da canção.

"Me mande depois a data que escrevo, sim", rebateu o artista, com o característico sotaque baiano realçado pela voz suave e pausada. O repertório de novidades contou ainda com Pronto pra Preto e Quatro Coisas.

A cantora Maria Rita, com vestido brilhante que contrastou com a simplicidade estética da apresentação, interpretou Amor Até o Fim, composição de Gil gravada por Elis Regina. "Ela suinga igual a mãe", comentou o cantor.

TIETAGEM E SAIAS JUSTAS - Durante a gravação do DVD, que teve direção de Andrucha Waddington e será exibido em versão compacta pela MTV em 14 de novembro, o público que lotou o local (com 1.457 lugares) protagonizou mais cenas de tietagem. Em dado momento, o medalhão da MPB demonstrou impaciência com fã que berrava para que ele cantasse Se Eu Quiser Falar com Deus. "Tudo bem, já vou tocar, pô!", respondeu.

Diplomático, esforçou-se para lembrar a sofisticada harmonia do clássico e o apresentou logo em seguida. Outra fã perguntou se Gil preferia atuar como músico ou ministro. O ídolo disse que não se arrepende de ter participado do governo Lula e sentiu-se feliz por ter dado sua contribuição ao setor cultural em momento que considerava histórico.

"O trabalho de ministro é uma das coisas que a gente faz porque tem de fazer múltiplas coisas na vida", frisou, ao seu estilo prolixo. Ainda sobre política, garantiu não ter interesse no posto de vice da chapa da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PV).

Após o espetáculo, comentou as reações dos admiradores e confirmou a preferência por produções gravadas com plateia. "Especialmente em situações assim, que exigem concentração e a gente faz uma sonoridade suave, qualquer barulho ou interferência prejudica a gravação. Mas são ossos do ofício."

Gil falou sobre o prazer de dividir os holofotes com os filhos. "Me sinto muito bem. Já fiz longo percurso na vida, as ambições foram satisfeitas, a alma apaziguada e ainda estou pronto para tudo o que a vida me oferecer. Tomara que ela continue sendo boa comigo."

VIPS E PARCEIROS - No saguão do Teatro Bradesco, o astro dividiu a atenção entre tietes, jornalistas e convidados VIPs como os cineastas Bruno Barreto e Fernando Meirelles, o cantor Arnaldo Antunes e o ex-jogador de futebol Raí.

Responsável pela produção musical do show e antigo parceiro, Liminha comentou o entrosamento com o músico. "O violão é a espinha dorsal do trabalho dele, então foi fácil gravar neste formato. É como se ele voltasse ao começo da carreira", comentou o produtor, que iniciou as gravações na segunda.

Na performance de anteontem, Liminha pediu ao cantor que repetisse três músicas: O Rouxinol, feita com Jorge Mautner, Flora e Refavela. Esta última contou com a participação do baixista José, filho do tropicalista.