O ano de 2008 registrou número recorde de greves no Brasil desde 2004. Foram 411 paralisações, envolvendo cerca de 2 milhões de funcionários que deixaram de trabalhar por 24,6 mil horas.

Os estudo foi realizado pelo SAG (Sistema de Acompanhamento de Greves), mantido pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). O maior número de greves verificado até então foi registrado em 2006 (320 paralisações).

"Pode-se explicar o fenômeno pelo período excepcional de crescimento da economia. Com lucros recordes, principalmente no primeiro trimestre de 2008, os trabalhadores passaram a cobrar reajustes salariais e aumento na PLR (Participação nos Lucros ou Resultados). Como nem sempre eram atendidos, optaram pelas greves como forma de pressionar o empresariado", explicou Victor Gnecco Pagani, técnico do Dieese.

O ano passado foi marcado ainda por uma mudança na esfera das paralisações: se nos quatro anos anteriores a maior parte das greves ocorreu na esfera pública (funcionalismo e empresas estatais), em 2008 a esfera privada foi responsável por 54,5% das paralisações.

"As reivindicações deixaram de ser defensivas e passaram a requerer direitos. Ou seja, os trabalhadores não lutavam mais só pelo cumprimento de direitos, mas também passaram a ser mais exigentes e pedir incorporação de novos benefícios. Por isso, a esfera privada comandou as greves", destacou Pagani.

Entre as greves verificadas no setor privado, 132 atingiram o segmento industrial; 80, o setor de serviços; e 11, o setor rural. Houve também paralisação que envolveu 150 mil trabalhadores da indústria e dos serviços, convocada pelas Centrais Sindicais para reivindicar a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 393/01, que prevê a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem redução de salários, entre outras disposições.

Aproximadamente 73% das greves alcançaram algum êxito no atendimento de suas reivindicações. As mobilizações organizadas por trabalhadores na esfera privada apresentaram maior efetividade, com 80% das greves resultando em atendimento total ou parcial das reivindicações. Esse percentual reduz-se para 69% em empresas estatais e para 62% nas do funcionalismo público.

Perspectiva - Segundo o técnico do Dieese, o número de greves em 2009 deve ser igual ou maior do que o registrado no ano passado. "Estamos computando os dados com base nos noticiários da imprensa. Mas é possível arriscar que o número seja alto, pois em momento de crise econômica o movimento sindical se fortalece e as reivindicações também aumentam", disse Pagani.