Cultura & Lazer Titulo Mestre sueco
Olhar de Bergman sobre a finitude humana
Do Diário do Grande ABC
15/07/2008 | 07:05
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Nesta terça-feira, às 19h, no ciclo Bergman 90 Anos, promovido pelo cine HSBC Belas Artes, será apresentada aquela que, para muitos, é a obra-prima do mestre sueco: Gritos e Sussurros. Após o filme, às 21h, haverá debate com o crítico Luiz Carlos Merten.

É sobre morte e a vida, sobre as contingências mais básicas, e profundas, da existência, que trata Gritos e Sussurros, um ensaio em cores sobre a finitude humana. O próprio Bergman gostava de descrever a gênese do filme. Ele havia sonhado com uma cena que não compreendia. Mulheres vestidas de branco contra um fundo vermelho. O que isso queria dizer? Pensou até matar a charada. Eram irmãs. Estavam juntas, e tristes, porque uma delas ia morrer. As outras duas lhe faziam companhia, ajudavam na passagem.

O vermelho é a cor do útero; é também a cor do amor e da morte. Tudo isso vem junto. Há um momento muito bonito, entre todos do filme, quando a moribunda é acolhida no seio de uma doméstica, Anna, formando ambas uma imagem da Pietà.

O que se pensa, vendo-se essa cena e outras? Na morte, regressa-se a alguma parte, anterior ao nascimento? Ou o que se contempla é apenas o nada? Essa angústia existencial flutua em todas as passagens de Gritos e Sussurros (1971). Ela remete a obras anteriores de Bergman, que ecoam essa mesma pergunta.

Ela está formulada, por exemplo, em O Sétimo Selo, de 1957, quando uma jovem vai ser queimada como bruxa (Maud Hansson). É quando o escudeiro de Antonius Block (Max Von Sydow), Jons (Gunnar Björnstrand), percebe o desespero no olhar da moça, que parece ter compreendido que é o nada que a espera.

Fechando o ciclo, na quarta e na quinta-feira serão exibidos Da Vida das Marionetes (1980), e A Fonte da Donzela (1959), sempre às 19h. Da Vida das Marionetes foi feito em 1980, na Alemanha. É o desdobramento de uma seqüência de Cenas de Um Casamento quando um casal doentio vai visitar o par central, formado por Liv Ullmann e Erland Josephson. O par passa o jantar todo a se agredir com comentários destrutivos. Serve como um espelho para o casamento em tese feliz de Liv e Erland.

Já A Fonte da Donzela, de 1959, dá continuidade à exploração do imaginário medieval. Na história, uma garota é estuprada e morta por dois pastores. Sem o saber, os assassinos pedem abrigo na casa dos pais da moça assassinada. O filme discute a questão da vingança numa Suécia do século 14 ainda dividida entre o paganismo e o cristianismo.

Como sempre, Bergman busca expor as facetas contraditórias da alma humana, dividida, muitas vezes, entre impulsos incompatíveis. Uma de suas grandezas, como artista, estava em não tentar conciliar de forma artificial o que é inconciliável. Não há final apaziguante em Bergman. Não seria ético, segundo ele.

Bergman - 90 Anos. - Mostra. Início hoje, às 19h. Até quinta-feira, sempre às 19h. No HSBC Belas Artes - r. da Consolação, 2.423. Tel.: 3258-4092. Ingr.: R$ 8 e R$ 16.




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