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O que dá pra rir dá pra chorar

Já faz tempo que conhecemos Franklin Martins. Só de Rede Globo foram dez anos

Por Carlos Brickmann
28/02/2010 | 00:00
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Já faz tempo que conhecemos Franklin Martins. Só de Rede Globo foram dez anos; de Rede Bandeirantes, mais dois. Sempre sério, de cara fechada, bravo. Agora, temos o novo Franklin Martins: posando para fotos ao lado de Raúl e Fidel Castro, rei e príncipe herdeiro da monarquia hereditária comunista cubana, ele sorri bonito, um sorriso largo, feliz. Sabe que fica até mais simpático?

Já José Dirceu, mineiro maneiro, mão de ferro revestida de macio veludo, bom de papo, excelente contador de histórias, é diferente: temperado pela vida na clandestinidade, endurecido nas articulações políticas e no comando de um partido clivado por tendências as mais diversas, imperturbável diante de um combate que se estende do campo político ao judicial, diante de Fidel Castro chora feito criança. Não é um choro de medo: é um choro de emoção, de júbilo, de quem, diante da barbuda presença, atinge o ápice da felicidade.

O presidente Lula é mais complexo, mais cheio de nuances do que seus companheiros Franklin Martins e José Dirceu. Gosta de estar ao lado de Fidel Castro, seu ídolo e aliado de tantos anos, mas não vai se derreter por ele. Lula oculta melhor os sentimentos: ninguém sabe o que lhe passa no coração ao lado do poderoso Obama, do divertido bravateiro Hugo Chávez, da rainha Elizabeth, do presidente Sarkozy - quem mais, no mundo, tem seu próprio mercador de armas?

Lula poderia é ter-nos poupado da cena deprimente: enquanto Raúl Castro falava da morte de um preso político, ele ria. A morte é trágica e exige respeito.

AURORA
Coube a um radialista de São José dos Campos, SP, abrir o caminho para que o Brasil conheça sua própria história. João Alckmin, apresentador do jornalístico Showtime, soube que alguns milhares de fichas do falecido Dops haviam sobrevivido às tentativas de apagar o passado e se homiziavam no Palácio da Polícia de Santos, SP. Falou com Arley Rodrigues, conselheiro da OAB-SP, que providenciou a preservação dos documentos, e levou a informação aos jornais. O repórter Mário César Carvalho, da Folha, tomou a frente: em uma página, mostrou o arquivo que pode lançar luz sobre os anos de chumbo. Que contêm os documentos? A análise mal começou, mas ali há material para anos de boa pesquisa.

PRA SEU GOVERNO
A Polícia se apressou a informar que a descoberta dos documentos foi obra sua. Mas não foi, não. E será difícil explicar como é que, estando os documentos numa sala do Palácio de Polícia, ao lado do escritório do delegado-chefe, tenham passado tantos anos na maior tranquilidade, sem que ninguém bulisse com eles.

QUEM SABE, SABE
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi desconvocada pelo Senado: não precisará mais depor sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos. E que ninguém reclame da ação do governo: nem se o presidente Lula indicasse pessoalmente cada senador do PSDB e DEM teria uma oposição tão boazinha. O eleitor tem o direito de perguntar por que votar na oposição se, na hora em que a oposição precisa fazer oposição, prefere sumir do plenário e reclamar da vida.

AS ÁGUAS VÃO ROLAR
O Brasil tem um papel na grotesca crise que a Argentina tenta criar com a Inglaterra: buscar uma solução que harmonize interesses e evite a repetição da tragédia que foi a invasão das Falklands-Malvinas pela ditadura argentina. Dá para ajudar? Dá: na Europa, com o Mercado Comum, acabou a discussão sobre Gibraltar, que a Espanha, nos tempos da ditadura, tentava retomar dos ingleses.

ESPALHA BRASA
O Brasil tem seu papel, que não deve ser um papel ridículo. O presidente Lula estranha que as Falklands-Malvinas pertençam a um país localizado a 14 mil km de distância (e pertencem há 245 anos - mais tempo do que o Acre pertence ao Brasil). Mas não estranha que a Guiana Francesa pertença a um país localizado a uns 10 mil km. Até se reuniu lá com o colonizador-chefe, o presidente francês Sarkozy. E não pergunta qual a cidadania que os cidadãos das ilhas preferem. A soberania é das praias, campos e pedras ou do povo que lá vive?

QUESTÃO SÓ DE TEMPO E MEDIDA
A presença de Fidel Castro muda o comportamento de muitos de nossos políticos. O outro fator de mudança é a eleição. Quem diria que tanto Serra quanto Dilma tentariam, um dia, parecer simpáticos e acessíveis? E Ciro Gomes, que nunca conseguiu descobrir se detesta mais os paulistas ou São Paulo, já não está de GPS na mão, para que ninguém o surpreenda perguntando onde Guarulhos fica? Se quiser concorrer ao governo paulista, alguma coisa vai ter de aprender.

PROBLEMA DE HORA E LUGAR
Caso Ciro Gomes resolva mesmo sair candidato em São Paulo (com apoio de oito partidos: PSB, PT, PDT, PCdoB, PRB, PSC, PTC e PTN), o líder patronal-socialista Paulo Skaf terá de buscar novo destino. Pode sair como vice de Ciro, mas com problemas. Uma chapa exclusiva socialista limita o tempo de TV, teria de conformar-se em ser segundo, o que não lhe seria fácil e, finalmente, é o símbolo da avenida Paulista, exatamente o que Ciro mais condena em São Paulo.




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