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Sal iodado infla casos de tireoidite na região
Andrea Catão
Do Diário do Grande ABC
28/10/2005 | 08:47
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Estudo realizado em 2004 e 2005 com moradores do entorno do Pólo Petroquímico de Capuava, em Mauá e Santo André, e da Vila Paulicéia, em São Bernardo, identificou aumento no número de casos de Tireoidite Crônica Auto-Imune, conhecida também por Tireoidite de Hashimoto ou Mal de Hashimoto. A pesquisa revelou que o consumo excessivo de sal de cozinha iodado foi o fator determinante para o aumento dos casos. Quando teve início a pesquisa, a intenção era identificar se a população residente próximo às indústrias petroquímicas estavam expostas a poluentes capazes de potencializar o desenvolvimento da doença. Em 2002, a endocrinologista Maria Ângela Marino levantou essa hipótese ao constatar que uma ou mais pessoas de 90 famílias do local tinham Mal de Hashimoto.

O endocrinologista Geraldo Medeiros, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e da Unidade de Tireóide do Hospital das Clínicas, foi quem coordenou o estudo. Ele identificou que 15,6% do universo de 409 pessoas pesquisadas no Capuava sofrem da doença, e na Vila Paulicéia, em São Bernardo, 19,5% dos 420 analisados desenvolveram o Mal de Hashimoto. Os moradores de São Bernardo participaram da pesquisa como meio de comparação, por estarem fora da área do Pólo Petroquímico e por conta de o bairro ter as mesmas características físicas e populacionais da área do Capuava.

"Cerca de 15% a 20% da população, sem contar o meio em que vivem, têm pré-disposição genética para desenvolver a doença, mas isso não representa que essa parcela vai sofrer de Tireoidite Auto-Imune. O excesso de iodo consumido é que vai determinar quem vai desenvolver a doença. Como no Brasil o sal contém iodo (exigência do Ministério da Saúde), identificamos que nas duas localidades pesquisadas as pessoas consomem de 15 a 20 gramas de sal por dia, quando o ideal é de cinco a dez gramas diárias. Foi esse o fator determinante para que sofram de Tireoidite", afirma o endocrinologista.

Medeiros identificou no estudo que 52% do total das pessoas pesquisadas nas duas áreas a concentração de iodo na urina ultrapassou o nível máximo recomendado de 300 mcg/L (microgramas de iodo por litro). "Isso comprova que o aumento dos casos de Tireoidite de Hashimoto, não só na área como em todo o país, é porque a população brasileira está sob excesso nutricional de iodo." A Tireoidite de Hashimoto é uma doença auto-imune, que atinge mais as mulheres, na qual o próprio organismo produz anticorpos contra a glândula tireóide, levando a uma inflamação crônica que pode acarretar o aumento de seu volume (bócio) e diminuição de seu funcionamento (hipotireoidismo).

O endocrinologista diz que o estudo comprova com segurança que os fatores ambientais – poluição química – não foram causadores da doença na população do Capuava. "A Vila Paulicéia, que é a área de controle, apresentou números parecidos com o Capuava. Pelos exames que fizemos constatamos que foi o iodo que fortaleceu a pré-disposição genética em as pessoas desenvolverem a doença." Medeiros faz um alerta da necessidade em diminuir o consumo de sal iodado. "Aqueles que não têm a pré-disposição, caso consumam sal em excesso, poderão ter problemas com a pressão arterial, por exemplo." Ele também fala que o iodo também está presente em vitaminas que contêm sais minerais. "Muita gente compra na farmácia uma vitamina, mas não verifica a composição que, em geral, tem muito iodo."

O mal de Hashimoto

Hipotireoidismo
Também conhecida como Mal de Hashimoto, a doença é causada pela diminuição ou baixa produção dos hormônios triodotironina (T3) e levotiroxina (T4). Os dois são produzidos na glândula tireóide, localizada na frente do pescoço. Os hormônios são responsáveis por regular o metabolismo do organismo.

Principais causas
Inflamação crônica da tireóide, que passa a perder as suas funções. O consumo excessivo de iodo em pessoas que já tenham pré-disposição genética para a doença pode potencializar o seu desenvolvimento. O Mal de Hashimoto é caracterizado pela produção exagerada de anticorpos pelo sistema imunológico, que agridem a própria glândula.

Principais sintomas
Cansaço, fadiga, desânimo, movimentos lentos, aumento de peso ou dificuldade para emagrecer, sonolência diurna, intolerância ao frio, memória fraca, irregularidade menstrual e infertilidade em casos mais graves, dores, câimbras musculares, ressecamento de pele e cabelos, unhas fracas, prisão de ventre, depressão, irritabilidade e rosto e membros inchados.

Diagnóstico
Pode ser detectado por exame de sangue específico.

Tratamento
Somente em casos extremos, quando surgem nódulos no pescoço, a cirurgia é recomendada. Na maioria dos casos, o tratamento é feito pela reposição hormonal feita por meio de medicamentos via oral.




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