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Combates na Somália refletem fracasso da diplomacia americana
Por Da AFP
28/12/2006 | 12:04
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O apoio dos Estados Unidos à intervenção armada etíope na Somália ilustra, segundo especialistas americanos, o fracasso de Washington em utilizar mais os meios diplomáticos do que os militares para ajudar seus aliados numa região que vive sob a ameaça islâmica.

O Departamento de Estado americano justificou o apoio a Adis Abeba ao explicar que a operação militar etíope era necessária para deter a pressão das milícias islâmicas sobre o governo de transição da Somália, que é apoiado pelas potências ocidentais.

No entanto, afirmam alguns especialistas, esta atitude demonstra a incapacidade do governo de George W. Bush de encontrar uma solução negociada para a crise entre o governo somali de transição e a União de Tribunais Islâmicos.

As instituições de transição, que assumiram em 2004, se mostraram até o momento incapazes de restabelecer a ordem no país.

"Os Estados Unidos perseguem uma política exclusivamente militar na Somália, isenta de qualquer elemento para a busca da paz", afirma John Prendergast, um especialista em temas africanos do International Crisis Group, uma ONG cuja missão é prevenir e resolver conflitos armados.

"O resultado é que a Etiópia e os tribunais islâmicos acreditam que Washington apoiou uma solução militar na Somália, o que atiçou as tensões e afastou as perspectivas de paz", acrescenta Prendergast.

A última intervenção direta de Washington no Chifre da África acabou em pesadelo. Em agosto de 1992, um ano depois da queda de Mohamed Siad Barre, os Estados Unidos organizaram uma ponte aérea humanitária para transportar alimentos numa Somália entregue aos senhores da guerra e, a partir de dezembro, enviaram soldados para tentar impor a calma.

Mas em outubro de 1993 milicianos somalis derrubaram dois helicópteros Blackhawk, matando 18 soldados americanos. Com isso, as forças americanas reduziram suas operações de combate contra os chefes da guerra, antes de abandonar definitivamente a Somália em março de 1994.

Mais de uma década depois, em nome da "guerra contra o terrorismo", Washington apóia seus ex-inimigos, que enfrentam o crescente poder dos tribunais islâmicos, que são acusados pelos Estados Unidos de estarem vinculados à organização terrorista Al Qaeda.

"Não houve esforços diplomáticos intensos da parte dos Estados Unidos para a realização de conversações entre o governo de transição e os tribunais islâmicos", estima Ken Menkaus, um especialista em Somália da Universidade de Davidson, na Carolina do Norte.

No início de dezembro, os Estados Unidos apoiaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU autorizando a criação, por parte de países africanos, de uma força de paz na Somália para ajudar o governo e promover um diálogo com os tribunais islâmicos.

No entanto, as manifestações de hostilidade que explodiram na capital, Mogadíscio, contra a mobilização da força de paz africana acabaram com as possibilidades de sucesso do projeto.

A esperança dos Estados Unidos é que a intervenção etíope ao lado das forças leais somalis obrigue os islamitas a reconhecer que não podem controlar militarmente o país e a voltar à mesa de negociações.




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