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Os efeitos da guerra sobre o esporte
Por Dérek Bittencourt
26/02/2022 | 00:01
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Os prejuízos que esta invasão da Rússia à Ucrânia já estão causando são os mais diversos e em todos os segmentos. Poderia falar aqui sobre o econômico, o político, o social, o humanitário, mas prefiro falar sobre o esportivo, já que este caderno trata do assunto. A – justa e merecida – retaliação que os russos estão recebendo em razão dos ataques nas cidades ucranianas se propaga entre as modalidades e vai fazer com que os atletas e as equipes do país (sem falar nas empresas) sofram as consequências de um ato duvidoso, espalhafatoso e descabido, que tem feito vítimas fatais, deixado feridos, forçado milhões a deixarem suas casas e mexendo com o psicológico de todo o mundo.

Esportivamente, a Rússia já vem tendo comportamento controverso há alguns anos. Não à toa, desde 2019 recebeu punição da Wada (Agência Mundial de Antidoping) por desrespeitar o controle de dopagem. Pior: existia um esquema de dopagem patrocinado pelo próprio Estado com mais de 1.000 atletas! Assim, a entidade aplicou punição de quatro anos aos russos, banindo o país de representar a nação em competições mundiais, bem como exibir a bandeira ou executar o Hino Nacional. Tanto que, nos Jogos Olímpicos de Verão de Tóquio, no Japão, no ano passado, e na Olimpíada de Inverno de Pequim, na China, que terminou há alguns dias, os atletas soviéticos competiram sob a sigla ROC, ou Comitê Olímpico Russo, mesmo que utilizando uniformes com as cores de seu país e, em caso de medalha de ouro, subiriam ao pódio ao som da sinfonia número um de Tchaikovsky, um dos maiores compositores russos da história e o primeiro do país a ser reconhecido internacionalmente.

Esta proibição se estende até 16 de dezembro deste ano, mas, os atos contra a Ucrânia – e que podem, inclusive, se estender a países vizinhos como Suécia e Finlândia, como disse ontem a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharov, caso estes países se aliem à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) – já vêm provocando outras sanções aos russos. Ontem, por exemplo, a Fórmula 1 cancelou o Grande Prêmio da Rússia, dando ênfase aos discursos de alguns pilotos, como os campeões Sebastian Vettel e Max Verstappen, que haviam dito que se recusavam a ir ao país após os ataques. A Haas, que tem patrocínio master de uma empresa russa e estampava as cores da bandeira do país no carro, abriu mão de expor ambas, mudando o design estético do bólido.

Já no futebol, a seleção russa terá de encontrar alternativas para seus jogos pela repescagem da Copa do Mundo do Catar. Isso porque os adversários Polônia, Suécia e República Tcheca assinaram manifesto no qual se recusam a ir até a Rússia disputar qualquer partida. Aliás, caso os russos se classifiquem ao Mundial, ainda estarão sob a proibição do uso de símbolo e hino, e os jogadores deverão atuar como neutros, ou seja, como se não representassem um país específico. Entretanto, o que é possível ver a distância é que os próprios russos não são unânimes sobre as decisões megalomaníacas do presidente Vladimir Putin. O tenista Daniil Medvedev, que assumirá na segunda-feira a primeira posição do ranking mundial, disse: “Nesse momento, a gente entende que o tênis às vezes não é tão importante assim. Eu acordei na quinta-feira com uma mistura de emoções dentro de mim.”

Voltando ao esporte bretão, é necessário falar sobre o que estão passando os atletas brasileiros – bem como os locais e demais estrangeiros – na Ucrânia. Afinal, muitos ali deixaram o Brasil em busca da realização do sonho de jogar na Europa, deixando família ou levando-as consigo, e acabam se deparando com um problema que não lhes compete. Para piorar, alguns dos clubes que defendem pedem para que evitem dar entrevistas, os deixam em hotéis – os quais admitiram que estão com estoques baixos de refeições – e sem perspectivas de que poderão voltar ao solo brasileiro. Por isso, os jogadores clamaram por auxílio das autoridades brasileiras, entre eles o andreense Renan Oliveira, atacante do Kolos Kovalivka, que publicou vídeo com este teor em suas redes sociais – o mesmo foi compartilhado por dezenas de pessoas, na tentativa de que alguma ajuda fosse dada a ele e aos demais companheiros. Outros, no entanto, decidiram cruzar a pé a fronteira com a Polônia, ou pegaram trem até outra cidade com ajuda de família ucraniana. Minha total solidariedade a todos e na torcida para que muito em breve estejam de volta ao Brasil junto de seus familiares.

E POR AQUI...
No Brasil, devidas as proporções, também temos as nossas guerras. Basta ver o que ocorreu com o ônibus da delegação do Bahia, na noite de quinta-feira, quando chegava à Arena Fonte Nova para o jogo do Tricolor de Aço contra o Sampaio Corrêa-MA, pela Copa do Nordeste. Bombas foram atiradas por “torcedores” contra o veículo e um dos artefatos quebrou o vidro. Os estilhaços feriram o goleiro Danilo Fernandes, que teve de ser encaminhado ao hospital e sequer pôde participar do jogo (que ocorreu e teve vitória baiana por 2 a 0). Segundo informações do clube, por pouco o arqueiro não perdeu a visão de um dos olhos. Outros atletas se feriram física e emocionalmente e também não foram a campo. Tal ação é de uma barbaridade tão grande que me faltam palavras. Mas o repúdio é total a tamanho vandalismo e desejo boa recuperação ao goleiro e demais atletas. 




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