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Corinthians de Santo André pede socorro para não fechar

Clube discute venda de 15% da sede social,
construída onde Pelé marcou seu primeiro gol

Por Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
18/09/2020 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


O número 288 da Rua Sete de Setembro, na Vila Alzira, em Santo André, é um local de muita história e relevância para o futebol mundial. Foi ali que, na mesma data que nomeia o logradouro, em 7/9/1956, Pelé – aos 15 anos e então conhecido como Gasolina – estreou como profissional e marcou seu primeiro gol pelo Santos, em jogo comemorativo no antigo Estádio Américo Guazelli, contra o  Corinthians de Santo André, o popular Corintinha.

Entretanto, a realidade hoje é bem distante de qualquer tipo de reconhecimento e o Galo Preto está prestes a tomar uma drástica atitude para não ter de fechar as portas. O presidente José Orlando de Moura, o Jarrão, convocou para dia 3 uma assembleia na qual será discutida a venda de 15% da sede social – construída onde ficava o estádio –, na tentativa de quitar dívidas, arcar com os compromissos e manter funcionando a agremiação, que no mês passado completou 108 anos. Caso contrário, está fadado ao encerramento das atividades.

“O clube vive das locações das quadras, do salão social, da sauna e da lanchonete. Representa 90% da nossa receita. Mas veio a pandemia e estamos sem esses valores desde março. As dívidas foram acumulando, pegamos empréstimo que sequer conseguimos pagar, nos desfizemos de patrimônio, afastamos funcionários. Não temos de onde tirar. Não é justo (vender parte do clube), mas não temos outra saída ou o que fazer. E se não vender, o Corinthians vai fechar”, lamenta, sem esconder a emoção, o presidente Jarrão. “É o primeiro clube da cidade, onde Pelé fez o primeiro gol, que já disputou todas as divisões do Campeonato Paulista, tem tradição, mas não tem apoio. Todos nos viram as costas”, continua.

A parte do clube que estará à venda é onde atualmente se encontra a quadra coberta. O presidente não quis falar o valor pelo qual poderá ser comercializado, assunto que deverá ser discutido na assembleia, que terá como ordem na pauta do encontro “explanação, votação e aprovação” deste desmembramento da área. “Não estamos vendendo todo o clube, mas nos desfazendo de pequena parcela para poder salvá-lo. É questão de sobrevivência”, admite o dirigente.

Os 15% da área da sede do Corinthians andreense podem valer até R$ 2,8 milhões, de acordo com avaliação de Guta Colicchio, proprietário da Colicchio Imóveis, levando em consideração o preço do metro quadrado na região onde o espaço está localizado.

Desde 2012 à frente do Corinthians de Santo André, Jarrão conta que assumiu o clube com uma inimaginável rombo de R$ 2 milhões, entre dívidas trabalhistas, processos, impostos e todos os tipos de encargos em atraso. Aos poucos, diz ter conseguido “colocar a casa em ordem”, inclusive investindo (reformou o campo principal, construiu nova quadra com gramado sintético e ampliou a lanchonete, entre outras melhorias) e aumentou o patrimônio do centenário clube.

O presidente relembra ainda que, em janeiro, tudo estava bem, tanto que decidiu adaptar o parque aquático e construir mais um campo sintético (que recebeu o nome de Antônio Schank Filho, o Tonico, ex-jogador que esteve na partida festiva contra o Santos). Estas obras foram realizadas. Porém, veio a pandemia, o local precisou ser fechado, a receita do Corintinha desapareceu e as dívidas referentes às recentes construções estão em aberto. “Foram oito anos para tirar o clube do buraco e em seis meses ele está fugindo por entre os dedos. E ninguém nos ajuda. É desesperador, mas acredito que vamos reverter”, finaliza Jarrão.

DISCORDÂNCIA
Em dezembro do ano passado, a Prefeitura de Santo André anunciou a recuperação da súmula do jogo de 1956 e prometeu construir estátua em homenagem a Pelé em frente ao Corinthians, na Praça Antônio Fláquer – popularmente conhecida como Ipiranguinha. O presidente do Galo Preto, entretanto, reivindica que o monumento fique onde a história aconteceu. “Teria que ser aqui dentro”, finaliza. Seu desejo, porém, esbarra na legislação, que impede o poder público de fazer investimentos em área privada.




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