Política Titulo Investigação
Gaeco investiga Morando por lavagem de dinheiro

Em avanço da Barbatanas, MP apura se negociações imobiliárias ocultaram bens do prefeito de S.Bernardo

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
09/08/2020 | 00:01
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O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), núcleo do Ministério Público paulista, investiga o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), por suspeita de corrupção passiva e de ocultação e lavagem de dinheiro em inquérito de desdobramento da Operação Barbatanas.

São investigadas também outras duas figuras ligadas à Barbatanas, deflagrada pelo MP em outubro de 2017: o vereador afastado e ex-secretário de Gestão Ambiental Mario de Abreu (ex-PSDB, atual PDT) e o empresário Clóvis Rueda.

A apuração dos promotores teve início a partir da quebra do sigilo telefônico de Mario – acusado na Barbatanas de vender licenças ambientais e cargos na pasta, o que ele nega. Nas conversas, conforme o Gaeco, constatou-se que Mario, Rueda e Morando mantiveram inúmeros diálogos.

Em alguns deles, Mario e Rueda tratam sobre “doações (eleitorais à campanha de Morando e de Mario) e eventuais benefícios decorrentes da vitória de Orlando Morando Júnior, bem como sobre quem e como seria feito para ‘esquentar’ o dinheiro deste (Morando)”, de acordo com trecho do PIC (Procedimento Investigatório Criminal) instaurado em 29 de agosto de 2018, assinado pelo procurador João Antônio Bastos Garreta Prats e pelo promotor Cleber Takashi Murakawa.

Advogado e ex-assessor de Morando, Mario de Abreu foi candidato a vereador em 2016 pelo PSDB, se elegendo com 3.014 votos. Rueda, dono da empresa Cydak do Brasil, doou R$ 5.000 para campanha a vereador do então tucano. Ao projeto eleitoral de Morando, a doação foi de R$ 100 mil – a maior contribuição de pessoa física depois da própria colaboração de Morando.

Segundo trecho do PIC, o compartilhamento de provas da Barbatanas indicou que “os fatos podem configurar, em tese, lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, bem como os crimes de associação criminosa e corrupção passiva”.

A investigação, ainda em curso, segue a linha de que a suspeita de lavagem de dinheiro foi feita via transações imobiliárias. O Gaeco mapeou dezenas de imóveis no nome de Morando e de sua empresa Ponto Bom Participações (atualmente OAC Participações). Nesta lista, há propriedades que estavam em nome de Mario e foram repassadas para a firma do prefeito de São Bernardo.

Os promotores decidiram também levantar a matrícula de imóveis em nome de José Carlos Vinturini, sócio de Morando na Ponto Bom; Carla Morando (PSDB), deputada estadual e mulher do prefeito de São Bernardo; Rueda e Mario de Abreu, bem como das empresas dos investigados.

Como o Diário mostrou no dia 19, a movimentação imobiliária de Morando já resultou em denúncia apresentada à PF (Polícia Federal) – 17 imóveis ou terrenos foram apresentados à instituição, sendo que a maioria foi adquirida por preço abaixo do valor venal, prática inusual no mercado.

Em nota, Morando disse que “desconhece qualquer investigação em andamento relativa a imóveis”. “O único procedimento a que teve conhecimento, o qual tramitava no âmbito do Tribunal de Justiça de São Paulo, foi devidamente arquivado após exaustiva e rigorosa análise do Ministério Público, que concluiu pela inexistência de qualquer irregularidade.” Tal procedimento, entretanto, determinou arquivamento só da parte que envolve Carla, sendo o restante ainda alvo de apuração do Gaeco e da Justiça Eleitoral, por ordem judicial.

Mario alegou inocência e afirmou que irá prová-la no curso do processo.  Rueda não foi localizado pelo Diário.




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