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São Bernardo entrega cestas básicas em caixas com a validade vencida

Depois de trocar itens de 950 kits que pereceram porque não foram entregues a tempo, cidade reutiliza a embalagem, proibido pelo Inmetro

Por Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
08/07/2020 | 00:01
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André Henriques/DGABC


A Prefeitura de São Bernardo iniciou, ontem, a distribuição de pelos menos 9.000 cestas básicas por meio do programa Alimento Solidário, do governo do Estado. Entre os kits estão as 950 cestas que venceram no mês de junho, conforme noticiado pelo Diário, no sábado. Apesar de a administração ter trocado os itens que perderam a validade para reaproveitar o restante dos produtos, as caixas de distribuição ainda permanecem as mesmas, ou seja, com a data inválida, sendo muitas delas com a data entre 20 e 29 de junho.

Os kits beneficiam famílias com renda per capita de até R$ 89 e inscritas no Cadastro Único, que puderam retirar as cestas básicas ontem e poderão buscar também hoje, 9h às 16h, em Cras (Centro de Referência de Assistência Social) espalhados pela cidade, além de outros pontos, como no Centro de Atletismo Professor Oswaldo Terra, que fica no bairro Santa Terezinha. A equipe do Diário acompanhou algumas das entregas e constatou embalagens com datas de validade vencidas.

Mesmo que os alimentos tenham sido trocados por outros em condições de consumo, determinação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) impede a reutilização das caixas de papelão antigas. Trecho da determinação (veja mais acima) deixa claro que é “vedada a reutilização de embalagens” das cestas.

Segundo a especialista em gestão sanitária e proprietária da H2 Consultoria, empresa especializada em projetos administrativos e operacionais de restaurantes, hotéis, padarias, bares, fast food e similares, Heloisa Helena Duarte, a data de validade da cesta indica o produto que vence primeiro, como prazo limite para utilização do kit. “É situação complicada (a reutilização da caixa com a data vencida impressa), pois não tem como se certificar de que todos os alimentos que estavam ali estão no prazo correto. Tanto para o órgão que oferece (no caso, a Prefeitura) quanto para quem recebe. Gerando muitas dúvidas”, avalia.

Já para nutricionista Tamires Campião, o ideal seria trocar a embalagem por um saco plástico ou informar uma nova data de validade na caixa utilizada. “Se um produto perde a validade, a caixa também perde seu uso. O correto era colocar os alimentos em um saco plástico transparente e lacrado, com uma etiqueta, podendo ser escrita à mão, mas a data de validade correta, pois olhando a cesta com data vencida, a primeira impressão é a de que todos os produtos também estão vencidos”, alerta Tamires.

BENEFICIADOS
As cestas entregues ontem tinham como item mais perecível a linguiça, com data de validade para 21 de julho, nos kits de alguns moradores aos quais do Diário teve acesso. O feijão vence em outubro. O café, a farinha de trigo e o óleo também precisam ser consumidos ainda em 2020. Desconfiados após terem tido acesso à denúncia do Diário, alguns moradores conferiram a validade dos itens no local do recebimento.

A desempregada Zilda Gomes, 56, abriu o kit assim que recebeu e distribuiu em duas sacolas para carregar até em casa. “Como moro no mesmo bairro, já vim com essa intenção de colocar os alimentos em sacolas e já aproveitei para dar uma olhada na validade”, comenta a moradora do bairro Santa Terezinha.
O ajudante de pedreiro Tiago Ferreira, 32 anos, destaca que soube do ocorrido com as 950 cestas vencidas, mas ele optou por conferir o kit em casa. “Dá uma certa insegurança, não tem jeito. A moça (funcionária do local na distribuição) perguntou se eu queria abrir a cesta para conferir os vencimentos dos itens, mas vou fazer isso em casa”, comenta.

Questionada, a Prefeitura reforça que todas as caixas entregues “estavam em perfeitas condições de armazenamento e conservação, com data válida dos itens”.




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