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Região convive há três meses com Covid

Pandemia tem idade do pequeno Miguel, que nasceu na crise e, assim como todo mundo, teve planos adiados

Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
15/06/2020 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Todas as vezes que o casal Luciana Machado, 28 anos, e Fernando Barboza, 31, lembrar do nascimento do filho Miguel Carlos certamente vai recordar da pandemia causada pelo coronavírus. O pequeno veio ao mundo em 11 de março, quatro dias antes dos três primeiros casos confirmados de Covid-19 no Grande ABC, que completam hoje exatos três meses. De lá para cá, nem o garoto nem seus pais sabem ao certo o que é sair na rua. O casal, que mora na divisa entre Santo André e São Paulo, viu a vida mudar em todos os sentidos. Além de marinheiros de primeira viagem, tiveram que driblar também os riscos da infecção. Cuidados redobrados, visitas canceladas e todos os planos que tinham antes e durante a gestação foram adiados. “Inacreditável”, sentencia a mãe.

Mas não foram apenas eles que tiveram de mudar hábitos. Nove dias após o registro dos três primeiros casos de Covid-19 na região – um casal de São Bernardo e uma moradora de São Caetano –, em 24 de março, o governo do Estado decretou quarentena obrigatória, fechando comércios e serviços não essenciais e pedindo que só saísse nas ruas quem realmente precisava. Na família do pequeno Miguel a determinação foi seguida à risca.

“Não coloco o pé na calçada há três meses. Última vez que fui na rua foi quando saí do hospital. Só saímos (de carro) para coisas essenciais”, explica Luciana, que é promotora de eventos e o marido, chefe de cozinha. “Nem os avós estão visitando o Miguel. Viram uma vez só, e o restante pelo celular. Somos sociáveis, gostamos de passear, mas agora não. Imaginávamos que teríamos um monte de visitas após o parto, mas mudaram os planos”, assume a mãe.

Luciana lembra que a preocupação antes do nascimento do bebê era outra. “Na gestação estava com surto de sarampo, só pensava nisso. Poucos dias antes do parto começamos a ouvir sobre a Covid-19 e depois que ele nasceu ficou uma loucura. Inacreditável. Parece que estamos vivendo outra vida”, comenta. “Miguel ficou os primeiros quatro dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e no hospital já percebíamos coisas diferentes. Nos primeiros dias estava normal, depois a máscara era obrigatória, os burburinhos que havia gente infectada lá, só aí que a ficha caiu”, recorda Luciana, que teve o parto no Hospital da Mulher, em Santo André.

Na prática, os três meses de vida de Miguel representam o período em que a pandemia assola a região. Ao mesmo tempo em que o futuro quanto ao controle do vírus é incerto, a vitalidade do bebê enche de esperança de que um dia o casal possa conversar sobre isso e até rir da situação. “Ele não vai ter ideia do que estamos passando. É uma situação muito doida, que jamais imaginávamos. Sempre que lembrar do nascimento do Miguel vou lembrar deste momento de pandemia”, finaliza Luciana.

Nos três meses desde que atingiu a região, a pandemia fez estragos, sobretudo na saúde. Já são 12.004 infectados e 835 mortes (veja mais na Página 4). Exatamente hoje as cidades iniciam flexibilização da quarentena (leia na Página 3 de Política) com a esperança de que tudo volte ao normal, mesmo que o normal seja diferente do que o Brasil estava acostumado.




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