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Dia dos Namorados vai ser outra data com gosto amargo

Com quarentena, comércio do Grande ABC já perdeu faturamento de Páscoa e Dia das Mães

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
07/06/2020 | 00:24
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André Henriques/DGABC


No terceiro mês da quarentena decretada em razão do novo coronavírus, o comércio caminha para amargar as vendas da terceira data comemorativa, o Dia dos Namorados. As associações comerciais não estimam percentuais de perdas em relação à mesma data do ano passado, uma vez que o faturamento caiu praticamente a zero. Vale lembrar que a comemoração é uma das principais fontes de vendas para o setor no ano.

“Será mais uma data perdida, como a Páscoa e o Dia das Mães. Após a reabertura, ainda haverá uma adaptação, porque o consumidor não terá o mesmo comportamento de antes, não sairá de imediato às compras”, afirmou Válter Moura, presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo).

Pedro Cia Júnior, presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), lembrou que alguns setores, a exemplo de bares e restaurantes, vestuário e calçados, devem ter perdas maiores. “(Estes segmentos) Deverão ser bem mais prejudicados do que outros que conseguiram adaptar seus negócios para as plataformas digitais ou entregas de produtos e drive-thru”, afirmou. “Acreditamos que a perda neste ano para o comércio deva ser superior a 30%”, estimou.

O presidente da Ace (Associação Comercial e Empresarial) de Diadema, José Roberto Malheiro, assinalou que, neste momento, é essencial que os comerciantes invistam nas vendas on-line e na divulgação via redes sociais para minimizar prejuízos. “Não é igual, não será a mesma coisa de outros anos, mas vamos torcer pelo melhor.”

RESTAURANTES
Em relação ao Dia dos Namorados de 2019, o Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação do Grande ABC) estima redução de 80% no faturamento do setor, mesmo considerando os estabelecimentos que trabalham com delivery e drive-thru.

Wilson Bianchi, presidente em exercício da entidade, orientou que esta é oportunidade para corrigir quaisquer erros relacionados à entrega ou cardápio, assim como fidelizar o cliente.

“Os donos dos restaurantes devem surpreender e serem criativos, como enviar o cardápio com uma flor. E, além disso, elaborar aquele menu preferido do cliente e criar uma edição delivery.”

Exemplo é que no restaurante Gema, em Santo André, foi criada a opção do jantar secreto. “O casal me passa quais são as restrições (alimentares) e preparo exclusivamente uma entrada, um prato principal. uma sobremesa e, na entrega, ganham um vinho”, explicou o chef Melchior Neto.

Na Páscoa e no Dia das Mães, o restaurante também criou pratos especiais, além do cardápio tradicional. Embora as vendas cheguem apenas a 30% do que eram em datas comemorativas fora da quarentena, Neto avaliou que as experiências foram positivas.

SHOPPINGS
Em razão da conjuntura, os centros de compras se adaptaram e, assim como no Dia das Mães, adotaram os sistemas de entrega e drive-thru, onde o cliente retira as compras pré-escolhidas com hora marcada. Os shoppings que aderiram ao modelo são: Grand Plaza e ABC, em Santo André/ Metrópole, em Sâo Bernardo; ParkShopping São Caetano; Praça da Moça, em Diadema; e Mauá Plaza.

No são-bernardense Golden Square, além de comprar via drive-thru, os clientes podem retirar as compras em lockers, ou seja, gavetas que serão destravadas com um QR Code e poderão ser acessadas conforme agendamento.

Sorteio temático atrai novos clientes
Há 11 meses confeccionando doces artesanalmente para festas e ocasiões especiais, Thaís Borges, 30 anos, moradora de Mauá, atraiu a atenção de clientes em potencial com promoção para o Dia dos Namorados. Por meio de seu perfil no Instagram (@coisaboadocespersonalizados), onde divulga seu trabalho, a postagem oficial do sorteio já possui pelo menos 70 comentários e acabou surpreendendo a empreendedora.

Além de atrair mais pessoas à página, o sorteio é chance para divulgar os produtos desenvolvidos para a data. Antes da pandemia, ela recebia cerca de cinco encomendas para eventos por mês e, desde o início da quarentena, não ultrapassou três encomendas avulsas, ou seja, para presentear ou pequenas festas feitas em casa, por mês. Os kits custam a partir de R$ 22 e são personalizados conforme o gosto do cliente. Entre as opções estão brigadeiro gourmet, pão de mel e brownie, além de doces modelados com pasta de leite em pó.

Thaís afirmou que sempre fez doces para as festas de família, porém, desde que o filho nasceu, há três anos, ela começou a pensar em deixar o emprego formal e se dedicar a outra profissão. “Eu queria passar mais tempo com o meu filho, mas é difícil deixar o emprego e depois voltar para o mercado, então, pedi demissão, fiquei parada por um tempo e no ano passado comecei a me dedicar na produção de doces, que sempre gostei muito”, contou.

Segundo ela, embora as vendas tenham caído cerca de 70% com a quarentena, o orçamento não foi prejudicado. “Meu marido tem um emprego fixo e, quando saí do meu trabalho, passamos por uma readequação financeira e vivemos sem excessos. O que entrava a mais, acabávamos colocando na poupança ou usávamos para comer fora”, comentou.

A divulgação é feita pelas redes sociais e as encomendas, via Whatsapp. Os doces podem ser entregues ou retirados, ambas modalidades com agendamento.

Floriculturas estão otimistas com data
Mesmo com o cenário imposto pela pandemia, as floriculturas da região estão otimistas com as vendas para o Dia dos Namorados. Exemplo é que na Flore’Star, em São Bernardo, a expectativa é que a procura aumente até 40% ante 2019. “As vendas caíram bastante e chegamos a jogar flores fora, mas desde o Dia das Mães temos nos surpreendido e chegou até a faltar flores”, contou a gerente Gleide Amaral Santos. “(O Dia das) Mães não era tão bom em muito tempo”, adicionou, justificando a projeção para a comemoração de 12 de junho.

Para ela, o sucesso nas vendas ocorreu justamente por causa do fechamento do comércio. “Os shoppings e todo comércio estão fechados, então as pessoas acabaram ficando sem opção, além de poderem enviar um presente a quem não é possível ir visitar”, avaliou. Outra surpresa é que os clientes estão encomendando com antecedência, contrariando a “cultura do brasileiro de deixar tudo para a última hora”.

Sem estimar percentuais, Júlia Shimadukuro Moretti, proprietária da Frutaflor, em Santo André, também avalia que os pedidos devem superar “um pouco” as vendas do Dia dos Namorados do ano passado, uma vez que o mesmo aconteceu no Dia das Mães. “Para nós, a adaptação foi fácil, pois já tínhamos a cultura de vender pelo site”, afirmou. Outro fator que pode ajudar a melhorar as vendas é que a importação das rosas colombianas, um dos carros-chefe da floricultura, foi retomada.

Já a Lola Flores, em São Caetano, se dedicava à confecção de arranjos para decoração de festas. Com o início da pandemia e o cancelamento de eventos, a proprietária Silvia Miranda começou a vender os arranjos pelo site. “Tivemos que nos reinventar e, apesar de nunca termos feito dessa forma, está sendo positivo e esperamos que a procura seja igual ou melhor do que no Dia das Mães, que foi nossa primeira experiência”, detalhou.

Silvia destacou que o ramo de eventos foi um dos primeiros atingidos na pandemia e deve ser um dos últimos a retornar. “Começamos para sobreviver mesmo, mas tem sido muito bom”, afirmou. 
 




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