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Montadoras da região paralisam e especialistas enxergam crise

Prioridade agora é evitar o contágio pelo coronavírus, porém, dificuldades devem ser enfrentadas pelas fábricas, que empregam 28 mil na região

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
21/03/2020 | 00:01
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 Com o avanço dos casos confirmados de Covid-19 em todo o País, as cinco montadoras com fábricas no Grande ABC anunciaram oficialmente a paralisação da produção. Após sofrer consequências por causa da crise econômica dos últimos anos, especialistas projetam que o setor deve passar por um período difícil, com retração na produção e nas vendas. As fábricas empregam aproximadamente 28 mil trabalhadores na região.

Ontem, a Toyota e a Scania, as únicas fabricantes que ainda não tinham optado pela parada, divulgaram oficialmente a adoção de férias coletivas (leia mais abaixo). De acordo com informações da Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores), na noite de ontem, 35 das 65 fábricas das associadas anunciaram a paralisação em todo o Brasil.

“Passamos a semana falando com as empresas e os sindicatos patronais, pressionando pela paralisação das atividades nas fábricas. Neste momento, o que estão em jogo é a saúde e a segurança do trabalhador. Não é possível pensarmos só na recuperação do setor industrial e na economia do País. É preciso resguardar a população, os trabalhadores. Mais à frente são eles que vão garantir a retomada, quando superarmos essa crise”, afirmou o presidente do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), Wagner Santana, o Wagnão.

A GM (General Motors), que já tinha anunciado férias coletivas para o fim deste mês, antecipou a paralisação para a próxima semana. “Com a rápida evolução da pandemia de Covid-19, novas ações vêm sendo tomadas diariamente pelas autoridades em todo o País. Alinhada com a gravidade da situação, a empresa segue tomando decisões em tempo real para proteger ao máximo seus empregados, clientes, fornecedores, concessionários, familiares e comunidades”, informou, em nota,

O Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano avisou da mudança na porta da fábrica na tarde de ontem. Mesmo utilizando carro de som, a orientação do presidente da entidade, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, era que os trabalhadores não parassem para evitar aglomerações. “As áreas essenciais vão vir trabalhar e alguns setores farão escalas. Mas, acredito que em torno de 6.000 devem ficar em casa.”

Para o coordenador de MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV, Antonio Jorge Martins, a redução na produção já observada nos primeiros meses deste ano – queda de 20,8% nas fábricas de todo o País, segundo a Anfavea – vai se agravar. “Agora com certeza teremos crise. O público se afastou das ruas. É difícil a venda via internet, principalmente de carros com preços mais elevados”, opinou.

O coordenador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Jefferson José da Conceição, afirmou que a saída da situação depende de ajuda do governo. “Esperamos o fim da crise entre maio e junho. A partir daí, seria importante uma política industrial que incentive a produção e o consumo. Para isso é necessário um forte apoio do governo para ações como financiamento a juros baratos, e incentivo à renovação da frota, por exemplo.”

Se essa aproximação não acontecer, ele alertou que a atual situação pode se complicar, já que o poder de compra pode diminuir e as empresas não terão faturamento.

No País, 35 fabricantes adotam coletivas
Mais da metade das fabricantes de todo o País anunciou paralisação da produção de veículos, de acordo com a Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores). Das 65 unidades das empresas associadas, 35 devem parar. Na região, a Scania e a Toyota eram as únicas que não tinham anunciado oficialmente a medida.

A montadora japonesa, que possui unidade de produção de peças e reposição de motores em São Bernardo, afirmou que tomou a decisão com base na segurança dos funcionários, além de seguir as diretrizes das autoridades locais. “Nesse sentido, a Toyota do Brasil informa que suspenderá a produção de suas quatro plantas industriais no País a partir do dia 24 de março, com retorno previsto para 6 de abril”, disse, em nota.

A Scania informou que vai fazer uma parada de produção e conceder férias coletivas, no período de 30 de março a 13 de abril, para os colaboradores na fábrica de São Bernardo. “Estamos vivendo uma situação excepcional, sem precedentes, e nos últimos dias medidas de contenção da disseminação da Covid-19 impactaram parte da cadeia de fornecimento, o que nos leva a interromper a produção temporariamente”, disse o presidente e CEO da Scania Latin America, Christopher Podgorski.

A Mercdedes-Benz, a GM (General Motors) e a Volkswagen, também localizadas na região, já haviam informado a medida anteriormente.

NO PAÍS
A Fiat Chrysler anunciou que vai reduzir gradualmente a produção das fábricas que tem no Brasil a partir de terça-feira, com interrupção total das operações do dia 30 em diante. As atividades serão retomadas, a princípio, no dia 21 de abril. O grupo produz carros das marcas Fiat e Jeep, com fábricas em Betim, Minas Gerais, e Goiana, Pernambuco, além de motores, em Campo Largo, Paraná.

A Renault, que possui unidade produtiva em São José dos Pinhais, também anunciou férias coletivas a partir de 1º de abril, pelo período de pelo menos dez dias.




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