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Para não esquecer as agruras do holocausto

Sérgio Mamberti estrela peça que estreia em São Paulo e lembra as agruras do holocausto

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
16/01/2020 | 00:10
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Divulgação


Pouco se sabe sobre os conflitos vividos por judeus que, à época do holocausto, na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), eram obrigados a auxiliar na aniquilação de seu próprio povo. A fim de jogar luz nesse período sombrio da história da humanidade, Luccas Papp escreveu o espetáculo O Ovo de Ouro, que entra em cartaz dia 31 no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, e tem direção de Ricardo Grasson. Os ingressos já estão à venda.

Quem conta essa história no palco é Dasco Nagy (Sérgio Mamberti), um judeu que fez parte do Sonderkommando, ou comandos especiais, unidades de trabalho formadas por prisioneiros selecionados para trabalhar nas câmaras de gás e nos crematórios dos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra.
O que dói em sua consciência é que, para sobreviver ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, tinha de conduzir outros judeus à câmara de gás, queimar os corpos e, por fim, ocultar as provas do holocausto. Quem se recusava a desempenhar esse papel era morto. “Os alemães faziam isso para não criar pânico. Os judeus que chegavam no trem eram recebidos por também judeus, dizendo que eles seriam reintegrados, mas, na verdade, seriam assassinados. É um capítulo da história que ficou um pouco obscuro”, explica Mamberti.

Nagy, que quando jovem é feito por Luccas Papp, tem as memórias ressuscitadas no presente quando é entrevistado, já em idade avançada, por uma jornalista. Entre as lembranças surgem seu melhor amigo Sándor (Leonardo Miggiorin), a prisioneira Judit (Rita Batata) e o comandante alemão Weber (Ando Camargo). “Acho interessante que a gente esteja fazendo uma peça com esta temática nesse momento em que os temas humanitários voltam a ser o centro das nossas atenções, em virtude de uma radicalização que a gente vê, até de gente que negue que o holocausto tenha realmente acontecido. É sempre importante revisitar esses momentos para que não repita mais”, ressalta o ator, que tem 80 anos de vida e 63 de carreira.

Mamberti lembra que à época do nazismo houve queima de livros, cerceamento da liberdade de expressão e guerra à cultura, porque ela ajudava o povo a refletir. “No final (do espetáculo) temos nos manifestado justamente a favor da liberdade de expressão, que hoje em dia no Brasil está profundamente ameaçada. Foram conquistas históricas que fizemos depois da ditadura militar e hoje encontramos esse governo que está aí, extinguiu o Ministério da Cultura e todos os mecanismos de financiamento cultura estão precarizados”, finaliza.

A dramaturgia foi inspirada em obras que discutiam esse tema, entre elas os livros Sonderkomamando: No Inferno das Câmaras de Gás, de Shlomo Venezia, e Depois de Auschwitz, de Eva Schloss, além do filme O Filho de Saul, de László Nemes, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2016.

O Ovo de Ouro – Teatro. No Teatro Porto Seguro – Al. Barão de Piracicaba, 740. De 31 de janeiro a 1º de março, às sextas e aos sábados, 20h, e, domingo, às 19h. Ingressos a partir de R$ 50, à venda em www.tudus.com.br. 




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