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SBT saca seu curinga Chaves de novo
Por Flávia Swerts
Da TV Press
01/12/2004 | 11:27
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Mais uma vez o SBT recorre às trapalhadas de Chaves e sua turma para tapar um buraco na programação. Diante do fracasso de audiência do Cor-de-Rosa, apresentado por Sílvia Abravanel e Décio Piccininni, que não ultrapassou pífios 3 pontos, a emissora de Silvio Santos (o pai de Sílvia) simplesmente retirou o programa de fofocas do ar e, no lugar - das 17h30 às 18h30 -, voltou a exibir Chaves.

O seriado, criado na década de 70 pelo mexicano Roberto Gomez Bolaños, que interpreta o Chaves, estava fora da grade desde o início do ano. O SBT começou a transmitir a atração em 1984 e, nesses 20 anos, Chaves já foi exibido nos mais diferentes dias e horários, sempre de acordo com a necessidade da emissora. Para o SBT, porém, a troca não poderia ter sido melhor, já que o humorístico mexicano quase quadruplicou a audiência do fim de tarde, mantendo média de 11 pontos.

Mas não é só o SBT que está satisfeito com esse retorno. Os inúmeros fãs de Chaves também. Depois de muito perturbarem a emissora de Silvio Santos com cartas, e-mails e até um encontro chamado Chaves 20 Anos, realizado em 30 de outubro, no Rio, eles agora podem encontrá-lo novamente todos os dias. A alegria, no entanto, pode não durar muito. O SBT já deu pistas de que Chaves é um curinga na programação e nada impede que, em breve, ele volte a ser retirado do ar ou tenha seu horário de exibição novamente alterado.

Compreender o sucesso que o seriado faz no Brasil há duas décadas não é tarefa fácil. À primeira vista, o programa é bobo, sem graça e exagera no estilo pastelão, com muitos tombos, tropeços e arremessos de objetos e de água nos personagens. Não se pode esquecer também das famosas distrações de Chaves, como colocar as mãos sujas no lençol branco que Dona Florinda acabou de lavar ou engraxar os sapatos brancos - e a calça - do amigo Kiko com graxa preta. Mas, na verdade, é justamente essa despretensão meio ingênua que faz com que o seriado seja engraçado. Pois o que mais se vê na TV são programas, inclusive infantis, repletos de piadas de duplo sentido e que exploram a sensualidade a qualquer preço.

No seriado é até possível garimpar alguns valores que são transmitidos às crianças de forma lúdica. Em um dos episódios, por exemplo, Dona Florinda diz a Chaves: "As crianças não devem responder aos mais velhos". Pode não parecer muito, mas já é um bom começo. É assim, com linguagem simples e uma lógica infantil, que Chaves conquistou uma legião de fãs ao longo dos anos. Outro elemento que contribui para o sucesso é a identificação que o humorístico desperta por retratar situações corriqueiras, como as brincadeiras das crianças na vila, os afazeres domésticos e as picuinhas entre os vizinhos.

Mas Chaves também comete deslizes. Muitas vezes, a atração cai na mesmice e na lentidão. O que também ajuda a aumentar a sensação de que o programa se arrasta em diversos momentos é o fato do cenário quase não mudar. A maioria dos episódios se passa no pátio da vila, sendo muito raro as histórias acontecerem em outros locais, como o interior das casas dos personagens e a barbearia. Além da pouca variedade, os cenários são mal-acabados e mal-iluminados, evidenciando ainda mais a simplória produção do seriado. Ou seja, Chaves é um programa esteticamente feio, que está sempre cheio de sombras e tem um figurino paupérrimo. Legítimo representante da chamada estética trash, Chaves tinha tudo para não obter êxito: produção simplória, pouca qualidade visual, humor nada refinado e excesso de reprises. Mas sempre acaba se tornando o trunfo do SBT para alavancar a audiência. Um desses sucessos que acontecem sem querer querendo.




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