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Trem de carga impacta 20 mil passageiros por hora na CPTM

Estudo diz que compartilhamento de malha ferroviária na Linha 10-Turquesa causa atraso e superlotação

Por Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
23/12/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Estudo contratado pelo governo estadual, por meio da Dersa (Departamento Rodoviário S/A), aponta impacto de pelo menos 20 mil passageiros por hora em trens da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) na região devido ao compartilhamento da malha ferroviária com composições responsáveis pelp transporte de cargas. A informação consta no Rima (Relatório de Impacto Ambiental) do projeto para construção do trecho Norte do Ferroanel.

A coexistência dos serviços, com a circulação dos trens de carga atravessando São Paulo por meio da malha da CPTM de passageiros, além de impedir a ampliação do atendimento a usuários, limita, conforme o estudo, a reformulação operacional do ramal para modernização do sistema em nível similar ao do Metrô. Atualmente, média de 370 mil passageiros, sendo 181,4 mil somente na região, são transportados pela Linha 10-Turquesa, que liga Rio Grande da Serra à Capital.

Previsto na Lei 8.693, de 3 de agosto de 1993, o compartilhamento de vias de passageiros de trens de carga é obrigatório. No entanto, segundo a própria companhia estadual, com o aumento da demanda de usuários, a passagem de única composição com carga tem acarretado atrasos nas viagens de dois a três trens com pessoas, em média. “A CPTM é a maior interessada na solução da segregação de vias”, justifica.

Levantamento realizado no período de janeiro de 2016 a março de 2017 mostra que quase 4 milhões de passageiros (cerca de 3,8 milhões de indivíduos) foram prejudicados por ocorrências envolvendo trem de carga nas seis linhas da CPTM.

Para atingir este número, a EPL, responsável pelo estudo, considera como usuários afetados quando o intervalo entre os trens ultrapassa 50% do tempo programado para o horário, ou seja, se a média entre uma composição e outra é de seis minutos, quando o trem demora nove ou mais para chegar até a estação os passageiros que fizerem o embarque passam a ser prejudicados.

OPERAÇÃO
Com sistema limitado por restrições de horários, volume e frequência, a CPTM, para diminuir o impacto da coexistência dos dois serviços, tem programado viagens para circulação da carga fora do pico da manhã (das 3h às 10h) e da tarde (15h às 22), optando preferencialmente pela madrugada para passagem destas composições. Na Linha 10-Turquesa, que possui nove estações na região, circulam em média 15 trens de carga. Estima-se que 24 milhões de toneladas de produtos diversos sejam transportadas em toda a Região Metropolitana de São Paulo por ano.

Dada a necessidade de se limitar as interferências com a operação dos trens de passageiros, fica impedida a circulação das composições que transportam cargas em períodos em que a frequência de vagões da CPTM são maiores. Desta forma, segundo o estudo, a limitação de horários para circulação dos vagões de carga também acarreta um tempo adicional de espera nos pátios das transportadoras, gerando impacto na economia do setor.

Especialistas citam Ferroanel como solução para o problema

Discutido há pelo menos cinco décadas por governantes e empresários, o Ferroanel, que teria um dos trechos – o Sul – passando pelo Grande ABC, segundo especialistas, é a opção mais viável para decretar o fim do compartilhamento de trens de carga e de passageiros.

Apresentado nos anos 1990 como solução para o já na época saturado sistema de transporte de cargas por rodovias, o modal segue o conceito do Rodoanel, porém em ramal ferroviário. A ideia é contornar São Paulo com trilhos e escoar cargas do Porto de Santos para o Interior, o que liberaria a malha existente para o transporte de passageiros. “O Ferroanel é uma grande solução para São Paulo e atende altíssima demanda existente hoje. Se o projeto sair do papel, certamente auxiliará outras propostas como o Trem Metropolitano (Campinas-Santos), recapacitando assim o sistema de transporte de carga do Estado”, avalia o professor de Engenharia da FEI (Fundação Educacional Inaciana) Creso Peixoto.

Na opinião do professor de economia e coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, Vladimir Fernandes Maciel, além de desafogar o sistema de passageiros, o projeto pode elevar ainda o potencial da comercialização de produtos do País. “Hoje carga parada é prejuízo. Se dermos velocidade à transposição dessas mercadorias traremos investimento ao Estado.”

Segundo a Dersa, o empreendimento Ferroanel Norte foi aprovado por unanimidade pelo Consema com a emissão da Licença Ambiental Prévia. Paralelamente estão sendo finalizados estudos para obtenção de orçamento estimativo do empreendimento. A conclusão dos estudos está prevista para fevereiro de 2019. O trecho Sul, por sua vez, segue sem prazo.

Compartilhamento provoca queda em vãos

Além de impedir a ampliação do atendimento aos usuários, o compartilhamento do ramal ferroviária entre trens de carga e de passageiros tem gerado à CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) outra dor de cabeça: o aumento significativo de queda de pessoas entre o vãos das plataformas.

Pelo menos 42 passageiros se machucaram ao cair no vão entre o trem e a plataforma de estações da CPTM espalhadas pelo Grande ABC no ano passado. O número de acidentes, conforme levantamento obtido pelo Diário junto ao governo do Estado via lei de acesso à informação, mais do que dobrou na comparação com 2016, quando foram contabilizadas 18 ocorrências.

Com espaçamento entre a plataforma e a composição até três vezes maior do que os dez centímetros recomendados pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), sete das nove paradas ferroviárias do Grande ABC registraram queda de usuários nos trilhos nos últimos dois anos.

A medida, conforme a companhia, ocorre devido a circulação de trens de carga que requer um espaço maior entre as plataforma, devido ao tamanho das composições de transposição.

Na tentativa de amenizar o problema, no mês passado, a CPTM anunciou que irá implantar nos próximos meses borrachões de proteção em plataformas da Estação Prefeito Celso Daniel ­ Santo André como forma de prevenir quedas nos embarques e desembarques de passageiros. A medida que será adotada ainda em outras sete paradas ferroviárias do Estado, segundo a companhia, deve reduzir significativamente a distância entre o vão e a plataforma. 




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