Economia Titulo Mercado
Investidor da região é conservador e pouco busca a bolsa de valores

Iniciativas como o pagamento de PLR em forma de ações visa aumentar interesse nesta modalidade

Por Flavia Kurotori
especial para o Diário
09/09/2018 | 07:07
Compartilhar notícia
Marcello Casal Jr/Agência Brasil


Os moradores do Grande ABC que dispõem de quantia para investir optam, em sua maioria, por opções de baixo risco, a exemplo da poupança e títulos de renda fixa – que ofereceram rentabilidade interessante nos últimos anos, quando a inflação e a Selic (taxa básica de juros) estavam em alta. Hoje, porém, investimentos em renda variável, como na bolsa de valores, se tornam mais vantajosos, dado que tais indicadores estão em queda. Vale destacar que este perfil de investidor não se restringe à região. Ao contrário. Reflete comportamento em todo o País.

“O investidor que é conservador acaba perdendo boas oportunidades, uma vez que a Bolsa de Valores de São Paulo (chamada B3, antiga Bovespa) é a melhor aplicação dos últimos 40 anos”, assinala Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia. “Embora esse investimento tenha crescido nas últimas décadas, menos de 1% da população negocia ações na bolsa, enquanto que nos Estados Unidos, entre 20% e 30% da população é adepta”, exemplifica.

Na avaliação de Ricardo Kawai, doutorando e pesquisador do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), um dos fatores que dificultam o investimento no País são os baixos salários. “Apenas uma parcela da população consegue poupar e investir”, ainda mais em se tratando de opção de longo prazo, ou seja, é preciso ter paciência para ver as ações se valorizarem.

Para estimular a participação da população neste mercado, Kawai propõe que as empresas paguem parte da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) dos funcionários por meio de ações da própria companhia. Deste modo, os empregados se sentem motivados a incrementar os resultados por meio do seu trabalho. “O Grande ABC, por suas características de região inovadora em diversas áreas, é excelente local para conduzir projetos-piloto como este”, avalia.

Atualmente, seis empresas cujas sedes estão na região possuem capital aberto na B3. Ao todo, elas negociaram R$ 19,01 bilhões em 2017 (veja na arte).

O pesquisador também destaca que a inclusão da educação financeira nas escolas, além de incentivos para que pequenas e médias empresas possam abrir capital para angariar recursos a custos menores, é necessária para a mudança cultural do investidor brasileiro.

Fábio Macedo, diretor comercial da Easynvest, observa que, apesar de ainda ter muito espaço para crescer, o número de investidores na bolsa de valores tem aumentado nos últimos anos. “Hoje, a facilidade de acesso por meio das corretoras e pelas informações disponíveis na internet, além dos custos (é possível formar carteira de ações a partir de R$ 100), democratizou a B3.”

Até 31 de agosto, o Estado de São Paulo contava com 308.954 pessoas físicas investidores da Bolsa de Valores de São Paulo, o que representa 47,82% das contas do País, que somam 730.582. A B3 não disponibiliza dados regionalizados.

Na prática, é preciso ter sangue frio e paciência com renda variável

É preciso deixar claro que o investimento na bolsa de valores exige visão de longo prazo, orienta Ricardo Kawai, do Conjuscs. “As ondas momentâneas de ganhos e perdas não são bons parâmetros para avaliação de determinada ação”, pondera, referindo-se ao fato de que é necessário sangue frio e não ficar contabilizando a volatilidade das ações a cada pregão. “A recomendação é sempre estudar e consultar especialistas, além de nunca comprometer mais de 20% do capital disponível”, completa Ricardo Balistiero, da Mauá.

Ainda que tenha ‘espírito investidor’ desde criança, a publicitária Maylan Moreno, 29 anos, moradora de São Caetano, começou a aportar no mercado de capitais apenas neste ano. “Sempre preferi guardar do que gastar, e a vida toda usei a poupança para isso. Em 2017, comecei a investir em fundos de renda fixa e, a partir deste ano, comecei a estudar sobre como funcionam os papéis e, em março, comecei a montar minha carteira de ações, que conta com oito ativos”, diz. “Meu objetivo é conquistar a liberdade financeira para não depender de um emprego fixo, além de garantir a aposentadoria, que é incerta para minha geração.”

Maylan relata que os amigos não investem por medo de tirar o dinheiro da poupança e perdê-lo no mercado de renda variável. “É preciso acreditar na sua estratégia e ter paciência.”

Já Leandro Simioni, 43, de Santo André, estuda sobre o segmento de bolsa de valores e é um trader, ou seja, um investidor profissional no mercado de ações desde 2012. Atualmente, ele aplica os ganhos da renda variável em fundos de renda fixa, como forma de garantir a aposentadoria.

Após 18 anos como jogador profissional de futebol, Simioni sofreu acidente que o deixou paraplégico e, por incentivo de um amigo, começou a estudar sobre o assunto. “Nos dias de hoje, no período da manhã, acompanho a movimentação do mercado. À tarde, cuido das minhas duas empresas e, à noite, estudo as operações que realizei na bolsa durante o dia. É neste momento que eu mais aprendo, porque já passou o ‘calor’ do momento e consigo enxergar quais movimentos foram corretos ou não.”

Simioni, porém, reconhece que se trata de investimento demorado, por isso é essencial ter outra fonte de renda. “Estou investindo (na bolsa) há quase sete anos, e o valor que ganho não seria o suficiente para pagar minhas contas.” SAP




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;