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Atriz Lígia Cortez briga pelo bom teatro
Por Da TV Press
21/12/2002 | 18:28
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A estréia de Lígia Cortez em novelas da Globo não poderia ter sido mais cheia de surpresas. A princípio, a atriz fora convidada apenas para fazer uma participação especial como a Sílvia de Esperança. Segundo a sinopse da novela, a personagem se mataria depois de dançar a valsa do adeus com Humberto, interpretado por Oscar Magrini. Mas o autor Benedito Ruy Barbosa gostou tanto do desempenho da atriz que resolveu efetivá-la na trama. Lígia ainda não havia se refeito do susto de continuar na novela até o final quando, pouco depois, soube que Benedito tinha sido substituído por Walcyr Carrasco. “A personagem começou forte. E eu gostaria que ela continuasse assim. Forte como toda mulher é...”, diz.

Na verdade, o papel da mulher subjugada pelo marido que dá a volta por cima é um tanto recorrente nas tramas de Benedito. Já em Pantanal, novela exibida em 1990 pela extinta Manchete, tal personagem cabia à atriz Ângela Leal, que interpretou a memorável Maria Bruaca, que sofria horrores nas mãos do marido. Três anos depois, Eliane Giardini deu vida à igualmente inesquecível Dona Patroa, de Renascer, da Globo, que custou para livrar-se do cabresto do truculento Coronel Teodoro, de Herson Capri. “Os personagens do Benedito têm muita integridade. E como o alcance da televisão é enorme, a novela atinge todo mundo. Até aquele cara lá do interior da Paraíba vai tirar uma lição disso tudo”, afirma a atriz.

Aos 41 anos, Lígia admite que não foi por falta de convite que não estreou antes na Globo. Filha dos atores Raul Cortez e Célia Helena, ela sempre teve a carreira profundamente marcada pelo teatro. Quando não está simplesmente atuando, comanda duas escolas de interpretação e mantém três projetos voltados para comunidades carentes. O convite para fazer Esperança, aliás, surgiu depois que Benedito foi assistir ao espetáculo Cacilda!, de José Celso Martinez Corrêa. “Quando aceitei fazer a novela, meu pai nem sabia que eu tinha sido convidada”, diz.

Mesmo assim, Lígia não esconde que adoraria contracenar com ele. Nem que fosse uma única vez. “Seria muito emocionante”. Mas ela já perdeu a esperança de dividir o mesmo set com Raul Cortez. Afinal, os núcleos de Sílvia e Genaro jamais se cruzaram. E nem devem se cruzar. Na novela das oito, Sílvia volta às boas com Humberto depois que ele a seduz com buquês de flores e declarações de amor. Mas o romantismo do sujeito não vai resistir por muito tempo. Nos próximos capítulos, ele volta a dar sinais de sua incurável canalhice ao assediar Eulália, personagem de Gisele Itié. “Certa vez, a Sílvia virou para a Nina e perguntou: ‘Você já foi apaixonada por algum canalha?’ Pois é. O amor é cego, não é mesmo?”, afirma.

Embora não saiba o que esperar dos próximos capítulos de Esperança, Lígia se diz orgulhosa de sua estréia na Globo. Principalmente porque sua personagem tem muito a dizer para o público. A começar pelo fato de Sílvia ter começado a novela entrevada em uma cadeira de rodas. Com força de vontade e determinação quase sobrenaturais, a dona da tecelagem recuperou o movimento das pernas e voltou a andar. “Só tenho a agradecer pelo convite do Benedito. A força de vontade da Sílvia é o que ela tem de mais bonito para passar para o público. Em nenhum momento ela sentiu pena, ódio ou revolta”, diz a atriz.

Apesar de satisfeita com a boa repercussão da personagem, Lígia confessa, encabulada, que ainda se espanta quando nota um certo rebuliço ao seu redor nas ruas. Recentemente, ela levou a filha a uma exposição de orquídeas no Jardim Botânico, no Rio. Quando menos esperava, surpreendeu olhares furtivos em sua direção. “Eu me esgueirava de um e já vinha outro. Por um momento, esqueci que estava em uma novela das oito da Globo”, afirma.

Quanto a dar continuidade à carreira televisiva, Lígia não diz nem sim nem não. Mas avisa que será difícil conciliar as gravações no Rio com inúmeros compromissos em São Paulo. Além disso, ela se mostra arredia quando o assunto é a tão propalada superexposição da mídia. “Tem gente que gosta e precisa da fama a qualquer preço. Graças a Deus, estou bem longe disso. O reconhecimento do meu trabalho é o mais importante”, diz.

Cria dos palcos – Quando criança, Lígia Cortez era tão tímida, mas tão tímida, que se escondia em algum canto da casa sempre que os pais recebiam visita. Impressionados com a falta de sociabilidade da menina, Raul e Célia encorajaram a filha a fazer teatro. Só assim, acreditavam eles, ela perderia aquela timidez. Mas como Lígia Cortez podia gostar daquele emprego que obrigava a mãe a se ausentar de casa todo final de semana? “Eu detestava teatro. E morria de pena da minha mãe”, diz, rindo.

A relutância em fazer teatro só durou até Lígia completar 16 anos. Daí em diante, ela não parou mais. Em 1997, quando perdeu a mãe, vítima de câncer, Lígia resolveu assumir a direção do Teatro-Escola Célia Helena, fundado em 1977. Do Célia Helena já saíram diversos atores, como Carolina Kasting e Antônio Calloni. “Hoje em dia, ter formação é fundamental. Não dá para ser só bonitinha. Você tem de ter ser bonita, culta e inteligente porque a competição é muito grande”, afirma.

Não satisfeita, Lígia fundou também a Casa do Teatro, oficina de criação que se propõe a ensinar crianças e adolescentes a atuar. Todo final de ano, ela organiza montagens teatrais de autores nacionais e internacionais, como Monteiro Lobato e William Shakespeare. Paralelamente às escolas de interpretação, Lígia mantém também projetos voltados para comunidades carentes. Como a da favela Porto Seguro, na Grande São Paulo. “Teatro bom significa povo melhor. Gente que pensa grande e pensa nos outros”, diz.




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