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Filmes de Mazzaropi chegam em DVD
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
01/02/2003 | 16:15
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“Eu faço filmes para o Brasil, não sobre o Brasil. Uma coisa ninguém pode negar, o meu trabalho existe no cinema nacional”. Essa fala – rara – de Amácio Mazzaropi (1912-1981) para a imprensa nos anos 70 explica o que foi o fenômeno Jeca. A figura do matuto de andar desengonçado, braços erguidos com cotovelo na altura do peito, remete a um tempo em que o cinema nacional dava lucro graças a um caipira de pito na mão e um chapéu de palha na cabeça. Essa história de 32 filmes está saindo em DVD por obra da Cinemagia e graça de Mazzaropi.

O primeiro volume da Coleção Mazzaropi, Os Anos Dourados da Vera Cruz, já está disponível nas lojas (R$ 149). É uma caixa com os três filmes produzidos com o comediante na Cia. Cinematográfica Vera Cruz e um quarto, realizado nos estúdios de São Bernardo, mas produzido pela Brasil Filmes, que sucedeu a empresa. O segundo volume, com as primeiras três realizações da PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi) fundada em 1958 chega dia 15 deste mês (R$ 100). Os dois incluem um libreto cada com imagens inéditas e a história de Mazzaropi. A intenção dos idealizadores do projeto da Cinemagia, Paulo Duarte e Marcello Hespanhol, é lançar todos os 32 filmes de Mazzaropi em DVD e também em VHS. O terceiro volume deve sair daqui a três meses.

As caixas trazem filmes nos quais o Jeca das décadas seguintes era ainda embrião em tipos suburbanos e rurais. No primeiro volume estão Sai da Frente (1952), estréia de Mazzaropi na Vera Cruz como salvação das finanças da empresa em comédia surpreendentemente surreal no papel de Isidoro Colepícula, motorista do caminhão Anastácio; Nadando em Dinheiro (1952), repeteco do mesmo Isidoro que desta vez deixa a pobreza herdando uma fortuna inesperada; Candinho (1953), primeiro esboço do tipo simplório do caipira ingênuo; e O Gato de Madame (1956), como um engraxate perseguido por mafiosos que querem tomar-lhe um gato que fugiu de uma socialite e se afeiçoou a ele.

No volume 2 estão os três primeiros longas da PAM Filmes, quando Mazzaropi decidiu controlar produção, distribuição e exibição, e não aceitar modificações em seu personagem. Estão lá Chofer de Praça (1958), comédia sentimental sobre motorista do interior que vai trabalhar na cidade grande para ajudar seu filho a se formar em medicina; Jeca Tatu (1959), adaptação do conto de Monteiro Lobato com o qual Mazzaropi começou a lapidar o tipo favorito do público; e As Aventuras de Pedro Malasartes (1960), outra vez o caipira, mas inspirado no personagem malandro de fábulas nacionais.

Os DVDs trazem como material extra biografia, filmografia, galeria de fotos, trailers da época e um filmete sobre o Hotel Fazenda Mazzaropi, localizado em Taubaté. No volume 1 há também uma breve introdução sobre o que foi a Vera Cruz. Faltaram, no entanto, entrevistas com pessoas que atuaram com ele, como Ruth de Souza, Tarcísio Meira, Luiz Gustavo, Odete Lara, e com profissionais que trabalharam em suas produções. Lacuna que promete ser preenchida pelos produtores dos DVDs nos próximos lançamentos.

Fenômeno - Mazzaropi era um fenômeno de comunicação popular. O público ia ao cinema para vê-lo, exclusivamente. Sobre ele, escreveu Paulo Emílio Salles Gomes, crítico de cinema: “Mazzaropi não aprofunda propriamente nada, mas os lugares-comuns se acumulam tanto que o terreno acaba cedendo. E, como as minas descobertas ao acaso nos desbarrancamentos, de repente desponta dessas fitas uma inesperada poesia. Isso em geral sucede quando ele não está fazendo nada de especial, apenas olhando, andando ou pondo fumo no pito. O melhor de seus filmes é simplesmente ele próprio”.




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