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Abrir o próprio negócio é saída em meio ao desemprego

Ex-trabalhadores formais se arriscam no
mundo do empreendedorismo e das franquias

Por Flavia Kurotori
Especial para o Diário
28/05/2017 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Os últimos anos têm sido marcados pelos números negativos decorrentes da crise econômica. No Grande ABC, o setor que mais sofre, e gera efeito em cadeia, é a indústria. Para se ter ideia, em 2016 o segmento eliminou 20,3 mil empregos. É válido lembrar que, desses, cerca de 3.500 são oriundos de PDVs (Programas de Demissão Voluntária) na Mercedes-Benz, Volkswagen e Ford.

Entretanto, há quem tenha aproveitado a oportunidade e resolveu empreender. Segundo a consultora da Lemon & Co. Consultoria e Incubadora de Franquias, Naiara Correa, “muitas vezes o PDV é o pontapé que precisava para a pessoa abrir o próprio negócio”.

Caso do são-bernardense Renato de Assis Miranda, 38 anos, que aderiu ao programa de demissão voluntária na Volkswagen em setembro do ano passado, após dez anos trabalhando na área de logística da montadora. “Por causa da crise, o cenário na empresa estava incerto, ainda mais que estávamos em lay-off (suspensão temporária do contrato de serviço). Então, comecei a pesquisar antes mesmo de sair”, lembra. “O ramo da alimentação sempre me chamou a atenção, e optei por investir nele”, conta. De acordo com dados do IPC Maps, os moradores do Grande ABC irão gastar neste ano cerca de R$ 4,5 bilhões com alimentação fora de casa.

Franqueado da Mineiro Delivery – rede especializada em entrega de comida caseira no box – Miranda afirma que escolheu abrí-la em São Bernardo pela facilidade, além de ser uma das cidades que ainda não contavam com uma unidade. “O Grande ABC sempre foi atrativo para investidores, pois o potencial de compra dos moradores é grande”, explica Naiara. É válido lembrar que, mesmo na crise, juntas as sete cidades se mantêm como o quinto maior polo consumidor do País. Conforme os dados do IPC Maps, devem ser desembolsados R$ 72,5 bilhões ao longo de 2017.

De olho nessa oportunidade, Adriano Pinto de Andrade, 41, que morava no Ipiranga, em São Paulo, se mudou para São Caetano. Ele aderiu ao PDV da Mercedes-Benz em setembro do ano passado, após 11 anos e 11 meses na usinagem da empresa. “Desde 2014 estava preocupado com a situação econômica, então comecei uma faculdade de tecnólogo em Gestão de Qualidade, a fim de me especializar”, conta.

Ao sair da montadora, Andrade lembra que tentou se inserir no mercado de sua nova formação, mas não conseguiu. “Na faculdade, eles enfatizam muito o empreendedorismo e isso foi decisivo na minha escolha”, relata. Sua aposta deu tão certo que, após abrir franquia da Crazy4Cups – quiosque especializado em presentes temáticos – no ParkShopping São Caetano, ele já iniciou fase de negociação de seu segundo empreendimento no Shopping ABC.

De acordo com dados da ABF (Associação Brasileira de Franchising), no primeiro trimestre de 2017, 23% dos franqueados do País possuíam mais de uma unidade. É o caso também de Douglas Bueno, 28, que negociou com um amigo duas unidades de uma escola de inglês, a Evolute Profissionalizantes e Idiomas, uma em São Caetano e a outra em Diadema, após emprego que não deu certo. “Trabalhei por quatro anos com venda no jornal Estadão, mas pedi demissão porque surgiu oportunidade fora de São Paulo. Porém, ela não deu certo por causa da crise e acabei sendo demitido”, lamenta.

Bueno conta que a escolha do ramo deveu-se à oportunidade de negócio e lembra que, anteriormente, ele e a mulher tentaram empreender em um brechó e, depois, em um carrinho de cachorro-quente, no entanto, não deram certo. Atualmente, ele se dedica às escolas, enquanto sua mulher segue em emprego com carteira assinada.


Empreender exige cautela e pesquisa

A principal dica do educador financeiro da DSOP Educação Financeira no Grande ABC, Edward Cláudio Júnior, é não se deixe levar pela ansiedade. “É imprescindível pesquisar todos os pontos positivos e negativos antes de abrir o próprio negócio.”

Outro ponto crucial é procurar orientação, por exemplo, do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), para buscar informações, realizar capacitação e, também, verificar a viabilidade do seu negócio no bairro de interesse.

O educador financeiro afirma que, com planejamento, tudo pode dar certo. “A crise sempre gera oportunidades”, diz. “O setor de assistência técnica de eletroeletrônicos se destaca, pois com dificuldades financeiras, quando um aparelho quebra, a pessoa busca consertá-lo e não comprar um novo”, exemplifica.

Na hora da escolha do ramo de atuação, a indicação é optar por aquilo que goste e tenha conhecimento. “Não adianta apenas dar bons lucros se o empreendedor não gostar do que faz. Desta maneira negócio nenhum vai para frente”, atesta.

Cláudio Júnior também ressalta que é preciso calcular todos os valores necessários para manter o empreendimento antes de abrí-lo, considerando os gastos fixos (aluguel, pagamento de funcionários, contas de água e luz), além de manter uma reserva financeira, pois pode levar um tempo até o negócio maturar.

Desde o momento da abertura do empreendimento é necessário separar o dinheiro da pessoa física e da pessoa jurídica, por meio do pró-labore, a fim de não se enrolar mais para frente.

FRANQUIAS - Caso o investidor opte pelo sistema de franquias, o especialista garante que a necessidade de pesquisa é reforçada. “Converse com franqueados para verificar a veracidade das informações fornecidas pela empresa, por exemplo”. Vale também procurar um contador, para analisar se os dados fornecidos são coerentes.

Apesar de as franquias possuírem marcas consolidadas, “isso não significa que dará certo, que a pessoa não precise se comprometer. “Acompanhe o dia a dia, gerencie seu negócio”, reforça. 




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