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Eu sou você amanhã
Do Diário do Grande ABC
14/09/2016 | 07:00
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Não, não se trata de propaganda de vodca, embora pudesse, com propriedade (e haja propriedade!), sê-lo. É política: Mauricio Funes, ex-presidente de El Salvador, investigado por enriquecimento ilícito, corrupção, tráfico de influência e peculato (crime que consiste em transformar a verba pública em privada), conseguiu asilo político na Nicarágua, que o considerou “perseguido político”.

E não ganhou o benefício sozinho: ‘perseguidos políticos’, asilados com ele, são sua companheira, Ada Mitchell Guzmán, e seus filhos Carlos Mauricio, 34 anos, Diego Roberto, 25, e Mauricio Alexandre, 2 – um raro caso de perseguido político pediátrico. Maurício Funes sempre teve excelentes relações com o PT, foi casado com uma brasileira, a militante petista Vanda Guiomar Pignato, e sua vitoriosa campanha, que o levou à presidência de 2009 a 2014, foi conduzida pelo marqueteiro João Santana.

Maurício Funes foi o primeiro presidente salvadorenho eleito com o apoio da Frente Farabundo Marti, antigo movimento guerrilheiro. Seu sucessor Sanchez Cerén foi eleito pela mesma base política, mas a coisa era tão brava que, em pouco mais de um ano, Funes passou de guerreiro ferrenho do povo salvadorenho a forte candidato a uma vaga na prisão. Lembra algum personagem de algum país? Não: as acusações a Funes envolvem só US$ 600 mil. Como diriam seus amigos, dinheiro de pinga.

Salvem-se os bons
Há ainda outras coisas em El Salvador diferentes das de outros países. Lá, em um ano e pouco de investigações, o ex-presidente corre risco de prisão. No Brasil, de março de 2014 até hoje, foram abertos processos no Supremo contra 54 parlamentares. Desses, dois viraram réus. Quanto tempo se passou do desastre até a identificação dos donos do jatinho utilizado em campanha por Eduardo Campos?

O tempo passa
O ministro do Supremo Teori Zavascki tinha retirado da pauta, por causa do impeachment, a denúncia de longa data contra a senadora Gleisi Hoffmann e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo. Agora o caso voltou à tona: perto do fim do mês, o caso deve entrar em julgamento.

Artilharia pesada
Emílio Odebrecht conversou longamente com promotores da Lava Jato, em Curitiba. Era o passo que faltava para a delação premiada. A Odebrecht entra no jogo com o filho do dono, Marcelo, em companhia de 60 executivos de porte. Mais letal ainda, trata-se de empresa organizada. Tem tudo registrado, cada propina, paga a quem, de que maneira, entregue em que lugar. Só falta (se faltar) o número de série de cada nota.

O sucesso e o declínio
Há um ano, Eduardo Cunha era um dos homens mais poderosos do Brasil. Botou o governo na parede, enquadrou a tal base aliada e comandou o processo político que levou ao impeachment. Mas seu telhado de precioso vidro suíço, Verre au Pishoulec, não resistiu aos temporais e Cunha foi cassado. Na sessão em que caiu, dos 469 deputados presentes, cinco o cumprimentaram. E o placar foi de 450 x 10 contra ele, com nove abstenções. Agora, ele está à disposição da Justiça de primeira instância, que deverá julgar dois inquéritos que estavam no Supremo. Enfrenta outros seis inquéritos, um pedido de abertura de investigações, uma ação cautelar com pedido de prisão, uma ação de improbidade. Dos dois inquéritos que estavam no STF, um tem tudo para ser enviado ao juiz Sérgio Moro.

O poeta é um fingidor
Renan Calheiros, presidente do Senado e companheiro de partido de Cunha, comentou cautelosamente a cassação – afinal, responde a 12 inquéritos no Supremo – citando provérbios e frases de sucessos musicais, como Afasta de Mim Esse Cálice, de Chico Buarque e Gil, inspirado nos Evangelhos, e Quem Planta Vento Colhe Tempestades, com base na Bíblia (Provérbios, 22). Aos leitores mais maldosos: não, ele não citou o sucesso Reunião de Bacanas, de Ary do Cavaco e Bebeto di São João. Lembra? Começa com “se gritar pega-ladrão/ Não fica um, meu irmão (...)”  




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