Cinéfilo confesso, o artista plástico Neto Sansone, 37 anos, fazia paralelo entre cenas do cinema e pinturas. É deste encontro, povoado por imagens de mitos femininos, que abre hoje a exposição "Divas - Jogo de Armar, Jogo de Amar" no Espaço Cultural Citi, em São Paulo.

Explorar semelhanças entre imagens que possibilitam diálogo imediato na relação entre as duas artes é o objetivo da exposição, que reúne 17 obras de grande formato (1,50m x 3m), trabalhadas com tinta acrílica.

Nas telas, ficam dispostas lado a lado a loira de Roy Lichtenstein e a atriz Janet Leigh em cena do clássico de Hitchcock, "Psicose". O mesmo acontece com o famoso quadro "As Meninas", de Velázquez, e a atriz Shirley Temple, estrela mirim dos anos 1930.

Para o curador Jacob Klintowitz, Sansone mostra equivalência de modelos platônicos e ideais. "Shirley, quando criança, e "As Meninas" são diferentes, mas representações ideiais de infância", exemplifica.

Em outras obras, Sansone constrói a memória de sua emoção. "Utiliza para isto a sombra da mulher amada com a qual nunca esteve, mas que sempre esteve nele como modelo no plano das ideias perfeitas", afirma Klintowitz em material de divulgação.

Todas são imagens icônicas. "Mostro cenas gravadas no imaginário. Já fazem parte da nossa vida", afirma o artista, que despe as personagens das cores originais e as pinta em cinza, preto e branco. "São muitas tonalidades. É maneira de dizer que ele está trabalhando com o símbolo, com a irrealidade", analisa o curador.

Sansone já estava em fase de pintar monocromático, mas a escolha não foi mera sequência. "Você consegue enxergar melhor as semelhanças quando o contexto não é colorido", aponta.

Se deixasse para expor as obras assim que todas as relações fossem representadas, a mostra não teria abertura. "Se eu continuasse, não teria fim", aponta.

Dependendo da época, Sansone assiste pelo menos a um filme por dia. "Gosto desde filmes de arte até o pastelão que parece idiota. O que importa é trazer emoção", conta. E completa: "Reflete o estado de espírito".

Esta não é a primeira vez que Sansone trabalha com a representação de mitos femininos. Duas mostras realizadas em São Paulo, uma no MuBE e outra na Cultural Blue Life, já abordaram o tema: divas distintas convivem em harmonia em outro universo, as telas de Sansone.

Segundo o artista, o título "Divas - Jogo de Armar, Jogo de Amar" comporta inúmeros significados. "É uma brincadeira fonética. Deixo a surpresa para cada pessoa". Klintowitz arrisca: "É uma declaração de amor ao feminino".

Divas - Jogo de Armar, Jogo de Amar. Exposição. No Espaço Cultural Citi - Avenida Paulista, 1.111, São Paulo. Tel.: 4009-3000. Abre hoje. Visitação: segunda a sexta-feira, das 9h às 19h; aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h. Entrada franca. Até 25 de março.