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Mais dúvidas do que certezas
Beto Silva
19/04/2016 | 07:00
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Meu pai é um pernambucano sofrido. Passou necessidades. Com 20 anos, veio para São Paulo tentar a sorte. Conseguiu. Sustentou sua família com pouco, mas com dignidade. Em 1989, ele votou convicto em Fernando Collor de Mello. Dizia que o Brasil iria melhorar. A inflação que corroía o bolso e a corrupção que sugava a esperança seriam exterminadas do sistema político, acreditava. Demorou dois anos para ele ver que estava errado. No dia 17 de abril de 2016, estava eu com meu filho de 9 meses no colo, em frete à televisão, quando o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), às 23h07, deu o voto que garantiu a continuidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT). “Sim, pelo futuro”, bradou o tucano. Minha filha, de 2 anos e 7 meses, me perguntou na sequência: “Papai, o que é esse barulho?”. Tratavam-se de fogos, buzinas e gritos da vizinhança. Tentei explicar a ela que estávamos diante de um momento histórico, que influenciaria em nossas vidas daqui para frente. Para o bem ou para o mal. Não sei se ela entendeu. Não sei se eu entendi. A indagação foi de uma criança que brincava com sua boneca, dentro do seu quarto. Um espaço só dela na casa dos pais, coisa que eu nunca tive, coisa que o avô dela sequer sonhava. Retrato de uma família humilde, que ascendeu diante da queda da ditadura, da redemocratização, dos aprendizados e das conquistas republicanas, do plano real, dos projetos sociais, da transferência de renda, do maior número de escolas técnicas e de universidades públicas, da melhor estruturação da Saúde, do crédito acessível, da maior renda, do fortalecimento das instituições, da crença dos investidores no mercado brasileiro. Foi com meu filho no colo, com o futuro nos meus braços, que eu refleti sobre tudo isso. “O que será de nós agora?”, pensei. Com ou sem Dilma, com Temer (ou sem ele?), com Cunha (ou sem ele?)... O que mudará? Tenho hoje muito mais dúvidas do que as certezas que meu pai tinha 25 anos atrás. O barulho que incomodava minha filha lá fora naquela noite de domingo era muito maior dentro da minha cabeça. Eu olhava para os dois e pensava em Ghandi: “O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente”. Lembrava de Shakespeare: “O passado e o futuro parecem-nos sempre melhores; o presente, sempre pior”. Inspirava-me em Tomas Jefferson: “Gosto mais dos sonhos do futuro do que da história do passado”. Ancorava-me em Charlie Chaplin. “Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice”. Vamos sonhar! Vamos lutar!


BASTIDORES

Zé Cunha?
A sessão de ontem da Câmara de Ribeirão Pires foi marcada, outra vez, por bate-boca entre vereadores. Tudo começou quando o presidente da Casa, José Nelson de Barros (PSD), cobrou presença do vereador Gabriel Roncon (PTB) na plenária extraordinária da semana passada. Iniciou-se ali a discussão. Destaque para os ataques sofridos por Zé Nelson, acusado pelos colegas de segurar o andamento da CPI da Saúde. “É o Zé Cunha”, disparou Rubens Fernandes da Silva, o Rubão (PMDB), ao compará-lo com o comandante da Câmara Federal.

Na Rede
Ex-dirigentes do Psol de São Caetano, Thiago Cavallini e Renan Celestino assinaram filiação na Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva. Cavallini, que era presidente da executiva municipal socialista, disse que tentará vaga na Câmara. O desafio será montar uma boa chapa para atingir o coeficiente eleitoral e eleger ao menos um vereador. A saída, no momento, é se coligar com um partido mais bem estruturado para assegurar o número mínimo de votos. A pergunta é: qual?

Resistência

O PT de Santo André possui 25 pré-candidatos a vereador. A chapa pode ter até 32. Estão abertas sete vagas para partidos coligados. O PSD, por exemplo, que tem José de Araújo como principal nome. A bancada petista, formada por cinco parlamentares, já demonstrou que não quer a aliança, pois tiraria uma cadeira da sigla. Será que vai dar liga?  




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